Livro de Alma (1)

FILHO DE ALMA
Relato de Alma, que era filho de Alma e o primeiro juiz supremo do povo de Néfi e também o sumo sacerdote da Igreja. Um relato do governo dos juízes e das guerras e contendas do povo. E também o relato de uma guerra entre nefitas e lamanitas, segundo o registro de Alma, o primeiro juiz supremo.

CAPÍTULO 1
Neor ensina falsas doutrinas, organiza uma igreja, introduz artimanhas sacerdotais e mata Gideão—Neor é executado por seus crimes—Artimanhas sacerdotais e perseguições propagam-se entre o povo—Os sacerdotes trabalham para seu próprio sustento, o povo cuida dos pobres e a Igreja prospera. Aproximadamente 91–88 a.C.

  1 ORA, aconteceu que no primeiro ano em que os juízes governaram o povo de Néfi, e daí em diante, tendo o rei Mosias ido pelo caminho de toda a Terra, combatido um bom combate, andado retamente diante de Deus, não tendo deixado ninguém para reinar em seu lugar; não obstante, ele estabelecera leis e elas eram reconhecidas pelo povo; portanto tinham a obrigação de submeter-se às leis que ele havia formulado.
  2 E aconteceu que no primeiro ano do governo de Alma como juiz, foi-lhe apresentado um homem para ser julgado, um homem de grande estatura e notável pela sua grande força.
  3 E ele saíra pregando ao povo o que chamava de palavra de Deus, opondo-se à igreja; declarando ao povo que todos os sacerdotes e mestres deveriam tornar-se populares; e que não deveriam trabalhar com as próprias mãos, mas deveriam ser sustentados pelo povo.
  4 E ele também testificou ao povo que toda a humanidade seria salva no último dia e que não precisariam temer nem tremer, mas que podiam levantar a cabeça e regozijar-se; porque o Senhor havia criado todos os homens e também havia redimido todos os homens; e, no fim, todos os homens teriam vida eterna.
  5 E aconteceu que tanto pregou estas coisas que muitos acreditaram em suas palavras; e foram tantos, que começaram a sustentá-lo e a dar-lhe dinheiro.
  6 E ele começou a exaltar-se no orgulho de seu coração e a usar vestimentas custosas, sim, e até começou a organizar uma igreja de acordo com a sua pregação.
  7 E aconteceu que enquanto andava assim pregando aos que acreditavam em suas palavras, encontrou um homem que pertencia à igreja de Deus, sim, precisamente um de seus mestres, e começou a discutir com ele asperamente, com o fim de afastar o povo da igreja; mas o homem opôs-lhe resistência, advertindo-o com as palavras de Deus.
  8 Ora, esse homem chamava-se Gideão; e fora ele quem servira de instrumento nas mãos de Deus para livrar do cativeiro o povo de Lími.
  9 Ora, porque Gideão lhe opôs resistência com as palavras de Deus, ele encolerizou-se contra Gideão e, tendo sacado da espada, começou a golpeá-lo. Ora, tendo Gideão idade avançada, não pôde resistir aos golpes; foi, portanto, morto pela espada.
  10 E o homem que o havia matado foi aprisionado pelo povo da igreja e levado à presença de Alma para ser julgado pelos crimes que cometera.
  11 E aconteceu que estando ele diante de Alma, defendeu-se com muita ousadia.
  12 Mas Alma disse-lhe: Eis que esta é a primeira vez que artimanhas sacerdotais foram introduzidas no meio deste povo. E eis que tu não somente és culpado de artimanhas sacerdotais, mas também de teres tratado de impô-las pela espada; e se tais artimanhas tivessem sido impostas a este povo, teriam acarretado a sua total destruição.
  13 E fizeste correr o sangue de um homem justo, sim, um homem que muito bem fez entre este povo; e se te poupássemos, o sangue dele recairia sobre nós como vingança.
  14 Estás, portanto, condenado à morte, de acordo com a lei que nos foi dada por Mosias, nosso último rei, a qual foi reconhecida por este povo; portanto este povo deve respeitar a lei.
  15 E aconteceu que o levaram, e seu nome era Neor, e conduziram-no até o alto da colina de Mânti e lá ele foi obrigado a reconhecer, ou melhor, reconheceu entre os céus e a Terra que o que ensinara ao povo era contra a palavra de Deus; e ali sofreu uma ignominiosa morte.
  16 Não obstante, isso não pôs fim à difusão de artimanhas sacerdotais na terra; porque havia muitos que gostavam das coisas vãs do mundo e continuavam a pregar falsas doutrinas; e isto faziam por causa de riquezas e honrarias.
  17 No entanto não se atreviam a mentir, por temor à lei, pois os mentirosos eram punidos, se descobertos; conseqüentemente alegavam pregar de acordo com a sua crença; e a lei não tinha poder contra homem algum por causa de sua crença.
  18 E não se atreviam a furtar, por medo da lei, pois seriam punidos; nem se atreviam a roubar nem a assassinar, pois aquele que assassinasse seria punido com a morte.
  19 Mas aconteceu que todos os que não pertenciam à igreja de Deus começaram a perseguir aqueles que pertenciam à igreja de Deus e que haviam tomado sobre si o nome de Cristo.
  20 Sim, eram perseguidos e afligidos com toda sorte de palavras e isto por causa de sua humildade; porque não se exaltavam a seus próprios olhos e porque partilhavam a palavra de Deus, uns com os outros, sem dinheiro e sem preço.
  21 Ora, havia entre o povo da igreja uma lei severa que proibia a qualquer homem que pertencesse à igreja perseguir aqueles que não pertencessem à igreja; e proibia perseguições entre eles mesmos.
  22 Não obstante, havia muitos entre eles que começaram a tornar-se orgulhosos e a contender acaloradamente com seus adversários, chegando a bater-lhes; sim, golpeavam-se uns aos outros com seus punhos.
  23 Ora, isto aconteceu no segundo ano do governo de Alma, causando à igreja muitas aflições; sim, isto foi causa de muitas tribulações na igreja.
  24 Porque o coração de muitos se endureceu e seus nomes foram riscados, de modo que não mais foram lembrados entre o povo de Deus. E também muitos se afastaram do meio deles.
  25 Ora, isso era uma grande provação para os que permaneciam firmes na fé; não obstante, foram firmes e inabaláveis na obediência aos mandamentos de Deus e suportaram com paciência as perseguições que se acumularam sobre eles.
  26 E quando os sacerdotes deixavam seu trabalho para ensinar ao povo a palavra de Deus, o povo também deixava seus trabalhos para ouvir a palavra de Deus. E quando o sacerdote terminava de ensinar-lhes a palavra de Deus, voltavam todos diligentemente para seus trabalhos; e o sacerdote não se julgava superior a seus ouvintes, porque o pregador não era melhor que o ouvinte nem o mestre melhor que o discípulo; e assim eram todos iguais e todos trabalhavam, cada um de acordo com suas forças.
  27 E eles repartiam os seus bens com os pobres e os necessitados e os doentes e os aflitos, cada um de acordo com o que possuía; e não usavam vestimentas custosas; contudo, eram asseados e formosos.
  28 E assim eles organizaram os negócios da igreja; e assim começaram a ter paz contínua novamente, apesar de todas as perseguições.
  29 E então, graças à solidez da igreja, começaram a enriquecer extremamente, tendo abundância de tudo que lhes era necessário, abundância de rebanhos e manadas e de animais cevados de toda espécie; e também abundância de grãos e de ouro e de prata e de coisas preciosas; e abundância de sedas e de finos tecidos de linho e de toda espécie de bons tecidos simples.
  30 E assim, em sua prosperidade, não deixavam de atender a quem quer que estivesse nu ou faminto ou sedento ou doente ou que não tivesse sido alimentado; e o seu coração não estava nas riquezas; portanto eram liberais com todos, tanto velhos como jovens, tanto escravos como livres, tanto homens como mulheres, pertencessem ou não à igreja, não fazendo acepção de pessoas no que se referia aos necessitados.
  31 E assim prosperaram e tornaram-se muito mais ricos que aqueles que não pertenciam a sua igreja.
  32 Pois aqueles que não pertenciam a sua igreja entregavam-se a feitiçarias e a idolatria ou ócio; e a tagarelices e a invejas e contendas, usando vestimentas custosas, exaltando-se segundo o orgulho de seus próprios olhos; perseguindo, mentindo, furtando, roubando, cometendo libertinagens e homícidios e toda espécie de iniquidades; não obstante, a lei era aplicada a todos os que a transgredissem, tanto quanto possível.
  33 E aconteceu que, aplicando-se-lhes assim a lei, cada um sendo castigado de acordo com o que fizera, tornaram-se mais tranqüilos e não se atreviam a cometer iniquidades abertamente; o povo de Néfi teve, portanto, muita paz até o quinto ano do governo dos juízes.

LIVRO DE ALMA
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CAPÍTULO 2
Anlici procura tornar-se rei e é rejeitado pela voz do povo—Seus seguidores fazem-no rei—Os anlicitas fazem guerra contra os nefitas e são derrotados—Lamanitas e anlicitas unem forças e são derrotados—Anlici é morto por Alma. Aproximadamente 87 a.C.

  1 E aconteceu que no começo do quinto ano do seu governo, o povo começou a contender; porque um certo homem chamado Anlici, sendo um homem muito astuto, sim, um homem sábio quanto à sabedoria do mundo e pertencente à ordem do homem que matara Gideão com a espada e fora executado de acordo com a lei.
  2 Ora, este Anlici havia, por sua astúcia, atraído muita gente; e eram tantos que começaram a tornar-se muito poderosos; e começaram a esforçar-se para fazer de Anlici rei do povo.
  3 Ora, isso foi alarmante para o povo da igreja, como também para todos os que não haviam sido atraídos pelas persuasões de Anlici; pois sabiam que, de acordo com a lei, estas coisas deveriam ser resolvidas pela voz do povo.
  4 Portanto, se fosse possível a Anlici vencer pela voz do povo, ele, sendo um homem iníquo, privá-los-ia de seus direitos e privilégios na igreja; pois era seu intento destruir a igreja de Deus.
  5 E aconteceu que o povo se reuniu em toda a terra, cada um segundo a sua opinião, a favor ou contra Anlici, em grupos separados, havendo muitas disputas e grandes contendas entre eles.
  6 E assim se reuniram para expressar suas opiniões sobre o assunto; e apresentaram-nas aos juízes.
  7 E aconteceu que a voz do povo foi contrária a Anlici, de modo que não foi proclamado rei.
  8 Ora, isso encheu de alegria o coração dos que estavam contra ele, mas Anlici incitou os que estavam a seu favor a encolerizarem-se contra os que não o apoiavam.
  9 E aconteceu que se reuniram e consagraram Anlici como rei.
  10 Ora, quando Anlici foi proclamado rei, ordenou-lhes que pegassem em armas contra seus irmãos; e isto fez para poder subjugá-los.
  11 Ora, o povo de Anlici se distinguia pelo nome de Anlici, sendo eles chamados anlicitas; e os outros eram chamados nefitas ou povo de Deus.
  12 Os nefitas, portanto, sabendo do intento dos anlicitas, prepararam-se para enfrentá-los; sim, armaram-se com espadas e com cimitarras e com arcos e com flechas e com pedras e com fundas e com todo tipo de armas de guerra de toda espécie.
  13 E assim estavam preparados para enfrentar os anlicitas, quando chegassem. E foram nomeados capitães e capitães-mores e capitães-chefes, de acordo com o seu número.
  14 E aconteceu que Anlici armou seus homens com todo tipo de armas de guerra de toda espécie; e também nomeou chefes entre seu povo, para conduzi-los à guerra contra seus irmãos.
  15 E aconteceu que os anlicitas chegaram à colina de Aniú, que ficava a leste do rio Sidon, que corria perto da terra de Zaraenla; e aí começaram a guerrear os nefitas.
  16 Ora, sendo Alma o juiz supremo e governador do povo de Néfi, subiu portanto com seu povo, sim, com seus capitães e capitães-chefes, sim, à frente de seus exércitos, para guerrear os anlicitas.
  17 E começaram a matar os anlicitas na colina a leste de Sidon. E os anlicitas lutaram contra os nefitas com grande força, tanto que muitos nefitas caíram diante dos anlicitas.
  18 Não obstante, o Senhor fortaleceu a mão dos nefitas, de modo que mataram os anlicitas em tão grande carnificina que estes começaram a fugir.
  19 E aconteceu que os nefitas perseguiram os anlicitas durante todo aquele dia e mataram-nos em grande carnificina, tanto que foram mortos doze mil quinhentos e trinta e dois anlicitas; e os nefitas perderam seis mil quinhentas e sessenta e duas almas.
  20 E aconteceu que Alma, quando já não pôde mais perseguir os anlicitas, fez o povo armar suas tendas no vale de Gideão, nome que havia sido dado por causa daquele Gideão que fora morto pela espada de Neor; e nesse vale os nefitas armaram as tendas para passar a noite.
  21 E Alma enviou espias para seguirem os remanescentes dos anlicitas, a fim de conhecer seus planos e conspirações, para assim defender-se deles e evitar que seu povo fosse destruído.
  22 Ora, os que ele tinha enviado para espionarem o acampamento dos anlicitas chamavam-se Zerã e Amnor e Mânti e Límer; estes são os que foram, com seus homens, espionar o acampamento dos anlicitas.
  23 E aconteceu que no dia seguinte voltaram ao acampamento dos nefitas com grande pressa, tomados de grande assombro e com muito medo, dizendo:
  24 Eis que seguimos o acampamento dos anlicitas e, para nosso grande assombro, vimos na terra de Minon, acima da terra de Zaraenla, no caminho da terra de Néfi, uma numerosa hoste de lamanitas; e eis que os anlicitas se juntaram a eles;
  25 E estão atacando nossos irmãos naquela terra; e estes estão fugindo deles com seus rebanhos e suas esposas e seus filhos, em direção a nossa cidade; e a menos que nos apressemos, tomarão nossa cidade; e nossos pais e nossas esposas e nossos filhos serão mortos.
  26 E aconteceu que o povo de Néfi tomou suas tendas e partiu do vale de Gideão em direção a sua cidade, que era a cidade de Zaraenla.
  27 E eis que quando atravessavam o rio Sidon, os lamanitas e os anlicitas, quase tão numerosos quanto as areias do mar, caíram sobre eles para destruí-los.
  28 Todavia os nefitas foram fortalecidos pela mão do Senhor, tendo orado fervorosamente para que ele os livrasse das mãos de seus inimigos; portanto, o Senhor ouviu-lhes o clamor e fortaleceu-os; e os lamanitas e os anlicitas caíram diante deles.
  29 E aconteceu que Alma lutou contra Anlici de espada em punho, corpo a corpo; e lutaram com grande energia um contra o outro.
  30 E aconteceu que Alma, sendo um homem de Deus e muito exercitado na , clamou, dizendo: Ó Senhor, tem misericórdia e poupa-me a vida, a fim de que eu sirva de instrumento em tuas mãos para salvar e preservar este povo.
  31 Ora, tendo Alma dito estas palavras, lutou novamente contra Anlici; e foi fortalecido, de modo que matou Anlici com a espada.
  32 E lutou também contra o rei dos lamanitas; o rei dos lamanitas, porém, fugiu da presença de Alma e enviou seus guardas para lutarem contra Alma.
  33 Mas Alma, juntamente com seus guardas, lutou contra os guardas do rei dos lamanitas até matá-los e fazê-los retroceder.
  34 E assim limpou o terreno, ou melhor, a ribanceira que ficava no lado oeste do rio Sidon, jogando nas águas do Sidon os corpos dos lamanitas que haviam sido mortos, para que seu povo tivesse espaço para atravessar e lutar contra os lamanitas e os anlicitas no lado oeste do rio Sidon.
  35 E aconteceu que quando todos haviam atravessado o rio Sidon, os lamanitas e os anlicitas começaram a fugir deles, não obstante serem tão numerosos que nem podiam ser contados.
  36 E fugiram dos nefitas em direção ao deserto que ficava a oeste e ao norte, além das fronteiras da terra; e foram perseguidos e mortos com todo o vigor pelos nefitas.
  37 Sim, foram atacados por todos os lados; e foram mortos e rechaçados até serem dispersos no oeste e no norte, até alcançarem o deserto que era chamado Hermontes; e essa era a parte do deserto infestada por animais selvagens e vorazes.
  38 E aconteceu que muitos pereceram no deserto devido a seus ferimentos e foram devorados pelas feras e também pelos abutres do ar; e seus ossos foram encontrados e amontoados sobre a terra.

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CAPÍTULO 3
Os anlicitas haviam feito um sinal em si mesmos, de acordo com a palavra profética—Os lamanitas haviam sido amaldiçoados por sua rebelião—Os homens trazem sobre si as próprias maldições—Os nefitas derrotam outro exército lamanita. Aproximadamente 87–86 a.C.

  1 E aconteceu que os nefitas que não haviam sido mortos pelas armas de guerra, depois de haverem enterrado aqueles que pereceram; ora, o número de mortos não foi contado, por causa de sua grande quantidade, havendo terminado de enterrar seus mortos, voltaram todos para suas terras e suas casas e suas esposas e seus filhos.
  2 Ora, muitas mulheres e crianças haviam sido mortas pela espada e também muitos de seus rebanhos e manadas; e também muitos de seus campos de cereais foram destruídos, porque foram pisoteados por hostes de homens.
  3 E então todos os lamanitas e anlicitas que haviam sido mortos nas ribanceiras do rio Sidon foram jogados nas águas do Sidon; e eis que seus ossos estão nas profundezas do mar e eles são muitos.
  4 E os anlicitas distinguiam-se dos nefitas porque haviam marcado a fronte de vermelho, à moda dos lamanitas; mas não haviam rapado a cabeça como os lamanitas.
  5 Ora, a cabeça dos lamanitas era rapada; e andavam nus, com exceção de uma pele que lhes cingia os lombos e também da armadura que os cingia; e de seus arcos e suas flechas e suas pedras e suas fundas e assim por diante.
  6 E a pele dos lamanitas era escura, por causa do sinal que havia sido posto em seus pais como um anátema pela transgressão e rebeldia deles contra seus irmãos, que eram Néfi, Jacó e José e Sam, que foram homens justos.
  7 E os irmãos procuraram destruí-los, sendo portanto amaldiçoados; e o Senhor pôs-lhes uma marca, sim, em Lamã e Lemuel e também nos filhos de Ismael e nas mulheres ismaelitas.
  8 E isto foi feito para que sua semente pudesse ser distinguida da semente de seus irmãos, para que assim o Senhor Deus preservasse seu povo, a fim de que não se misturasse nem acreditasse em tradições incorretas que causariam sua destruição.
  9 E aconteceu que aqueles que misturaram sua semente com a dos lamanitas fizeram recair sobre sua descendência igual maldição.
  10 Portanto, os que se deixaram levar pelos lamanitas foram chamados por esse nome e foi-lhes posto um sinal.
  11 E aconteceu que aqueles que não acreditaram nas tradições dos lamanitas, mas acreditaram nos registros que foram trazidos da terra de Jerusalém, assim como nas tradições de seus pais, que eram corretas, e que acreditaram nos mandamentos de Deus e guardaram-nos, foram chamados nefitas ou povo de Néfi, daquele tempo em diante.
  12 E foram eles que guardaram os verdadeiros registros de seu povo, como também os dos lamanitas.
  13 Agora voltaremos aos anlicitas, pois também lhes foi posto um sinal; sim, eles mesmos marcaram a fronte de vermelho.
  14 Assim foi cumprida a palavra de Deus, pois estas são as palavras que ele disse a Néfi: Eis que amaldiçoei os lamanitas e marcá-los-ei, para que eles e seus descendentes sejam separados de ti e de tua semente de hoje em diante e para sempre, a menos que se arrependam de suas iniquidades e voltem-se para mim, a fim de que eu tenha misericórdia deles.
  15 E também: Porei um sinal naqueles que misturarem sua semente com teus irmãos, para que também sejam amaldiçoados.
  16 E também: Porei um sinal em todo aquele que lutar contra ti e tua semente.
  17 E também te digo que aquele que se apartar de ti já não será chamado tua semente; e abençoar-te-ei, assim como a todos os que forem chamados tua semente, de hoje em diante e para sempre; e estas foram as promessas que o Senhor fez a Néfi e sua semente.
  18 Ora, os anlicitas não sabiam que estavam cumprindo as palavras de Deus quando começaram a marcar a fronte; não obstante, haviam-se rebelado abertamente contra Deus; foi, portanto, necessário que a maldição caísse sobre eles.
  19 Ora, quisera que entendêsseis que eles trouxeram sobre si próprios a maldição; e assim, todo homem que é amaldiçoado traz sobre si a própria condenação.
  20 Ora, aconteceu que alguns dias depois da batalha travada na terra de Zaraenla pelos lamanitas e anlicitas, outro exército dos lamanitas caiu sobre o povo de Néfi, no mesmo lugar em que o primeiro exército enfrentara os anlicitas.
  21 E aconteceu que foi enviado um exército para expulsá-los de sua terra.
  22 Ora, o próprio Alma, estando ferido, não subiu dessa vez para batalhar contra os lamanitas.
  23 Mas enviou um numeroso exército contra eles; e eles subiram e mataram muitos dos lamanitas, rechaçando o restante deles para fora das fronteiras de sua terra.
  24 E voltaram e começaram a estabelecer a paz na terra, não sendo mais molestados por seus inimigos durante algum tempo.
  25 Ora, todas estas coisas se deram, sim, todas estas guerras e contendas começaram e terminaram durante o quinto ano do governo dos juízes.
  26 E, em um ano, milhares e dezenas de milhares de almas foram enviadas para o mundo eterno, a fim de colherem suas recompensas de acordo com suas obras, tivessem sido elas boas ou tivessem sido más, para colherem felicidade eterna ou miséria eterna, de acordo com o espírito a que desejaram obedecer, fosse um bom ou um mau espírito.
  27 Porque todo homem recebe recompensas daquele a quem decide obedecer; e isto de acordo com as palavras do espírito de profecia; portanto, que seja conforme a verdade. E assim terminou o quinto ano do governo dos juízes.

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CAPÍTULO 4
Alma batiza milhares de conversos—A iniquidade infiltra-se na Igreja e o progresso da Igreja é obstruído—Nefia é nomeado juiz supremo—Alma, como sumo sacerdote, dedica-se ao ministério. Aproximadamente 86–83 a.C.

  1 Ora, aconteceu que no sexto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi, não houve contendas nem guerras na terra de Zaraenla;
  2 Entretanto o povo estava aflito, sim, grandemente aflito pela perda de seus irmãos e também pela perda de seus rebanhos e manadas; e também pela perda de seus campos de cereais, que haviam sido pisados e destruídos pelos lamanitas.
  3 E tão grandes eram suas aflições, que todos tinham motivo para lamentar-se; e acreditavam que os juízos de Deus haviam caído sobre eles, devido a suas iniquidades e abominações; por essa razão foi despertada neles a lembrança de seus deveres.
  4 E começaram a organizar a igreja mais plenamente; sim, e muitos foram batizados nas águas do Sidon, unindo-se à igreja de Deus; sim, foram batizados pela mão de Alma, que havia sido consagrado sumo sacerdote do povo da igreja pela mão de seu pai, Alma.
  5 E aconteceu que no sétimo ano do governo dos juízes, aproximadamente três mil e quinhentas almas uniram-se à igreja de Deus e foram batizadas. E assim terminou o sétimo ano em que os juízes governaram o povo de Néfi; e houve paz contínua durante todo aquele tempo.
  6 E aconteceu, no oitavo ano do governo dos juízes, que o povo da igreja começou a tornar-se orgulhoso, por causa de suas excessivas riquezas e de suas finas sedas e de seus finos tecidos de linho; e pelos seus muitos rebanhos e manadas; e seu ouro e sua prata e toda espécie de coisas preciosas que haviam obtido pelo seu trabalho; e por causa de tudo isso engrandeceram-se a seus próprios olhos e começaram a usar vestimentas muito luxuosas.
  7 Ora, isto foi motivo de grande aflição para Alma, sim, e para muitos que Alma consagrara como mestres e sacerdotes e élderes da igreja; sim, muitos deles ficaram grandemente contristados com a iniquidade que começara a haver entre seu povo.
  8 Porque viram e observaram com grande tristeza que o povo da igreja começava a engrandecer-se no orgulho de seus olhos e a voltar o coração para as riquezas e para as coisas vãs do mundo; que eles começavam a desdenhar uns dos outros e a perseguir os que não acreditavam segundo sua própria vontade e prazer.
  9 E assim, durante este oitavo ano do governo dos juízes, começou a haver grandes contendas entre o povo da igreja; sim, havia inveja e disputas e malícia e perseguições e orgulho, excedendo até o orgulho daqueles que não pertenciam à igreja de Deus.
  10 E assim terminou o oitavo ano do governo dos juízes; e a iniquidade na igreja era uma grande pedra de tropeço para aqueles que a ela não pertenciam; e assim o progresso da igreja começou a diminuir.
  11 E aconteceu que no começo do nono ano, Alma viu a iniquidade na igreja e viu também que o exemplo da igreja principiava a levar os incrédulos de uma iniquidade a outra, causando assim a destruição do povo.
  12 Sim, viu grande desigualdade entre eles, alguns se enchendo de orgulho, desprezando os outros, virando as costas aos necessitados e aos nus e aos famintos e aos sedentos e aos doentes e aflitos.
  13 Ora, isso era um grande motivo de lamentação para o povo, enquanto outros se humilhavam, socorrendo os que tinham necessidade de seu socorro, repartindo seus recursos com os pobres e necessitados, alimentando os famintos e sofrendo toda espécie de aflições por amor a Cristo que haveria de vir, segundo o espírito de profecia;
  14 Aguardando ansiosamente aquele dia, conservando assim a remissão de seus pecados; estando cheios de grande alegria por causa da ressurreição dos mortos, de acordo com a vontade e poder e libertação de Jesus Cristo das ligaduras da morte.
  15 E então aconteceu que Alma, tendo visto as aflições dos humildes seguidores de Deus e as perseguições que lhes eram infligidas pelo resto de seu povo; e vendo toda a sua desigualdade, começou a ficar muito triste; mas a força do Senhor não o abandonou.
  16 E ele escolheu um homem sábio entre os élderes da igreja e deu-lhe poder, de acordo com a voz do povo, para que pudesse, segundo as leis que haviam sido dadas, decretar leis e fazê-las executar conforme a iniquidade e os crimes do povo.
  17 Ora, o nome desse homem era Nefia; e ele foi nomeado juiz supremo e ocupou a cadeira de juiz para julgar e governar o povo.
  18 Ora, Alma não lhe concedeu o ofício de sumo sacerdote da igreja, mas reservou para si próprio o ofício de sumo sacerdote; entregou, porém, a Nefia a cadeira de juiz.
  19 E assim fez para que ele mesmo pudesse pregar ao povo, ou seja, ao povo de Néfi, a palavra de Deus, a fim de que eles se lembrassem de seus deveres; e para poder, pela palavra de Deus, abater todo o orgulho e as artimanhas e todas as contendas que existiam entre seu povo, não vendo outro modo de reformá-los, a não ser pela força de um grande testemunho contra eles.
  20 E assim, no começo do nono ano em que os juízes governaram o povo de Néfi, Alma entregou a cadeira de juiz a Nefia e dedicou-se exclusivamente ao sumo sacerdócio da santa ordem de Deus, ao testemunho da palavra, de acordo com o espírito de profecia.

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Palavras que Alma, sumo sacerdote segundo a santa ordem de Deus, transmitiu ao povo nas suas cidades e povoados por toda a terra.
Abrangem o capítulo 5.

CAPÍTULO 5
Para obterem salvação, os homens devem arrepender-se e guardar os mandamentos, nascer de novo, purificar suas vestes por meio do sangue de Cristo, ser humildes, despir-se do orgulho e da inveja e praticar obras de retidão—O Bom Pastor chama o seu povo—Aqueles que praticam o mal são filhos do diabo—Alma testifica a veracidade de sua doutrina e ordena aos homens que se arrependam—Os nomes dos justos serão escritos no livro da vida. Aproximadamente 83 a.C.

  1 Ora, aconteceu que Alma começou a transmitir ao povo a palavra de Deus, primeiro na terra de Zaraenla e dali por toda a terra.
  2 E estas são as palavras que, segundo seu próprio relato, ele dirigiu ao povo da igreja que estava estabelecida na cidade de Zaraenla, dizendo:
  3 Eu, Alma, havendo sido consagrado por meu pai, Alma, como sumo sacerdote da igreja de Deus, tendo ele poder e autoridade de Deus para fazer estas coisas, eis que eu vos digo que ele começou a organizar uma igreja na terra que se achava nas fronteiras de Néfi; sim, na terra chamada terra de Mórmon; sim, e ele batizou seus irmãos nas águas de Mórmon.
  4 E eis que vos digo que eles foram salvos das mãos do povo do rei Noé pela misericórdia e poder de Deus.
  5 E eis que, depois disso, foram escravizados pelas mãos dos lamanitas no deserto; sim, digo-vos que estavam no cativeiro e novamente o Senhor os libertou da escravidão pelo poder de sua palavra; e fomos trazidos para esta terra e aqui começamos a organizar a igreja de Deus, também por toda esta terra.
  6 E agora, eis que vos digo, meus irmãos, vós, que pertenceis a esta igreja: Haveis conservado suficientemente na lembrança o cativeiro de vossos pais? Sim, e haveis conservado suficientemente na lembrança a misericórdia e paciência de Deus para com eles? E ainda mais, haveis conservado suficientemente na lembrança que ele livrou suas almas do inferno?
  7 Eis que ele lhes transformou o coração; sim, despertou-os de um profundo sono e eles despertaram para Deus. Eis que estavam em meio à escuridão; não obstante, suas almas foram iluminadas pela luz da palavra eterna; sim, estavam cingidos pelas ligaduras da morte e pelas correntes do inferno; e uma destruição eterna esperava-os.
  8 E agora vos pergunto, meus irmãos: Foram eles destruídos? Eis que vos digo que não; não o foram.
  9 E novamente pergunto: Foram rompidas as ligaduras da morte e soltas as correntes do inferno, que os cingiam? Digo-vos que sim; foram soltas e suas almas expandiram-se e cantaram o amor que redime. E digo-vos que estão salvos.
  10 E agora vos pergunto: Em que condições foram salvos? Sim, que fundamento tinham para esperar a salvação? Qual foi a causa de haverem sido libertados das ligaduras da morte, sim, e também das correntes do inferno?
  11 Eis que vos posso dizer: Não acreditou meu pai, Alma, nas palavras que foram transmitidas pela boca de Abinádi? E não foi ele um santo profeta? Não disse as palavras de Deus e nelas não acreditou meu pai, Alma?
  12 E em virtude de sua fé, verificou-se uma grande mudança em seu coração. Eis que vos digo que tudo isso é verdade.
  13 E eis que ele pregou a palavra a vossos pais e em seus corações também se verificou uma grande transformação; e eles humilharam-se e depositaram confiança no Deus verdadeiro e cvivo. E eis que foram fiéis até o fim; portanto foram salvos.
  14 E agora, eis que vos pergunto, meus irmãos da igreja: Haveis nascido espiritualmente de Deus? Haveis recebido sua imagem em vosso semblante? Haveis experimentado esta poderosa mudança em vosso coração?
  15 Exerceis fé na redenção daquele que vos criou? Olhais para o futuro com os olhos da fé e vedes este corpo mortal levantado em imortalidade e esta corrupção levantada em incorrupção, para apresentar-vos diante de Deus e serdes julgados de acordo com as obras feitas no corpo mortal?
  16 Digo-vos: Podeis imaginar ouvir a voz do Senhor dizendo-vos naquele dia: Vinde a mim, benditos, pois eis que vossas obras foram obras de retidão na face da Terra?
  17 Ou imaginais que podereis mentir ao Senhor naquele dia, dizendo: Senhor, nossas obras foram retas na face da Terra; e que ele vos salvará?
  18 Ou, de outra maneira, podeis imaginar-vos ante o tribunal de Deus, com a alma cheia de culpa e remorso, tendo uma lembrança de todas as vossas culpas? Sim, uma perfeita lembrança de todas as vossas iniquidades, sim, uma lembrança de que haveis desafiado os mandamentos de Deus?
  19 Pergunto-vos: Podereis naquele dia olhar para Deus com um coração puro e mãos limpas? Pergunto-vos: Podereis levantar os olhos, tendo a imagem de Deus gravada em vosso semblante?
  20 Pergunto-vos: Podereis pensar em ser salvos, quando vos haveis deixado subjugar pelo diabo?
  21 Digo-vos que sabereis naquele dia que não podeis ser salvos; pois ninguém pode ser salvo sem que suas vestimentas tenham sido lavadas até ficarem brancas; sim, suas vestimentas devem ser purificadas, até ficarem limpas de qualquer mancha, pelo sangue daquele de quem nossos pais falaram, o qual deverá vir para redimir o seu povo de seus pecados.
  22 E agora vos pergunto, meus irmãos: Como vos sentireis, se vos apresentardes perante o tribunal de Deus tendo vossas vestimentas manchadas de sangue e de toda espécie de imundície? O que testemunharão essas coisas contra vós?
  23 Eis que não testemunharão que sois assassinos, sim, e também que sois culpados de toda espécie de iniquidades?
  24 Eis que, meus irmãos, supondes vós que tal pessoa possa ter um lugar onde sentar-se no reino de Deus, com Abraão, com Isaque e com Jacó e também com todos os profetas, cujas vestimentas são limpas e imaculadas, puras e brancas?
  25 Digo-vos que não; a menos que façais de nosso Criador um mentiroso desde o princípio ou suponhais que ele seja um mentiroso desde o princípio, não podeis supor que esses possam ter um lugar no reino dos céus; mas serão expulsos, porque são os filhos do reino do diabo.
  26 E agora, eis que eu vos digo, meus irmãos, se haveis experimentado uma mudança no coração, se haveis sentido o desejo de cantar o cântico do amor que redime, eu perguntaria: Podeis agora sentir isso?
  27 Tendes-vos conservado inocentes diante de Deus? Poderíeis dizer, dentro de vós mesmos, se fôsseis chamados pela morte neste momento, que haveis sido suficientemente humildes? Que vossas vestimentas foram limpas e embranquecidas pelo sangue de Cristo, o qual virá para redimir seu povo de seus pecados?
  28 Eis que estais despidos de orgulho? Digo-vos que, se não o estais, não estais preparados para comparecer perante Deus. Eis que deveis preparar-vos rapidamente, pois o reino dos céus está próximo; e o que não estiver preparado não terá vida eterna.
  29 Eis que pergunto: Há alguém entre vós não despido de inveja? Digo-vos que esse não está preparado; e eu quisera que se preparasse rapidamente, pois a hora se aproxima e ele não sabe quando chegará o tempo; porque esse não se acha sem culpa.
  30 E novamente vos pergunto: Há alguém entre vós que zombe de seu irmão ou que acumule perseguições contra ele?
  31 Ai dele, pois não está preparado; e está próximo o tempo em que deve arrepender-se; do contrário não será salvo!
  32 Sim, ai de todos vós, que praticais a iniquidade; arrependei-vos, arrependei-vos, porque o Senhor Deus assim o disse!
  33 Eis que ele envia um convite a todos os homens, pois os braços de misericórdia lhes estão estendidos e ele diz: Arrependei-vos e receber-vos-ei.
  34 Sim, diz ele, vinde a mim e participareis do fruto da árvore da vida; sim, comereis e bebereis livremente do pão e da água da vida;
  35 Sim, vinde a mim e apresentai obras de retidão; e não sereis cortados e lançados ao fogo.
  36 Pois eis que é chegado o tempo em que aquele que não apresentar bons frutos, ou seja, aquele que não praticar obras de retidão, terá motivos para chorar e lamentar-se.
  37 Ó obreiros da iniquidade, vós que estais inchados com as coisas vãs do mundo, vós que professastes haver conhecido os caminhos da retidão e, não obstante, vos haveis perdido como ovelhas sem pastor, apesar de um pastor vos haver chamado e chamar-vos ainda, mas não quereis dar ouvidos a sua voz!
  38 Eis que vos digo que o bom pastor vos chama; sim, e em seu próprio nome vos chama, que é o nome de Cristo; e se não quereis dar ouvidos à voz do bom pastor, ao nome pelo qual sois chamados, eis que não sois as ovelhas do bom pastor.
  39 E agora, se não sois as ovelhas do bom pastor, de que rebanho sois? Eis que vos digo que o diabo é o vosso pastor e pertenceis a seu rebanho; e agora, quem pode negar isto? Eis que vos digo que quem isso negar é mentiroso e filho do diabo.
  40 Porque vos digo que tudo que é bom vem de Deus e tudo que é mau vem do diabo.
  41 Portanto, se um homem apresenta boas obras, ele dá ouvidos ao bom pastor e segue-o; mas quem apresenta obras más se torna filho do diabo, porque dá ouvidos a sua voz e segue-o.
  42 E quem assim procede deve receber dele o seu salário; por conseguinte, recebe como salário a morte quanto às coisas concernentes à retidão, estando morto para todas as boas obras.
  43 E agora, meus irmãos, quisera que me ouvísseis, porque falo com a energia de minha alma; pois eis que vos falei claramente, ou seja, de acordo com os mandamentos de Deus, para que não possais errar.
  44 Porque fui chamado para falar desta maneira, segundo a santa ordem de Deus, que está em Cristo Jesus; sim, fui ordenado a levantar-me e testificar a este povo as coisas que foram ditas por nossos pais concernentes às coisas que hão de vir.
  45 E isto não é tudo. Não supondes que eu próprio saiba destas coisas? Eis que vos testifico que sei que estas coisas de que falei são verdadeiras. E como supondes que eu tenho certeza de sua veracidade?
  46 Eis que eu vos digo que elas me foram esclarecidas por Deus. Eis que jejuei e orei durante muitos dias, a fim de saber estas coisas por mim mesmo. E agora creio que são verdadeiras, porque o Senhor Deus me encheu da sua sabedoria.
  47 E ainda mais, digo-vos que as palavras que foram ditas por nossos pais só podem ser verdadeiras, em conformidade com a vontade de Deus, o Pai, e seu Filho, Jesus, o Cristo.
  48 Digo-vos que sei, e não só por mim mesmo, que tudo quanto vos disser, concernente às coisas que hão de vir, é verdadeiro; e digo-vos que sei que Jesus Cristo virá; sim, o Filho, o Unigênito do Pai, cheio de graça e misericórdia e verdade. E eis que é ele quem vem para tirar os pecados do mundo, sim, os pecados de todos os que crêem firmemente em seu nome.
  49 E agora vos digo que esta é a ordem segundo a qual eu fui chamado, sim, para pregar a meus amados irmãos, sim, e a todos os que habitam a terra; sim, para pregar a todos, tanto velhos como jovens, tanto escravos como livres; sim, eu digo a vós, idosos, e também aos de meia-idade e à nova geração; sim, para declarar-lhes que devem arrepender-se e nascer de novo.
  50 E assim vos digo: Arrependei-vos todos vós, confins da Terra, porque o reino do céu está próximo; sim, o Filho de Deus vem em sua glória, em sua força, majestade, poder e domínio. Sim, meus amados irmãos, digo-vos que o espírito afirma: Eis a glória do Rei de toda a Terra; e também o Rei do céu muito em breve brilhará entre todos os filhos dos homens.
  51 E também me diz o espírito, sim, clama com voz potente, dizendo: Vai e dize a este povo: Arrependei-vos, porque, a menos que vos arrependais, não podereis, de modo algum, herdar o reino do céu.
  52 E torno a dizer-vos que o espírito afirma: Eis que o machado está posto à raiz da árvore; portanto toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e atirada ao fogo, sim, um fogo que não pode ser consumido, um fogo inextinguível. Ouvi e lembrai-vos de que o Santo o disse.
  53 E agora, meus amados irmãos, eu vos pergunto: Podeis refutar estas palavras? Sim, podeis pôr estas coisas de lado e pisar o Santo sob os pés? Sim, podeis inchar-vos com o orgulho de vosso coração? Sim, persistireis em usar vestimentas luxuosas e pôr o coração nas coisas vãs do mundo, nas vossas riquezas?
  54 Sim, persistireis em supor que sois uns melhores que os outros? Sim, persistireis na perseguição de vossos irmãos, que se humilham e seguem a santa ordem de Deus pela qual foram trazidos para esta igreja, tendo apresentando obras dignas de arrependimento?
  55 Sim, e persistireis em voltar as costas aos pobres e aos necessitados e a negar-lhes vossos bens?
  56 E finalmente, todos vós que persistis em vossa iniquidade, digo-vos que estes são os que serão cortados e lançados ao fogo, a menos que rapidamente se arrependam.
  57 E agora digo a todos vós que desejais seguir a voz do bom pastor: Afastai-vos dos iníquos, conservai-vos separados e não toqueis em suas coisas imundas; e eis que seus nomes serão apagados, a fim de que os nomes dos iníquos não sejam contados com os nomes dos justos, para que se cumpra a palavra de Deus, que diz: Os nomes dos iníquos não serão misturados com os nomes de meu povo;
  58 Porque os nomes dos justos serão escritos no livro da vida e a eles concederei uma herança a minha mão direita. E agora, meus irmãos, que tendes a dizer contra isto? Digo-vos que se vos manifestardes contra isto, não importa, pois a palavra de Deus deve ser cumprida.
  59 Pois qual é o pastor entre vós que, tendo muitas ovelhas, não zela por elas, para que os lobos não entrem e devorem-lhe o rebanho? E eis que se um lobo entrar no meio de seu rebanho, não o porá para fora? Sim, e no final, se lhe for possível, destruí-lo-á.
  60 E agora vos digo que o bom pastor vos chama; e se derdes ouvidos a sua voz, ele vos levará ao seu redil e sereis suas ovelhas; e ele ordena-vos que não permitais a nenhum lobo voraz entrar no meio de vós, para que não sejais destruídos.
  61 E agora eu, Alma, ordeno-vos, na linguagem daquele que mo ordenou, que procureis seguir as palavras que vos disse.
  62 Falo por meio de mandamento a vós, que pertenceis à igreja; e àqueles que não pertencem à igreja falo por meio de convite, dizendo: Vinde e sede batizados para o arrependimento, a fim de que também partilheis do fruto da árvore da vida.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 6
A Igreja em Zaraenla é purificada e posta em ordem—Alma vai a Gideão para pregar. Aproximadamente 83 a.C.

  1 E então aconteceu que depois de haver acabado de falar ao povo da igreja que estava estabelecida na cidade de Zaraenla, Alma ordenou sacerdotes e élderes pela imposição de mãos, segundo a ordem de Deus, para presidirem a igreja e cuidarem dela.
  2 E aconteceu que aqueles que não pertenciam à igreja e que se arrependeram de seus pecados foram batizados por causa do arrependimento e recebidos na igreja.
  3 E também aconteceu que todos os que pertenciam à igreja e não se arrependeram de suas iniquidades nem se humilharam perante Deus, refiro-me aos que tinham o coração cheio de orgulho, foram rejeitados e seus nomes apagados, para que seus nomes não fossem contados com os dos justos.
  4 E assim começaram a estabelecer a ordem da igreja, na cidade de Zaraenla.
  5 Ora, quisera que entendêsseis que a palavra de Deus era acessível a todos; de modo que a ninguém era negado o privilégio de reunir-se para ouvir a palavra de Deus.
  6 Não obstante, foi ordenado aos filhos de Deus que se reunissem freqüentemente e que se unissem em jejum e fervorosa oração pelo bem-estar da alma dos que não conheciam a Deus.
  7 E aconteceu que Alma, tendo estabelecido estes regulamentos, partiu, sim, da igreja que se achava na cidade de Zaraenla, e foi para o leste do rio Sidon, no vale de Gideão, onde fora construída uma cidade que se chamava cidade de Gideão, a qual se achava no vale que era chamado Gideão, assim chamado por causa do homem que fora morto com a espada pela mão de Neor.
  8 E Alma começou a pregar a palavra de Deus à igreja que estava estabelecida no vale de Gideão, segundo a veracidade da palavra que havia sido proferida por seus pais; e segundo o espírito de profecia que estava nele, conforme a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que viria para redimir seu povo de seus pecados, e a santa ordem pela qual fora chamado. E assim está escrito. Amém.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA
Palavras de Alma ao povo de Gideão, segundo seu próprio registro.
Abrangem o capítulo 7.

CAPÍTULO 7
Cristo nascerá de Maria—Ele soltará as ligaduras da morte e carregará os pecados de seu povo—Aqueles que se arrependerem, forem batizados e guardarem os mandamentos terão vida eterna—A imundície não pode herdar o reino de Deus—Requer-se humildade, fé, esperança e caridade. Aproximadamente 83 a.C.

  1 Eis que, meus amados irmãos, já que me foi permitido vir até vós, tentarei, portanto, falar-vos em minha linguagem; sim, de minha própria boca, sendo que é a primeira vez que vos falo com as palavras de minha boca, pois tenho estado completamente restrito à cadeira de juiz, com tantos deveres que não me foi possível vir até vós.
  2 E ainda agora eu não poderia ter vindo se a cadeira de juiz não tivesse sido passada a outro, para que governasse em meu lugar; e o Senhor, com grande misericórdia, permitiu-me vir até vós.
  3 E eis que vim com grandes esperanças e muito desejo de constatar que vós vos haveis humilhado perante Deus e que haveis continuado a suplicar-lhe a graça; de constatar que sois irrepreensíveis perante ele e que não estais no terrível dilema em que se achavam nossos irmãos em Zaraenla.
  4 E bendito seja o nome de Deus, pois deu-me a conhecer, sim, deu-me a grande alegria de saber que se acham novamente estabelecidos no caminho de sua retidão.
  5 E espero, segundo o espírito de Deus que está em mim, ter também alegria por vós; não desejo que minha alegria por vós, no entanto, surja por causa de tantas aflições e tristezas, as quais senti pelos irmãos de Zaraenla; pois eis que minha alegria por eles surge depois de ter passado por muita aflição e tristeza.
  6 Eis que espero, porém, que não estejais num estado de tanta incredulidade como se achavam vossos irmãos; espero que não estejais com o coração cheio de orgulho; sim, espero que não tenhais posto o coração nas riquezas e coisas vãs do mundo; sim, espero que não adoreis ídolos, mas que adoreis o Deus vivo e verdadeiro; e que espereis ansiosamente, com uma fé eterna, pela remissão de vossos pecados, a qual virá.
  7 Pois eis que eu vos digo que muitas coisas estão para vir; e eis que há uma coisa mais importante que todas as outras, pois eis que não está longe o tempo em que o Redentor viverá e estará no meio de seu povo.
  8 Eis que não digo que ele ficará conosco no tempo em que habitar seu tabernáculo mortal. Ora, a respeito disso nada sei; sei, porém, isto: que o Senhor Deus tem poder de fazer todas as coisas que estejam em conformidade com sua palavra.
  9 Mas eis que isto o espírito me disse: Clama a este povo, dizendo: Arrependei-vos e preparai o caminho do Senhor e andai em suas veredas, que são retas; pois eis que o reino do céu está próximo e o Filho de Deus nascerá na face da Terra.
  10 E eis que nascerá de Maria, em Jerusalém, que é a terra de nossos antepassados, sendo ela uma virgem, um vaso precioso e escolhido; e uma sombra a envolverá; e conceberá pelo poder do Espírito Santo e dará à luz um filho, sim, o Filho de Deus.
  11 E ele seguirá, sofrendo dores e aflições e tentações de toda espécie; e isto para que se cumpra a palavra que diz que ele tomará sobre si as dores e as enfermidades de seu povo.
  12 E tomará sobre si a morte, para soltar as ligaduras da morte que prendem o seu povo; e tomará sobre si as suas enfermidades, para que se lhe encham de misericórdia as entranhas, segundo a carne, para que saiba, segundo a carne, como socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades.
  13 Ora, o Filho de Deus padece segundo a carne para tomar sobre si os pecados de seu povo, para apagar-lhes as transgressões, de acordo com seu poder de libertação; e eis que agora este é o testemunho que está em mim.
  14 Agora, digo que vos deveis arrepender e nascer de novo; porque se não nascerdes de novo, não podereis herdar o reino do céu; vinde, pois, e sede batizados para o arrependimento, a fim de serdes lavados de vossos pecados e terdes fé no Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, que é poderoso para salvar e purificar de toda injustiça.
  15 Sim, digo-vos: Vinde e não temais; e deixai de lado todos os pecados que facilmente vos envolvem, que vos amarram e conduzem à destruição; sim, adiantai-vos e mostrai a vosso Deus que desejais arrepender-vos de vossos pecados e fazer com ele um convênio de guardar seus mandamentos; e testemunhai-lhe isso hoje, entrando nas águas do batismo.
  16 E quem quer que isso faça e guarde os mandamentos de Deus de agora em diante, lembrar-se-á de que eu lhe digo, sim, lembrar-se-á de que eu lhe disse que terá vida eterna.  
  17 E agora, meus amados irmãos, credes vós nestas coisas? Eis que vos digo que sim; sei que acreditais nelas; e sei que acreditais nelas porque sois puros de consciência. E agora, porque vossa fé é forte a respeito disso, sim, a respeito das coisas que eu disse, grande é minha alegria.
  18 Porque, como vos disse desde o princípio, muito desejava que não estivésseis no dilema de vossos irmãos; e eis que verifiquei que meus desejos foram satisfeitos.
  19 Porque percebo que estais nas veredas da retidão; percebo que estais no caminho que conduz ao reino de Deus; sim, percebo que estais endireitando as suas veredas.
  20 Percebo que vos foi dado conhecer, pelo testemunho de sua palavra, que ele não pode andar por veredas tortuosas; nem se desvia daquilo que disse; nem há nele sombra de desviar-se da direita para a esquerda, ou seja, daquilo que é certo para aquilo que é errado; portanto o seu caminho é um círculo eterno.
  21 E ele não habita em templos impuros; nem pode a imundície ou qualquer coisa impura ser recebida no reino de Deus; digo-vos portanto que tempo virá, sim, e será no último dia, em que aquele que é bimundo permanecerá na sua imundície.
  22 E agora, meus amados irmãos, eu vos disse estas coisas a fim de despertar em vós o senso de vosso dever para com Deus, para que andeis irrepreensivelmente perante ele, para que andeis conforme a santa ordem de Deus segundo a qual fostes recebidos.
  23 E agora, quisera que fôsseis humildes e submissos e mansos; fáceis de persuadir, cheios de paciência e longanimidade; sendo moderados em todas as coisas; guardando diligentemente os mandamentos de Deus em todos os momentos; pedindo as coisas necessárias, tanto espirituais como materiais; agradecendo sempre a Deus por tudo quanto recebeis.
  24 E procurai ter , esperança e caridade; e então fareis sempre boas obras em abundância.
  25 E que o Senhor vos abençoe e conserve vossas vestimentas imaculadas, para que possais finalmente sentar-vos no reino do céu, para não mais sairdes, com Abraão, Isaque e Jacó e os profetas que existiram desde que o mundo começou, conservando vossas vestimentas imaculadas, assim como as deles são imaculadas.
  26 E agora, meus amados irmãos, eu vos disse estas palavras e minha alma regozija-se muitíssimo por causa da extrema diligência e atenção com que ouvistes a minha palavra.
  27 E agora, que a paz de Deus descanse sobre vós e sobre vossas casas e terras e sobre vossos rebanhos e manadas e tudo que possuís, vossas mulheres e vossos filhos, conforme vossa fé e boas obras, de agora em diante e para sempre. E assim falei. Amém.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 8
Alma prega e batiza em Meleque—Ele é rejeitado em Amonia e parte—Um anjo ordena-lhe que volte e proclame arrependimento ao povo—Ele é recebido por Amuleque e os dois pregam em Amonia. Aproximadamente 82 a.C.

  1 E então aconteceu que Alma voltou da terra de Gideão depois de haver ensinado ao povo de Gideão muitas coisas que não podem ser escritas, tendo estabelecido a ordem da igreja como fizera anteriormente na terra de Zaraenla; sim, voltou para sua própria casa em Zaraenla, a fim de descansar dos labores que havia executado.
  2 E assim terminou o nono ano do governo dos juízes sobre o povo de Néfi.
  3 E aconteceu, no começo do décimo ano do governo dos juízes sobre o povo de Néfi, que Alma partiu dali e encaminhou-se para a terra de Meleque, a oeste do rio Sidon, no oeste, perto das fronteiras do deserto.
  4 E começou a ensinar o povo na terra de Meleque, segundo a santa ordem de Deus pela qual havia sido chamado; e começou a ensinar o povo por toda a terra de Meleque.
  5 E aconteceu que o povo veio a ele de todas as fronteiras da terra que ficava do lado do deserto. E foram batizados por toda a terra;
  6 E havendo terminado seu trabalho em Meleque, partiu e viajou pelo norte da terra de Meleque durante três dias; e chegou a uma cidade que se chamava Amonia.
  7 Ora, era costume do povo de Néfi chamar suas terras e suas cidades e suas aldeias, sim, mesmo todas as suas pequenas aldeias, pelo nome do seu primeiro habitante; e assim foi com a terra de Amonia.
  8 E aconteceu que quando chegou à cidade de Amonia, Alma começou a pregar a palavra de Deus.
  9 Ora, Satanás apoderara-se dos corações dos habitantes da cidade de Amonia; portanto não quiseram dar ouvidos às palavras de Alma.
  10 Alma, no entanto, esforçou-se muito em espírito, suplicando a Deus, em fervorosa oração, que derramasse o seu amor sobre o povo que se achava na cidade; e que também lhe permitisse batizá-los para o arrependimento.
  11 Eles, no entanto, endureceram o coração, dizendo-lhe: Eis que sabemos que tu és Alma; e sabemos que és sumo sacerdote da igreja que organizaste em muitas partes da terra, de acordo com vossas tradições; e nós não somos da tua igreja e não acreditamos nessas tolas tradições.
  12 E agora sabemos que, por não pertencermos a tua igreja, não tens poder algum sobre nós; e entregaste a cadeira de juiz a Nefia; não és, portanto, nosso juiz supremo.
  13 Ora, quando o povo disse isto e refutou todas as suas palavras e ultrajou-o e nele cuspiu e fez com que fosse expulso de sua cidade, ele partiu dali e viajou em direção à cidade que era chamada Aarão.
  14 E aconteceu que enquanto se dirigia para lá, estando abatido de tristeza, passando por muitas tribulações e angústias por causa da iniquidade do povo que se achava na cidade de Amonia, aconteceu que enquanto Alma estava assim abatido de pesar, eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo:
  15 Bendito és tu, Alma; levanta, portanto, a cabeça e alegra-te, pois tens grandes motivos para te alegrares; porque foste fiel aos mandamentos de Deus desde o momento em que recebeste dele a primeira mensagem. Eis que sou aquele que a transmitiu a ti.
  16 E eis que fui enviado para ordenar-te que voltes à cidade de Amonia e pregues novamente ao povo da cidade; sim, prega-lhes. Sim, dize-lhes que, a menos que se arrependam, o Senhor Deus os destruirá.
  17 Porque eis que neste momento eles planejam como tirar a liberdade de teu povo (pois assim diz o Senhor), o que é contrário aos estatutos e julgamentos e mandamentos que ele deu a seu povo.
  18 Ora, aconteceu que depois de haver recebido a mensagem do anjo, Alma voltou rapidamente à terra de Amonia. E entrou na cidade por outro caminho, sim, pelo caminho que fica ao sul da cidade de Amonia.
  19 E sentindo-se faminto ao entrar na cidade, disse a um homem: Darás algo de comer a um humilde servo de Deus?
  20 E o homem disse-lhe: Sou nefita e sei que és um santo profeta de Deus, porque és o homem de quem um anjo, numa visão, disse: Tu o receberás. Portanto vem comigo para minha casa e repartirei contigo o meu alimento; e sei que serás uma bênção para mim e minha casa.
  21 E aconteceu que o homem o recebeu em sua casa; e o homem chamava-se Amuleque; e trouxe pão e carne e colocou diante de Alma.
  22 E aconteceu que Alma comeu pão e fartou-se; e abençoou Amuleque e sua casa e rendeu graças a Deus.
  23 E depois de haver comido e estar farto, disse a Amuleque: Eu sou Alma e sou o sumo sacerdote da igreja de Deus em toda esta terra.
  24 E eis que fui chamado para pregar a palavra de Deus entre todo este povo, segundo o espírito de profecia; e estive nesta terra e não me receberam, mas expulsaram-me; e eu estava prestes a voltar as costas a esta terra para sempre.
  25 Mas eis que recebi ordem de voltar e profetizar a este povo; sim, de testemunhar contra ele a respeito de suas iniquidades.
  26 E agora, Amuleque, por me haveres alimentado e recebido, és abençoado; porque eu estava faminto por ter jejuado durante muitos dias.
  27 E Alma ficou muitos dias com Amuleque, antes de começar a pregar ao povo.
  28 E aconteceu que as iniquidades do povo se agravaram.
  29 E chegou a palavra a Alma, dizendo: Vai e dize também a meu servo Amuleque que vá profetizar a este povo, dizendo: Arrependei-vos, pois assim diz o Senhor: A menos que vos arrependais, visitarei este povo em minha ira; sim, não desviarei minha ardente ira.
  30 E saiu Alma e também Amuleque entre o povo, para declarar-lhe as palavras de Deus; e estavam cheios de alegria.
  31 E haviam recebido poder, tanto assim que não podiam ser confinados em prisões; nem era possível que algum homem os matasse; no entanto não fizeram uso de seu poder até haverem sido amarrados e postos na prisão. Ora, isso foi feito para que o Senhor pudesse mostrar por meio deles o seu poder.
  32 E aconteceu que saíram e começaram a pregar e a profetizar ao povo, segundo o espírito de profecia.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA
Palavras de Alma e também palavras de Amuleque, ditas ao povo que habitava a terra de Amonia. Eles são aprisionados e, pelo milagroso poder de Deus que estava neles, são libertados, segundo o registro de Alma.
Abrangem os capítulos 9 a 14.

CAPÍTULO 9
Alma ordena ao povo de Amonia que se arrependa—O Senhor será misericordioso para com os lamanitas nos últimos dias—Se os nefitas abandonarem a luz, serão destruídos pelos lamanitas—O Filho de Deus logo virá—Ele redimirá os que se arrependem, são batizados e têm fé em seu nome. Aproximadamente 82 a.C.

  1 E novamente eu, Alma, tendo sido ordenado por Deus a levar comigo Amuleque para pregar outra vez a esse povo, ou seja, o povo que estava na cidade de Amonia, aconteceu que quando principiei a pregar-lhes, eles começaram a contender comigo, dizendo:
  2 Quem és tu? Supões que acreditaremos no testemunho de um homem, ainda que nos anuncie que a Terra deixará de existir?
  3 Ora, não entendiam as palavras que diziam; pois não sabiam que a Terra deixaria de existir.
  4 E disseram também: Não acreditaremos em tuas palavras, mesmo que profetizes que esta grande cidade será destruída em um dia.
  5 Ora, eles não sabiam que Deus podia fazer obras tão maravilhosas, porque eram duros de coração e obstinados.
  6 E perguntaram: Quem é Deus, que não envia a este povo mais autoridade do que um só homem para declarar-lhes a veracidade de coisas tão grandes e maravilhosas?
  7 E eles avançaram para agarrar-me, mas eis que não o fizeram. E enfrentei-os com muita ousadia para declarar-lhes, sim, testifiquei-lhes ousadamente, dizendo:
  8 Ó vós, geração iníqua e perversa, como vos haveis esquecido da tradição de vossos pais! Sim, quão rapidamente vos haveis esquecido dos mandamentos de Deus!
  9 Não vos lembrais de que nosso pai, Leí, foi trazido de Jerusalém pela mão de Deus? Não vos lembrais de que todos foram por ele guiados no deserto?
  10 E haveis esquecido tão rapidamente quantas vezes ele libertou nossos pais das mãos de seus inimigos e evitou que fossem destruídos, até mesmo pelas mãos de seus próprios irmãos?
  11 Sim, e se não fosse por seu incomparável poder e sua misericórdia e sua longanimidade para conosco, teríamos inevitavelmente sido varridos da face da Terra há muito tempo e teríamos sido, talvez, condenados a um estado de interminável miséria e angústia.
  12 Eis que agora eu vos digo que ele ordena que vos arrependais; e, se não vos arrependerdes, não podereis de maneira alguma herdar o reino de Deus. Mas eis que isto não é tudo, Ele vos ordenou que vos arrependêsseis, pois, do contrário, ele vos varrerá completamente da face da Terra; sim, visitar-vos-á em sua ira e não se desviará em sua ardente ira.
  13 Eis que não vos lembrais de suas palavras a Leí, dizendo: Se guardardes meus mandamentos, prosperareis na terra? E ainda: Se não guardardes meus mandamentos, sereis afastados da presença do Senhor?
  14 Ora, eu quisera que vos lembrásseis de que, como os lamanitas não guardaram os mandamentos de Deus, foram afastados da presença do Senhor. Ora, vemos que a palavra do Senhor foi confirmada neste ponto e os lamanitas foram afastados de sua presença desde o começo de suas transgressões na terra.
  15 Não obstante, digo-vos que o dia do julgamento será mais tolerável para eles do que para vós, se permanecerdes em vossos pecados; sim, e mais tolerável para eles nesta vida do que para vós, a menos que vos arrependais.
  16 Porque muitas são as promessas estendidas aos lamanitas; pois foi por causa das tradições de seus pais que permaneceram num estado de ignorância; o Senhor será, portanto, misericordioso para com eles e prolongará sua existência na terra.
  17 E algum dia serão levados a acreditar em sua palavra e a conhecer os erros das tradições de seus pais; e muitos deles serão salvos, porque o Senhor será misericordioso com todos os que invocarem seu nome.
  18 Mas eis que vos digo que, se persistirdes em vossas iniquidades, vossos dias não serão prolongados na terra, porque os lamanitas serão enviados contra vós; e se não vos arrependerdes, eles virão num dia em que vós não sabeis e sereis visitados com total destruição; e isto acontecerá de acordo com a ardente ira do Senhor.
  19 Pois ele não permitirá que vivais em vossas iniquidades para destruir seu povo. Digo-vos que não; ele antes permitiria que os lamanitas destruíssem todo o seu povo, chamado povo de Néfi, se fosse possível que eles caíssem em pecado e transgressão depois de haverem recebido tanta luz e tanto conhecimento do Senhor seu Deus;
  20 Sim, depois de haverem sido um povo altamente favorecido pelo Senhor; sim, depois de haverem sido mais favorecidos do que qualquer outra nação, tribo, língua ou povo; depois de lhes terem sido divulgadadas, de acordo com seus desejos e sua fé e orações, todas as coisas concernentes ao que era, ao que é e ao que há de vir;
  21 Havendo sido visitados pelo amor de Deus; havendo conversado com anjos e ouvido a voz do Senhor e tendo o espírito de profecia; e também muitos dons, o dom de falar em línguas e o dom de pregar e os dons do espírito e o dom de traduzir;
  22 Sim, e depois de haverem sido libertados por Deus da terra de Jerusalém, pela mão do Senhor; tendo sido salvos da fome e de doenças e de todo tipo de enfermidades de toda espécie; e tendo sido fortalecidos em batalhas, para que não fossem destruídos; tendo sido libertados do cativeiro, vez após vez, e tendo sido protegidos e preservados até agora; e prosperaram até se enriquecerem de todas as coisas.
  23 E agora, eis que vos digo que se este povo, que recebeu tantas bênçãos da mão do Senhor, transgredir contra a luz e o conhecimento que possui, eu vos digo que, se isto acontecer, se eles caírem em transgressão, será muito mais tolerável para os lamanitas do que para eles.
  24 Pois eis que as promessas do Senhor se estendem aos lamanitas, mas não a vós, se transgredirdes; pois não prometeu expressamente o Senhor e firmemente decretou que, se vos rebelardes contra ele, sereis completamente varridos da face da Terra?
  25 E por causa disso, para que não sejais destruídos, o Senhor enviou o seu anjo para visitar muitos de seu povo, ordenando-lhes que fossem clamar fortemente a este povo, dizendo: Arrependei-vos, porque o reino do céu está próximo;
  26 E não se passarão muitos dias até que o Filho de Deus venha em sua glória; e sua glória será a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça, equidade e verdade, cheio de paciência, misericórdia e longanimidade, pronto a ouvir o clamor de seu povo e a responder a suas orações.
  27 E eis que virá para redimir os que se batizarem para o arrependimento, pela fé em seu nome.
  28 Preparai, portanto, o caminho do Senhor, pois aproxima-se o tempo em que todos os homens colherão uma recompensa de suas obras, de acordo com aquilo que tenham sido; se foram justas, colherão a salvação de sua alma, segundo o poder e a redenção de Jesus Cristo; e se foram más, colherão a condenação de sua alma, segundo o poder e cativeiro do diabo.
  29 Agora, eis que esta é a voz do anjo, clamando ao povo.
  30 E agora, meus amados irmãos, pois sois meus irmãos e deveis ser amados, deveis produzir obras dignas de arrependimento, já que vosso coração foi grandemente endurecido contra a palavra de Deus e sois um povo decaído e perdido.
  31 Ora, aconteceu que tendo eu, Alma, proferido estas palavras, eis que o povo se zangou comigo por ter-lhes dito que eram um povo de coração duro e obstinado.
  32 E também porque lhes disse que eram um povo perdido e decaído, iraram-se contra mim e procuraram agarrar-me para lançar-me na prisão.
  33 Aconteceu, porém, que o Senhor não permitiu, naquela oportunidade, que me agarrassem e lançassem na prisão.
  34 E aconteceu que Amuleque, adiantando-se, também começou a pregar-lhes. Ora, as palavras de Amuleque não estão todas escritas; não obstante, uma parte de suas palavras está escrita neste livro.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 10
Leí descendia de Manassés—Amuleque relata a ordem que recebera do anjo para cuidar de Alma—As orações dos justos fazem com que o povo seja poupado—Advogados e juízes iníquos alicerçam a destruição do povo. Aproximadamente 82 a.C.

  1 Ora, estas são as palavras que Amuleque pregou ao povo que estava na terra de Amonia, dizendo:
  2 Eu sou Amuleque; sou filho de Gidona, que era filho de Ismael, que era descendente de Aminádi; e foi esse mesmo Aminádi que interpretou a escritura que se achava na parede do templo, que fora escrita pelo dedo de Deus.
  3 E Aminádi era descendente de Néfi, que era filho de Leí, que saiu da terra de Jerusalém, que era descendente de Manassés, que era filho de José, que foi vendido no Egito pelas mãos de seus irmãos.
  4 E eis que eu também sou homem de alguma reputação entre todos os que me conhecem; sim, e eis que tenho muitos parentes e amigos e também adquiri muitas riquezas por meio de meus esforços.
  5 Não obstante tudo isso, nunca tive muito conhecimento acerca dos caminhos do Senhor, de seus mistérios e maravilhoso poder. Disse que nunca havia tido muito conhecimento destas coisas, mas eis que me engano, porque muito vi de seus mistérios e maravilhoso poder; sim, mesmo na preservação da vida deste povo.
  6 Não obstante, endureci o coração, pois fui chamado muitas vezes e não quis ouvir; portanto eu sabia a respeito destas coisas, embora não quisesse saber; assim, continuei rebelando-me contra Deus na maldade de meu coração, até o quarto dia deste sétimo mês, no décimo ano do governo dos juízes.
  7 E enquanto viajava para visitar um parente muito próximo, eis que um anjo do Senhor me apareceu e disse: Amuleque, volta para tua casa, porque alimentarás um profeta do Senhor; sim, um justo homem, que é um homem escolhido por Deus; porque jejuou muitos dias por causa dos pecados deste povo e está faminto; e recebê-lo-ás em tua casa e alimentá-lo-ás; e ele abençoará a ti e a tua casa; e a bênção do Senhor recairá sobre ti e tua casa.
  8 E aconteceu que obedeci à voz do anjo e dirigi-me para minha casa. E quando para ela me dirigia, encontrei o homem sobre quem o anjo dissera: Recebê-lo-ás em tua casa, e eis que era este mesmo homem que vos tem falado sobre as coisas de Deus.
  9 E o anjo disse-me que ele é um homem justo; sei portanto que é um justo homem, porque me foi dito por um anjo de Deus.
  10 E ainda sei que as coisas que ele testemunhou são verdadeiras; pois eis que vos digo: Assim como vive o Senhor, ele enviou seu anjo para manifestar-me estas coisas; e isto fez enquanto este Alma estava hospedado em minha casa.
  11 Pois eis que ele abençoou minha casa; abençoou a mim e as mulheres de minha casa e meus filhos e meu pai e meus parentes; sim, abençoou toda a minha parentela e a bênção do Senhor recaiu sobre nós segundo as palavras que ele proferiu.
  12 E então, quando Amuleque disse estas palavras, o povo começou a ficar admirado, vendo que havia mais que uma testemunha que afirmava as coisas das quais eram acusados, assim como as coisas que estavam para vir, segundo o espírito de profecia que se achava neles.
  13 Não obstante, houve alguns entre eles que quiseram interrogá-los para ver se, com seus astutos ardis, conseguiriam enredá-los em suas próprias palavras e, assim, obter uma testemunha contra eles, a fim de poderem entregá-los a seus juízes para que fossem julgados de acordo com a lei e fossem mortos ou lançados na prisão, segundo o crime que pudessem simular ou testemunhar contra eles.
  14 Ora, esses homens que procuravam destruí-los eram advogados, empregados ou nomeados pelo povo, para aplicar a lei nas épocas de julgamento, ou seja, nos julgamentos dos crimes do povo perante os juízes.
  15 Ora, esses advogados eram versados em todas as artimanhas e astúcias do povo: e isto para que fossem habilidosos em sua profissão.
  16 E aconteceu que começaram a interrogar Amuleque, para assim fazê-lo contradizer suas palavras, ou seja, contradizer as palavras que diria.
  17 Ora, eles não sabiam que Amuleque podia conhecer suas intenções. Mas aconteceu que quando começaram a interrogá-lo, ele percebeu seus pensamentos e disse-lhes: Ó geração iníqua e perversa, vós, advogados e hipócritas, pois estais estabelecendo os alicerces do diabo; pois estais preparando armadilhas e laços para apanhar os justos de Deus.
  18 Estais tramando perverter os caminhos dos justos e fazer cair sobre vossa cabeça a ira de Deus, até a completa destruição deste povo.
  19 Sim, bem disse Mosias, que foi nosso último rei, quando estava para entregar seu reino, não tendo a quem deixá-lo e fazendo com que o povo se governasse pela própria voz; sim, bem disse ele que, se chegasse o tempo em que a voz deste povo escolhesse a iniquidade, isto é, se viesse o tempo em que este povo caísse em transgressão, eles estariam maduros para a destruição.
  20 E agora vos digo que bem julga o Senhor as vossas iniquidades; bem clama a este povo pela voz de seus anjos: Arrependei-vos, arrependei-vos, porque o reino do céu está próximo.
  21 Sim, bem clama ele pela voz de seus anjos: Descerei no meio de meu povo com equidade e justiça em minhas mãos.
  22 Sim, e digo-vos que, se não fosse pelas orações dos justos que agora habitam a terra, vós seríeis agora mesmo visitados por completa destruição; contudo ela não viria por dilúvio, como aconteceu ao povo nos dias de Noé, mas pela fome e por pestilência e pela espada.
  23 É, porém, pelas orações dos justos que sois poupados; agora, se afastardes portanto os justos do meio de vós, então o Senhor não deterá a mão, mas, na sua ardente ira, virá contra vós; sereis então castigados pela fome e por pestilência e pela espada; e o tempo aproxima-se, a menos que vos arrependais.
  24 E então aconteceu que o povo se indignou ainda mais contra Amuleque e clamou, dizendo: Este homem rebela-se contra nossas leis, que são justas; e contra nossos sábios advogados por nós escolhidos.
  25 Amuleque, porém, estendeu a mão e clamou-lhes mais fortemente, dizendo: Ó malvada e perversa geração, por que conseguiu Satanás tão grande poder sobre vosso coração? Por que vos submeteis a ele, para que tenha poder sobre vós, para cegar-vos e não poderdes compreender as palavras que são proferidas de acordo com a verdade?
  26 Pois eis que testifiquei eu contra a vossa lei? Vós não compreendeis. Dizeis que falei contra a vossa lei, mas eu não o fiz; mas falei a favor de vossa lei, para vossa condenação.
  27 E agora, eis que vos digo que o alicerce da destruição deste povo está começando a ser estabelecido pela injustiça de vossos advogados e de vossos juízes.
  28 E aconteceu que tendo Amuleque dito estas palavras, o povo clamou contra ele, dizendo: Agora sabemos que este homem é um filho do diabo, porque nos mentiu; pois falou contra nossa lei. E agora diz que não falou contra ela.
  29 E mais ainda, rebelou-se contra nossos advogados e nossos juízes.
  30 E aconteceu que os advogados inculcaram no coração deles que guardassem na lembrança estas coisas contra ele.
  31 E havia um entre eles, cujo nome era Zeezrom. Ora, ele foi o primeiro a acusar Amuleque e Alma, por ser um dos mais preparados entre eles, tendo muitos negócios com o povo.
  32 Ora, o objetivo desses advogados era obter lucro; e eles obtinham lucro de acordo com o seu trabalho.

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CAPÍTULO 11
Descreve-se o sistema monetário nefita—Amuleque contende com Zeezrom—Cristo não salvará o povo em pecado—Somente os que herdam o reino do céu são salvos—Todos os homens se levantarão em imortalidade—Não há morte após a ressurreição. Aproximadamente 82 a.C.

  1 Ora, constava na lei de Mosias que todo homem que fosse um juiz da lei ou aqueles que fossem nomeados juízes recebessem um salário, de acordo com o tempo que empregassem para julgar aqueles que lhes eram levados para serem julgados.
  2 Ora, se um homem devesse a outro e não quisesse pagar aquilo que devia, dele se dava queixa ao juiz; e o juiz exercia sua autoridade e enviava oficiais para levarem o homem perante ele; e ele julgava o homem segundo a lei e as evidências que apresentavam contra ele; e assim o homem era compelido a pagar aquilo que devia ou era despojado do que tinha e afastado do povo, como ladrão e espoliador.
  3 E o juiz recebia honorários de acordo com seu tempo, um senine de ouro por dia ou um senum de prata, que equivalia a um senine de ouro; e isso de acordo com a lei em vigor.
  4 Ora, estes são os nomes das diversas moedas de ouro e de prata, segundo seu valor. E os nomes foram dados pelos nefitas, porque não contavam segundo a maneira dos judeus que estavam em Jerusalém; nem mediam segundo a maneira dos judeus, mas alteraram seus cálculos e suas medidas segundo a vontade e circunstâncias do povo, em cada geração, até o governo dos juízes, estabelecido pelo rei Mosias.
  5 Era este o cálculo estabelecido: Um senine de ouro, um seon de ouro, um sum de ouro e um limna de ouro.
  6 Um senum de prata, um amnor de prata, um ezrom de prata e um onti de prata.
  7 Um senum de prata equivalia a um senine de ouro, e tanto um como outro valiam uma medida de cevada e também uma medida de todos os tipos de grãos.
  8 Ora, o valor de um seon de ouro era duas vezes o valor de um senine.
  9 E um sum de ouro era duas vezes o valor de um seon.
  10 E um limna de ouro tinha o valor de todas as outras moedas.
  11 E um amnor de prata valia tanto quanto dois senuns.
  12 E um ezrom de prata valia por quatro senuns.
  13 E um onti tinha o valor de todas as outras moedas.
  14 Ora, este era o valor dos números menores de seus cálculos.
  15 Um siblon era a metade de um senum; portanto, um siblon valia meia medida de cevada.
  16 E um siblum era a metade de um siblon.
  17 E um leá era a metade de um siblum.
  18 Ora, estes eram seus números, segundo seus cálculos.
  19 Ora, um antion de ouro era igual a três siblons.
  20 Ora, era com o único fito de obter lucro, pois recebiam salários segundo os seus serviços, que os juízes incitavam o povo a motins e a toda espécie de distúrbios e iniquidades, para que tivessem mais serviço e pudessem ganhar mais dinheiro, de acordo com as causas que lhes eram levadas; portanto incitaram o povo contra Alma e Amuleque.
  21 E este Zeezrom começou a questionar Amuleque, dizendo: Responderás a algumas perguntas que eu te fizer? Ora, Zeezrom era um homem perito nos ardis do diabo para destruir o que era bom; portanto disse a Amuleque: Responderás às perguntas que eu te fizer?
  22 E Amuleque disse-lhe: Sim, se for a vontade do Senhor, porque nada direi que seja contrário à Sua vontade. E disse-lhe Zeezrom: Eis que aqui estão seis ontis de prata; e todos te darei, se negares a existência de um Ser Supremo.
  23 Ora, Amuleque disse: Ó tu, filho do inferno, por que me tentas? Ignoras tu que os justos não cedem a tais tentações?
  24 Acreditas que não há Deus? Digo-te: Não, tu sabes que existe um Deus; amas, porém, mais o lucro do que a ele.
  25 E agora, mentiste a mim perante Deus. Disseste-me: Eis que te darei seis ontis, que são de grande valor, quando em teu coração tinhas o intento de ficar com eles; e o teu único desejo era que eu negasse o Deus vivo e verdadeiro, a fim de que tivesses motivo para destruir-me. E agora, eis que por este grande mal terás tua recompensa.
  26 E Zeezrom disse-lhe: Dizes que existe um Deus vivo e verdadeiro?
  27 E Amuleque respondeu: Sim, existe um Deus vivo e verdadeiro.
  28 Disse então Zeezrom: Existe mais de um Deus?
  29 E ele respondeu: Não.
  30 Então perguntou-lhe Zeezrom novamente: Como sabes estas coisas?
  31 E ele disse: Um anjo mas deu a conhecer.
  32 E Zeezrom tornou a perguntar: Quem é aquele que virá? É o Filho de Deus?
  33 E ele respondeu-lhe: Sim.
  34 E disse novamente Zeezrom: Salvará ele seu povo em seus pecados? E Amuleque respondeu-lhe e disse-lhe: Digo-te que ele não salvará, porque lhe é impossível negar sua própria palavra.
  35 Disse então Zeezrom ao povo: Lembrai-vos destas coisas; porque ele disse que existe um só Deus; não obstante, declarou que o Filho de Deus virá mas não salvará seu povo, como se ele tivesse autoridade para mandar em Deus.
  36 Então Amuleque lhe disse novamente: Eis que mentiste, pois disseste que eu falei como se tivesse autoridade para mandar em Deus, porque disse que ele não salvará seu povo em seus pecados.
  37 E torno a dizer-te que ele não pode salvá-los em seus pecados, porque eu não posso negar a sua palavra e ele disse que nada impuro pode herdar o reino do céu; portanto, como podeis ser salvos, a menos que herdeis o reino do céu? Portanto não podeis ser salvos em vossos pecados.
  38 Então Zeezrom novamente lhe disse: É o Filho de Deus o próprio Pai Eterno?
  39 E respondeu-lhe Amuleque: Sim, ele é o próprio Pai Eterno do céu e da Terra e de todas as coisas que neles existem; ele é o começo e o fim, o primeiro e o último;
  40 E virá ao mundo para redimir seu povo; e tomará sobre si as transgressões daqueles que acreditam em seu nome; e estes são os que terão vida eterna e para ninguém mais haverá salvação.
  41 Portanto os iníquos permanecerão como se não tivesse havido redenção, sendo apenas desatadas as ligaduras da morte; pois eis que dia virá em que todos se levantarão da morte e apresentar-se-ão perante Deus e serão julgados segundo suas obras.
  42 Ora, existe uma morte que é chamada morte física; e a morte de Cristo desatará as ligaduras dessa morte física, para que todos se levantem dessa morte física.
  43 O espírito e o corpo serão reunidos em sua perfeita forma; os membros e juntas serão reconstituídos em sua estrutura natural, tal como nos achamos neste momento; e seremos levados a apresentar-nos perante Deus, sabendo o que sabemos agora e tendo uma viva lembrança de toda a nossa culpa.
  44 Ora, esta restauração acontecerá com todos, tanto velhos como jovens, tanto escravos como livres, tanto homens como mulheres, tanto iníquos como justos; e não se perderá um único cabelo de sua cabeça, mas tudo será restaurado em sua estrutura natural, como se encontra agora, ou seja, no corpo; e todos serão levados perante o tribunal de Cristo, o Filho, e Deus, o Pai, e o Espírito Santo, para serem julgados segundo suas obras, sejam elas boas ou más.
  45 Ora, eis que vos falei sobre a morte do corpo mortal e também sobre a ressurreição do corpo mortal. Digo-vos que este corpo mortal será levantado num corpo imortal, isto é, passará da morte, da primeira morte, à vida, para não mais morrer; e o espírito unir-se-á a seu corpo para não mais serem divididos; o todo tornando-se, assim, espiritual e imortal, de modo que já não possa experimentar corrupção.
  46 Ora, quando Amuleque terminou estas palavras, o povo começou novamente a ficar admirado e também Zeezrom começou a tremer. E assim terminaram as palavras de Amuleque, ou seja, isto é tudo o que escrevi.

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CAPÍTULO 12
Alma contende com Zeezrom—Os mistérios de Deus só podem ser divulgados aos fiéis—Os homens são julgados por seus pensamentos, crenças, palavras e obras—Os iníquos sofrerão morte espiritual—Esta vida mortal é um estado probatório—O plano de redenção proporciona a ressurreição e, por meio da fé, a remissão de pecados—Aqueles que se arrependem têm direito à misericórdia, por meio do Filho Unigênito. Aproximadamente 82 a.C.

  1 Ora, vendo que as palavras de Amuleque haviam silenciado Zeezrom, pois dera-se conta de que Amuleque o havia apanhado em suas mentiras e ardis para destruí-lo; e vendo que ele começava a tremer, consciente de sua culpa, Alma abriu a boca e começou a falar-lhe e a confirmar as palavras de Amuleque e a explicar outras coisas, ou seja, a esclarecer as escrituras além daquilo que Amuleque fizera.
  2 Ora, as palavras que Alma disse a Zeezrom foram ouvidas pelo povo ao redor; pois a multidão era grande; e ele falou deste modo:
  3 Agora, Zeezrom, visto que foste apanhado em tuas mentiras e artimanhas, pois não mentiste somente aos homens, mas também a Deus; pois eis que ele conhece todos os teus pensamentos e vês que os teus pensamentos estão clarificados.  
  4 E vês que sabemos que teu plano foi um plano muito sutil, segundo a sutileza do diabo, para mentir e enganar este povo a fim de incitá-lo contra nós, para ultrajar-nos e expulsar-nos.
  5 Ora, esse era um plano de teu adversário e ele exerceu seu poder sobre ti. Agora eu quisera que te lembrasses de que o que te digo, digo a todos.
  6 E eis que vos digo, a vós todos, que foi uma armadilha do adversário, que ele preparou para pegar este povo a fim de poder subjugar-vos e amarrar-vos com suas correntes, para arrastar-vos à destruição eterna segundo o poder de seu cativeiro.
  7 Ora, quando Alma disse estas palavras, Zeezrom começou a tremer ainda mais, pois convencia-se cada vez mais do poder de Deus; e também estava convencido de que Alma e Amuleque sabiam sobre ele, porque estava convencido de que eles conheciam os pensamentos e as intenções de seu coração; porque a eles havia sido dado o poder de conhecer essas coisas, segundo o espírito de profecia.
  8 E Zeezrom começou a inquiri-los cuidadosamente, a fim de saber mais a respeito do reino de Deus. E disse a Alma: Que significa o que Amuleque disse com referência à ressurreição dos mortos, que todos se levantarão dentre os mortos, tanto os justos como os injustos, e serão levados perante Deus para serem julgados segundo suas obras?
  9 E então Alma começou a explicar-lhe essas coisas, dizendo: É dado a muitos conhecer os mistérios de Deus; é-lhes, porém, absolutamente proibido divulgá-los, a não ser a parte de sua palavra que ele concede aos filhos dos homens de acordo com a atenção e diligência que lhe dedicam.
  10 E, portanto, aquele que endurecer o coração receberá a parte menor da palavra; e o que não endurecer o coração, a ele será dada a parte maior da palavra, até que lhe seja dado conhecer os mistérios de Deus, até que os conheça na sua plenitude.
  11 E aos que endurecerem o coração será dada a menor parte da palavra, até que nada saibam a respeito de seus mistérios; e serão daí escravizados pelo diabo e levados por sua vontade à destruição. Ora, é isto o que significam as correntes do inferno.
  12 E Amuleque falou claramente a respeito da morte e de sermos elevados desta mortalidade a um estado de imortalidade; e de sermos levados perante o tribunal de Deus para sermos julgados segundo nossas obras.
  13 Então, se nosso coração se endurecer, sim, se endurecermos o coração contra a palavra, a tal ponto que em nós ela não seja encontrada, então nossa condição será terrível; porque aí seremos condenados.
  14 Porque nossas palavras nos condenarão, sim, todas as nossas obras nos condenarão; não seremos considerados sem mancha e nossos pensamentos também nos condenarão; e nesse terrível estado não nos atreveremos a olhar para o nosso Deus; e dar-nos-íamos por felizes se pudéssemos ordenar às pedras e montanhas que caíssem sobre nós, para esconder-nos de sua presença.
  15 Isto, porém, não pode acontecer. Teremos que nos apresentar perante ele em sua glória e em seu poder e em sua força, majestade e domínio; e reconhecer, para nossa eterna vergonha, que todos os seus julgamentos são justos; que ele é justo em todas as suas obras e que ele é misericordioso para com os filhos dos homens; e que ele tem todo o poder para salvar cada homem que crê em seu nome e apresenta frutos dignos do arrependimento.
  16 E agora, eis que vos digo que então virá a morte, sim, uma segunda morte que é a morte espiritual; então será o tempo em que aquele que morrer em seus pecados, quanto à morte física, sofrerá também uma morte espiritual, sim, morrerá para as coisas ligadas à retidão.
  17 Terá então chegado o tempo em que seus tormentos serão como um lago de fogo e enxofre, cujas flamas ascendem para todo o sempre; e então terá chegado o tempo em que serão acorrentados a uma destruição eterna, segundo o poder e o cativeiro de Satanás, tendo-os ele subjugado de acordo com sua vontade.
  18 Digo-vos que aí eles estarão como se não tivesse havido redenção alguma; porque não poderão ser redimidos segundo a justiça de Deus; e não poderão morrer, por não haver mais corrupção.
  19 Ora, aconteceu que quando Alma terminou de dizer estas palavras, o povo começou a ficar mais admirado.
  20 Mas havia um certo Antiona, que era governante principal entre eles, o qual se adiantou e perguntou-lhe: Que significa isso que disseste, que o homem ressuscitará dentre os mortos e será transformado deste estado mortal para um estado imortal e que a alma nunca pode morrer?
  21 Que significado tem a escritura quando diz que Deus colocou querubins e uma espada flamejante a oriente do jardim do Éden, para que nossos primeiros pais não entrassem e não comessem do fruto da árvore da vida e vivessem para sempre? E vemos, assim, que não havia possibilidade de viverem para sempre.
  22 E disse-lhe Alma: Isso é o que eu estava prestes a explicar. Ora, sabemos que Adão acaiu quando comeu do fruto proibido, segundo a palavra de Deus; e vemos assim que, por sua queda, toda a humanidade se transformou num povo perdido e decaído.
  23 E agora eis que vos digo que, se tivesse sido possível a Adão comer do fruto da árvore da vida naquela ocasião, não teria havido morte; e a palavra teria sido vã, fazendo de Deus um mentiroso, porque ele disse: Se comeres, certamente morrerás.
  24 E vemos que a morte atinge a humanidade, sim, a morte de que falou Amuleque, que é a morte física; no entanto foi concedido ao homem um tempo no qual poderia arrepender-se; portanto esta vida se tornou um estado de provação; um tempo de preparação para o encontro com Deus; um tempo de preparação para aquele estado sem fim do qual falamos, que virá depois da ressurreição dos mortos.
  25 Ora, se não tivesse sido pelo plano de redenção que foi estabelecido desde a fundação do mundo, não poderia haver ressurreição dos mortos; mas foi estabelecido um plano de redenção que levará a efeito a ressurreição dos mortos da qual se falou.
  26 E agora, eis que se tivesse sido possível que nossos primeiros pais comessem da árvore da vida, ter-se-iam tornado eternamente miseráveis, privados do estado de preparação; e assim o plano de redenção teria sido frustrado e a palavra de Deus teria sido vã, não tendo qualquer efeito.
  27 Eis, porém, que isso não aconteceu, mas foi decretado que os homens morreriam; e depois da morte eles deveriam ir a julgamento, sim, o mesmo julgamento do qual falamos, que é o fim.
  28 E depois de Deus haver decretado que estas coisas aconteceriam ao homem, eis que viu que era conveniente que os homens soubessem das coisas que decretara para eles.
  29 Enviou, portanto, anjos para conversarem com eles, os quais fizeram com que os homens contemplassem sua glória.
  30 E dali em diante começaram a invocar seu nome; portanto Deus conversou com os homens e mostrou-lhes o plano de redenção que havia sido preparado desde a fundação do mundo; e isso lhes mostrou segundo sua fé e arrependimento e suas obras santas.
  31 Portanto deu mandamentos aos homens, tendo eles antes transgredido os primeiros mandamentos relativos às coisas que eram terrenas, tornando-se como deuses, discernindo o bem do mal, colocando-se em condições de agir, ou seja, sendo colocados em condições de agir segundo sua vontade e prazer, para fazer o mal ou para fazer o bem.
  32 Portanto, depois de ter-lhes divulgado o plano de redenção, Deus lhes deu mandamentos para que não praticassem o mal, sob pena de uma segunda morte, que era uma morte eterna com referência às coisas ligadas à retidão; pois sobre esses o plano de redenção não teria poder porque, de acordo com a suprema bondade de Deus, as obras de justiça não poderiam ser destruídas.
  33 Deus, porém, chamou os homens em nome de seu Filho (sendo este o plano de redenção que foi estabelecido), dizendo: Se vos arrependerdes e não endurecerdes o coração, então terei misericórdia de vós por intermédio de meu Filho Unigênito.
  34 Portanto, todo aquele que se arrepender e não endurecer o coração terá direito à misericórdia, por intermédio de meu Filho Unigênito, para a remissão de seus pecados; e esses entrarão no meu descanso.
  35 E todo aquele que endurecer o coração e praticar iniquidade, eis que juro, na minha ira, que não entrará no meu descanso.
  36 E agora, meus irmãos, eis que vos digo que, se endurecerdes o coração, não entrareis no descanso do Senhor, porquanto vossa iniquidade o provoca a enviar a sua ira sobre vós como na primeira provocação, sim, segundo sua palavra na última provocação, tanto quanto na primeira, para a eterna destruição de vossa alma; portanto, segundo sua palavra, na derradeira morte, assim como na primeira.
  37 E agora, meus irmãos, já que conhecemos estas coisas e são verdadeiras, arrependamo-nos e não endureçamos o coração, para não provocar o Senhor nosso Deus a lançar a sua ira sobre nós nestes segundos mandamentos que nos deu; entremos, porém, no descanso de Deus, que está preparado segundo sua palavra.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 13
Homens são chamados como sumos sacerdotes por causa de sua grande fé e boas obras—Eles devem ensinar os mandamentos—São santificados por meio da retidão e entram no descanso do Senhor—Melquisedeque foi um deles—Anjos declaram boas-novas por toda a terra—Eles falarão da vinda de Cristo. Aproximadamente 82 a.C.
  
1 E outra vez, meus irmãos, desejaria chamar vossa atenção para a época em que o Senhor Deus transmitiu estes mandamentos a seus filhos; e quisera que vos lembrásseis de que o Senhor Deus ordenou sacerdotes segundo a sua santa ordem, que era segundo a ordem de seu Filho, para que ensinassem estas coisas ao povo.
  2 E esses sacerdotes foram ordenados segundo a ordem de seu Filho, de um modo que permitisse ao povo saber como esperar pelo seu Filho para receber a redenção.
  3 E este é o modo pelo qual foram ordenados, sendo chamados e preparados desde a fundação do mundo, segundo a presciência de Deus, por causa de sua grande fé e suas boas obras, sendo primeiramente livres para escolherem o bem ou o mal; portanto, tendo escolhido o bem e exercendo uma muito grande, são chamados com uma santa vocação, sim, com aquela santa vocação que lhes foi preparada com uma redenção preparatória e de conformidade com ela.
  4 E assim foram chamados para este chamado por causa de sua fé, enquanto outros rejeitaram o amor de Deus devido à dureza de seu coração e cegueira de sua mente; porquanto, se não tivesse sido por isso, poderiam ter recebido tão grande privilégio quanto seus irmãos.
  5 Ou, em resumo, no princípio achavam-se na mesma posição que seus irmãos; assim, este chamado foi preparado desde a fundação do mundo para aqueles que não endurecessem o coração, por meio da expiação do Filho Unigênito que foi preparado.
  6 E sendo assim chamados por este chamado e ordenados ao sumo sacerdócio da santa ordem de Deus, a fim de ensinarem seus mandamentos aos filhos dos homens para que estes também pudessem entrar no seu descanso.
  7 Este sumo sacerdócio sendo segundo a ordem de seu Filho, ordem essa que existia desde a fundação do mundo ou, em outras palavras, sem começo de dias nem fim de anos, sendo preparado de eternidade a toda eternidade segundo sua presciência em todas as coisas.
  8 Ora, eram ordenados da seguinte maneira: Eram chamados com um chamado e ordenados com uma santa ordenança, tomando sobre si o sumo sacerdócio da santa ordem; chamado esse e ordenança e sumo sacerdócio que não têm começo nem fim.
  9 Tornam-se, assim, sumos sacerdotes para sempre, segundo a ordem do Filho, o Unigênito do Pai, que é sem princípio de dias nem fim de anos, que é cheio de graça, equidade e verdade. E assim é. Amém.
  10 Ora, como falei sobre a santa ordem, ou seja, este sumo sacerdócio, muitos foram ordenados e tornaram-se sumos sacerdotes de Deus; e isso graças a sua grande fé e arrependimento e sua retidão perante Deus, preferindo arrepender-se e praticar a retidão a perecer.
  11 Portanto foram chamados segundo esta santa ordem e santificados; e suas vestimentas foram branqueadas pelo sangue do Cordeiro.
  12 Ora, tendo sido santificados pelo Espírito Santo, havendo suas vestimentas sido branqueadas, achando-se puros e imaculados perante Deus, só viam o pecado com horror; e houve muitos, e grande foi o seu número, que foram purificados e entraram no descanso do Senhor seu Deus.
  13 E agora, meus irmãos, quisera que vos humilhásseis perante Deus e apresentásseis frutos dignos do arrependimento, para que também venhais a entrar nesse descanso.
  14 Sim, humilhai-vos como o povo nos dias de Melquisedeque, o qual também foi um sumo sacerdote desta mesma ordem de que falei; que também tomou sobre si, para sempre, o sumo sacerdócio.
  15 E foi a esse mesmo Melquisedeque que Abraão pagou dízimos; sim, até mesmo nosso pai Abraão pagou como dízimo uma décima parte de tudo quanto possuía.
  16 Ora, essas ordenanças foram instituídas dessa maneira para que, por meio delas, o povo pudesse ter esperança no Filho de Deus, sendo um símbolo de sua ordem, ou melhor, sendo sua ordem; e isto para que pudessem esperar dele a remissão de seus pecados, a fim de entrarem no descanso do Senhor.
  17 Ora, este Melquisedeque era rei da terra de Salém; e seu povo entregara-se à pratica de iniquidades e abominações; sim, todos se haviam extraviado; praticavam toda sorte de iniquidades;
  18 Melquisedeque, porém, tendo exercido uma fé vigorosa e recebido o ofício do sumo sacerdócio segundo a santa ordem de Deus, pregou o arrependimento a seu povo. E eis que eles se arrependeram; e Melquisedeque estabeleceu paz na terra em seus dias; foi portanto chamado de príncipe da paz, pois era o rei de Salém; e governou subordinado a seu pai.
  19 Ora, houve amuitos antes dele e também houve muitos depois, mas nenhum foi maior; portanto se fez particular menção a ele.
  20 Ora, não necessito estender-me sobre o assunto; basta o que já disse. Eis que as escrituras estão diante de vós e, se quiserdes deturpá-las, será para vossa destruição.
  21 E então, tendo Alma acabado de dizer-lhes estas palavras, estendeu a mão em direção a eles e clamou com voz forte, dizendo: Agora é o momento de arrepender-se, porque o dia da salvação se aproxima;
  22 Sim, e a voz do Senhor, pela boca dos anjos, assim o declara a todas as nações; sim, declara-o para que tenham boas novas de grande alegria; sim, e proclama estas boas novas entre todo o seu povo, sim, mesmo aos que estão espalhados sobre a face da Terra; portanto chegaram até nós.
  23 E elas são-nos dadas a conhecer em termos claros, para que possamos entender e não errar; e isso por sermos errantes em uma terra estranha; somos, portanto, altamente favorecidos, porque estas boas novas nos foram declaradas em todas as partes de nossa vinha.
  24 Pois eis que os anjos as estão declarando a muitos em nossa terra, neste momento; e isso com o propósito de preparar o coração dos filhos dos homens para receber a sua palavra quando vier em sua glória.
  25 E agora nós só esperamos ouvir as alegres novas de sua vinda, que nos foram declaradas pela boca de anjos; porque o tempo se aproxima e nós não sabemos quão próximo está. Prouvera a Deus que fosse em meus dias; mas seja mais cedo ou mais tarde, nele me regozijarei.
  26 E será dado a conhecer a homens justos e justos pela boca de anjos, na ocasião de sua vinda, para que se cumpram as palavras de nossos pais, segundo o que disseram a respeito dele, conforme o espírito de profecia que estava neles.
  27 E agora, meus irmãos, desejo, do mais íntimo de meu coração, sim, com grande ansiedade e até dor, que deis ouvidos a minhas palavras e abandoneis vossos pecados e não procrastineis o dia de vosso arrependimento;
  28 Mas que vos humilheis perante o Senhor e invoqueis seu santo nome e vigieis e oreis continuamente para não serdes tentados além do que podeis suportar; e serdes assim conduzidos pelo Espírito Santo, tornando-vos humildes, mansos, submissos, pacientes, cheios de amor e longanimidade;
  29 Tendo fé no Senhor, tendo esperança de que recebereis a vida eterna, tendo sempre o amor de Deus no coração, para que sejais elevados no último dia e entreis em seu descanso.
  30 E que o Senhor vos conceda o arrependimento para não fazerdes cair sobre vós a sua ira, a fim de não serdes acorrentados pelas cadeias do inferno e não sofrerdes a segunda morte.
  31 E Alma disse ao povo muitas palavras mais que não estão escritas neste livro.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 14
Alma e Amuleque são aprisionados e espancados—Queimados os crentes e suas escrituras sagradas—Esses mártires são recebidos em glória pelo Senhor—As paredes da prisão fendem-se e caem—Alma e Amuleque são libertados e seus perseguidores, mortos. Aproximadamente 82–81 a.C.

  1 E aconteceu que depois de haver ele acabado de falar ao povo, muitos acreditaram em suas palavras e começaram a arrepender-se e a examinar as escrituras.
  2 A maior parte deles, porém, desejavam destruir Alma e Amuleque, porque estavam irados contra Alma por causa da franqueza de suas palavras a Zeezrom; e diziam também que Amuleque lhes havia mentido e havia ultrajado sua lei e também seus advogados e juízes.
  3 E estavam também zangados com Alma e Amuleque; e por eles haverem testificado tão claramente contra suas iniquidades, queriam desfazer-se deles secretamente.
  4 Aconteceu, porém, que não o fizeram; mas pegaram-nos e amarraram-nos com cordas fortes e levaram-nos perante o juiz supremo da terra.
  5 E o povo apresentou-se para testemunhar contra eles, testificando que haviam ultrajado a lei e os advogados e juízes da terra e também todo o povo que estava na terra; e também testificaram não existir mais que um Deus e que ele enviaria seu Filho entre o povo, mas não o salvaria; e o povo testificou muitas outras coisas semelhantes contra Alma e Amuleque. E isto foi feito na presença do juiz supremo da terra.
  6 E aconteceu que Zeezrom ficou assombrado com as palavras que haviam sido ditas; e ele também conhecia a cegueira da mente deles, que ele próprio havia causado com palavras mentirosas; e sua alma começou a sentir-se atormentada pela consciência da própria culpa; sim, começou a ser envolvido pelas penas do inferno.
  7 E aconteceu que começou a clamar ao povo, dizendo: Eis que eu sou culpado e estes homens são imaculados perante Deus. E começou a interceder por eles daquele momento em diante; mas eles insultaram-no, dizendo: Estás também possuído pelo diabo? E cuspiram nele e afastaram-no do meio deles, como também a todos os que acreditaram nas palavras que haviam sido ditas por Alma e Amuleque; e afastaram-nos e enviaram homens para apedrejá-los.
  8 E reuniram suas esposas e filhos; e os que acreditaram ou haviam sido ensinados a acreditar na palavra de Deus foram atirados ao fogo; e também levaram os seus registros que continham as santas escrituras e jogaram-nos igualmente no fogo, para que fossem queimados e destruídos pelo fogo.
  9 E aconteceu que levaram Alma e Amuleque ao lugar do martírio, para testemunharem a destruição dos que eram consumidos pelo fogo.
  10 E quando viu o sofrimento das mulheres e crianças que eram consumidas pelo fogo, Amuleque também sofreu e disse a Alma: Como podemos testemunhar esta cena horrível? Estendamos, pois, a mão e exerçamos o poder de Deus que está em nós e salvemo-las das chamas.
  11 Alma, porém, disse: O meu coração constrange-me a não estender a mão; porque eis que o Senhor as recebe para si em glória; e permite que eles façam isto, ou seja, que o povo lhes faça isto segundo a dureza de seu coração, para que os julgamentos a que em sua cólera os submeter sejam justos; e o sangue dos inocentes servirá de testemunho contra eles, sim, e clamará fortemente contra eles no último dia.
  12 Então Amuleque disse a Alma: Eis que talvez eles também nos queimem.
  13 E Alma disse: Faça-se segundo a vontade do Senhor. Nossa obra, porém, não está terminada; portanto não nos queimarão.
  14 Ora, aconteceu que depois de consumidos os corpos dos que foram atirados ao fogo, assim como os registros que foram lançados com eles, o juiz supremo da terra aproximou-se de Alma e Amuleque, que estavam amarrados; e esbofeteou-os no rosto e disse-lhes: Depois do que haveis presenciado, pregareis outra vez a este povo que eles serão lançados num lago de fogo e enxofre?
  15 Pois vedes que não tendes o poder de salvar aqueles que foram lançados no fogo; nem salvou-os Deus por serem da vossa fé. E o juiz esbofeteou-os novamente e perguntou-lhes: Que tendes a dizer?
  16 Ora, esse juiz pertencia à fé e ordem de Neor, que havia matado Gideão.
  17 E aconteceu que Alma e Amuleque nada lhe responderam; e ele esbofeteou-os novamente e entregou-os aos oficiais para serem lançados na prisão.
  18 E depois de haverem passado três dias na prisão, apareceram muitos advogados e juízes e sacerdotes e mestres que pertenciam à seita de Neor; e foram vê-los na prisão a fim de questioná-los sobre muitas coisas, mas eles nada lhes responderam.
  19 E aconteceu que o juiz se pôs diante deles e disse: Por que não respondeis às palavras deste povo? Não sabeis que tenho poder para vos entregar às chamas? E ordenou-lhes que falassem, mas eles nada responderam.
  20 E aconteceu que partiram e seguiram seus caminhos, mas voltaram no dia seguinte; e o juiz esbofeteou-os novamente na face. E muitos outros também se adiantaram e neles bateram, dizendo: Levantar-vos-eis novamente para julgardes este povo e condenardes nossa lei? Pois se tendes tão grande poder, por que não vos libertais?
  21 E disseram-lhes muitas coisas semelhantes, rangendo os dentes e cuspindo neles e dizendo: Com que nos pareceremos quando formos condenados?
  22 E muitas coisas semelhantes, sim, toda espécie de coisas semelhantes lhes disseram; e assim zombaram deles durante muitos dias. E não lhes deram alimento, para que padecessem fome; nem água, para que ficassem sedentos; e também lhes tiraram as vestimentas, para que ficassem nus; e assim foram amarrados com fortes cordas e confinados na prisão.
  23 E aconteceu que tendo assim sofrido durante muitos dias (e era o décimo segundo dia do décimo mês, no décimo ano em que os juízes governaram o povo de Néfi), o juiz supremo da terra de Amonia e muitos dos seus mestres e advogados foram à prisão onde Alma e Amuleque estavam amarrados com cordas.
  24 E o juiz supremo, pondo-se a sua frente, bateu neles novamente, dizendo-lhes: Se tendes o poder de Deus, livrai-vos dessas cordas e então acreditaremos que o Senhor destruirá este povo segundo vossas palavras.
  25 E aconteceu que todos se adiantaram e neles bateram, dizendo as mesmas palavras, até o último; e tendo o último falado, o poder de Deus desceu sobre Alma e Amuleque e eles levantaram-se e ficaram de pé.
  26 E Alma clamou, dizendo: Até quando, ó Senhor, teremos de sofrer estas grandes aflições? Dá-nos forças, ó Senhor, de acordo com nossa fé em Cristo, para que sejamos libertados. E eles arrebentaram as cordas com que estavam amarrados; e quando o povo viu isto, começou a fugir, pois o temor da destruição caíra sobre eles.
  27 E aconteceu que tão grande foi o seu temor que caíram por terra e não chegaram a alcançar a porta de fora da prisão; e a terra tremeu muito e as paredes da prisão partiram-se ao meio, de modo que caíram por terra; e, caindo, mataram o juiz supremo e os advogados e sacerdotes e mestres que haviam batido em Alma e Amuleque.
  28 E Alma e Amuleque saíram ilesos da prisão, porque o Senhor lhes havia concedido poder segundo sua fé em Cristo. E saíram imediatamente da prisão e ficaram livres de suas cordas; e a prisão ruiu por terra, tendo perecido todos os que nela estavam, salvo Alma e Amuleque; e dirigiram-se imediatamente à cidade.
  29 Ora, tendo os do povo ouvido um grande barulho, acorreram em multidões para saber a causa; e quando viram Alma e Amuleque saindo da prisão e as paredes por terra, foram tomados de grande medo e fugiram da presença de Alma e Amuleque, como uma cabra com sua cria foge de dois leões; e assim fugiram da presença de Alma e Amuleque.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 15
Alma e Amuleque vão para Sidom e organizam uma igreja—Alma cura Zeezrom, que se une à Igreja—Muitos são batizados e a Igreja prospera—Alma e Amuleque vão para Zaraenla. Aproximadamente 81 a.C.

  1 E aconteceu que foi ordenado a Alma e a Amuleque que partissem daquela cidade; e partiram e foram à terra de Sidom; e eis que ali encontraram todos os que haviam deixado a terra de Amonia, que haviam sido expulsos e apedrejados porque acreditavam nas palavras de Alma.
  2 E relataram-lhes tudo quanto havia acontecido a suas mulheres e filhos; e também a respeito deles próprios e do poder que os libertara.
  3 E também Zeezrom jazia enfermo em Sidom, com uma febre ardente causada por uma forte angústia mental que sua iniquidade lhe havia ocasionado; porque supunha que Alma e Amuleque já não existissem mais; e supunha que haviam sido mortos por causa de sua iniquidade. E este grande pecado e seus muitos outros pecados aguilhoavam-lhe tanto a mente que se sentia extremamente atormentado, não encontrando alívio; começou, assim, a ser consumido por uma febre ardente.
  4 Ora, quando soube que Alma e Amuleque estavam na terra de Sidom, seu coração começou a recobrar o ânimo; e imediatamente lhes enviou uma mensagem pedindo-lhes que fossem vê-lo.
  5 E aconteceu que eles foram imediatamente, atendendo à mensagem que lhes fora enviada; e entraram na casa de Zeezrom e encontraram-no na cama, doente, muito fraco, com uma febre ardente; e sua mente também estava muito atormentada por causa de suas iniquidades; e quando ele os viu, estendeu a mão e suplicou-lhes que o curassem.
  6 E aconteceu que Alma, tomando-lhe a mão, perguntou-lhe: Crês no poder de Cristo para a salvação?
  7 E ele, respondendo, disse: Sim, creio em todas as palavras que ensinaste.
  8 E disse-lhe Alma: Se crês na redenção de Cristo, podes ser curado.
  9 E ele disse: Sim, eu creio nas tuas palavras.
  10 E Alma então clamou ao Senhor, dizendo: Ó Senhor, nosso Deus, tem misericórdia deste homem e cura-o segundo sua fé em Cristo.
  11 E tendo Alma dito estas palavras, Zeezrom deu um salto, pôs-se de pé e começou a andar; e isto se deu para grande espanto de todo o povo; e a notícia deste acontecimento espalhou-se por toda a terra de Sidom.
  12 E Alma batizou Zeezrom para o Senhor; e ele começou, daquele dia em diante, a pregar ao povo.
  13 E Alma organizou uma igreja na terra de Sidom e consagrou sacerdotes e mestres na terra, a fim de batizarem para o Senhor todos os que desejassem ser batizados.
  14 E aconteceu que eram muitos, pois vinham em grupos de toda a região circunvizinha de Sidom; e eram batizados.
  15 Quanto ao povo que estava na terra de Amonia, porém, continuou a ser um povo duro de coração e obstinado; e não se arrependiam de seus pecados, atribuindo todo o poder de Alma e Amuleque ao diabo; porque eram da seita de Neor e não acreditavam no arrependimento de seus pecados.
  16 E aconteceu que Alma e Amuleque, tendo Amuleque abandonado pela palavra de Deus todo o seu ouro e prata e coisas preciosas que estavam na terra de Amonia; e tendo sido repudiado por aqueles que haviam sido seus amigos e também por seu pai e parentes;
  17 Portanto, depois que Alma organizou a igreja em Sidom, vendo uma grande mudança, sim, vendo que o povo havia refreado o orgulho de seu coração e começado a humilhar-se perante Deus e começado a reunir-se em seus santuários para adorar a Deus diante do altar, vigiando e orando continuamente para que fossem libertados de Satanás e da morte e da destruição.
  18 Ora, como eu disse, Alma, vendo todas estas coisas, tomou Amuleque e dirigiu-se à terra de Zaraenla, levando-o para sua própria casa; e confortou-o em suas tribulações e fortaleceu-o no Senhor.
  19 E assim terminou o décimo ano em que os juízes governaram o povo de Néfi.

LIVRO DE ALMA
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CAPÍTULO 16
Os lamanitas destroem o povo de Amonia—Zorã lidera os nefitas na vitória sobre os lamanitas—Alma e Amuleque e muitos outros pregam a palavra—Eles ensinam que, após sua ressurreição, Cristo aparecerá aos nefitas. Aproximadamente 81–77 a.C.

  1 E aconteceu que no décimo primeiro ano em que os juízes governaram o povo de Néfi, no quinto dia do segundo mês, tendo havido muita paz na terra de Zaraenla, não tendo havido guerras nem contendas durante um certo número de anos, até o quinto dia do segundo mês do décimo primeiro ano, um clamor de guerra foi ouvido por toda a terra.
  2 Pois eis que os exércitos dos lamanitas haviam penetrado pelas bandas do deserto nas fronteiras da terra, até a cidade de Amonia, começando a matar o povo e a destruir a cidade.
  3 E então aconteceu que antes que os nefitas pudessem reunir um exército suficiente para expulsá-los da terra, eles destruíram o povo que estava na cidade de Amonia e também alguns nas fronteiras de Noé, havendo levado outros cativos para o deserto.
  4 Ora, os nefitas desejavam resgatar aqueles que haviam sido levados cativos para o deserto.
  5 Portanto, aquele que havia sido nomeado capitão-chefe dos exércitos nefitas (e seu nome era Zorã e tinha dois filhos, Leí e Aa) ora, Zorã e seus dois filhos, sabendo que Alma era sumo sacerdote da igreja e tendo ouvido dizer que ele possuía o espírito de profecia, dirigiram-se a ele para saber onde, no deserto, o Senhor queria que fossem procurar seus irmãos que haviam sido levados cativos pelos lamanitas.
  6 E aconteceu que Alma inquiriu o Senhor sobre este assunto. E Alma voltou e disse-lhes: Eis que os lamanitas atravessarão o rio Sidon no deserto do sul, bem acima das fronteiras da terra de Mânti. E eis que ali os encontrareis, a leste do rio Sidon; e lá o Senhor vos entregará vossos irmãos que foram levados cativos pelos lamanitas.
  7 E aconteceu que Zorã e seus filhos atravessaram o rio Sidon com seus exércitos e marcharam para muito além das fronteiras de Mânti, no deserto do sul, situado no lado leste do rio Sidon.
  8 E atacaram os exércitos dos lamanitas e os lamanitas foram dispersos e impelidos para o deserto; e resgataram seus irmãos que haviam sido aprisionados pelos lamanitas e nenhum dos que haviam sido levados cativos se perdeu. E foram levados por seus irmãos para ocuparem suas próprias terras.
  9 E assim terminou o décimo primeiro ano dos juízes, tendo os lamanitas sido expulsos da terra e o povo de Amonia, destruído; sim, toda alma vivente dos amoniaítas foi destruída e também a sua grande cidade, a qual, por causa de sua grandeza, eles haviam afirmado que Deus não poderia destruir.
  10 Eis que em um dia, porém, ela ficou devastada; e os cadáveres foram mutilados pelos cães e pelas feras do deserto.
  11 Entretanto, depois de muitos dias, seus cadáveres foram amontoados na face da Terra e cobertos por uma camada fina de terra. E tão forte era o mau cheiro que o povo não ocupou a terra de Amonia por muitos anos. E foi chamada de Desolação dos Neores; pois eram da seita de Neor os que haviam sido mortos; e suas terras permaneceram desoladas.
  12 E os lamanitas não vieram mais guerrear os nefitas até o décimo quarto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi. E assim, durante três anos o povo de Néfi teve paz contínua em toda a terra.
  13 E Alma e Amuleque saíram pregando o arrependimento ao povo em seus templos e em seus santuários e também em suas sinagogas, que eram construídas à maneira dos judeus.
  14 E a todos os que desejavam ouvir suas palavras eles pregavam a palavra de Deus continuamente, sem qualquer acepção de pessoas.
  15 E assim saíram Alma e Amuleque, como também muitos outros que haviam sido escolhidos para o trabalho, a pregar a palavra por toda a terra. E o estabelecimento da igreja foi geral por toda a parte, em toda a região circunvizinha, entre todo o povo nefita.
  16 E não havia desigualdade entre eles sobre toda a face da terra, a fim de preparar a mente dos filhos dos homens, ou seja, preparar-lhes o coração para receberem a palavra que lhes seria ensinada na ocasião de sua vinda.
  17 Para que não fossem obstinados contra a palavra nem fossem descrentes e caminhassem para a destruição; mas para que recebessem a palavra com alegria e, como um ramo, fossem enxertados na verdadeira videira para poderem entrar no cdescanso do Senhor seu Deus.
  18 Ora, esses sacerdotes que saíram entre o povo pregavam contra toda mentira e embustes e invejas e contendas e malícias e vitupérios e roubos, furtos, pilhagens, assassínios, adultérios e toda espécie de lascívia, proclamando que tais coisas não deveriam existir.
  19 Falando-lhes das coisas que logo deveriam acontecer; sim, anunciando-lhes a vinda do Filho de Deus, seus sofrimentos e morte e também a ressurreição dos mortos.
  20 E muitos perguntavam sobre o lugar em que deveria aparecer o Filho de Deus; e foi-lhes ensinado que ele lhes apareceria depois de sua ressurreição; e isso o povo ouvia com grande satisfação e contentamento.
  21 E então, depois de a igreja haver sido organizada em toda a terra, tendo obtido vitória sobre o diabo, tendo a palavra de Deus sido pregada em sua pureza em toda a terra e tendo o Senhor derramado suas bênçãos sobre o povo; assim terminou o décimo quarto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA
Relato dos filhos de Mosias, que renunciaram a seus direitos ao reino pela palavra de Deus e subiram à terra de Néfi para pregar aos lamanitas; seus sofrimentos e sua libertação, segundo o registro de Alma.
Abrange os capítulos 17 a 27.

CAPÍTULO 17
Os filhos de Mosias têm o espírito de profecia—Cada um segue seu caminho para declarar a palavra aos lamanitas—Amon vai à terra de Ismael e torna-se servo do rei Lamôni—Amon salva os rebanhos do rei e mata seus inimigos junto às águas de Sébus. Vers. 1–3, aproximadamente 77 a.C.; Vers. 4, aproximadamente 91–77 a.C.; e Vers. 5–39, aproximadamente 91 a.C.

  1 E então aconteceu que quando Alma viajava da terra de Gideão para o sul, em direção à terra de Mânti, eis que, para seu assombro, encontrou os filhos de Mosias, que se dirigiam à terra de Zaraenla.
  2 Ora, esses filhos de Mosias estavam com Alma na ocasião em que o anjo lhe apareceu pela primeira vez; portanto Alma se regozijou muito por haver encontrado seus irmãos; e o que o alegrou ainda mais foi que eles ainda eram seus irmãos no Senhor; sim, e haviam-se fortalecido no conhecimento da verdade; porque eram homens de grande entendimento e haviam examinado diligentemente as escrituras para conhecerem a palavra de Deus.
  3 Isto, porém, não é tudo; haviam-se devotado a muita oração e jejum; por isso tinham o espírito de profecia; e quando ensinavam, faziam-no com poder e autoridade de Deus.
  4 E pelo espaço de quatorze anos haviam ensinado a palavra de Deus entre os lamanitas, tendo obtido grande êxito na condução de muitos ao conhecimento da verdade; sim, pelo poder de suas palavras muitos foram levados perante o altar de Deus, para invocar-lhe o nome e confessar seus pecados perante ele.
  5 Ora, foram estas as circunstâncias que ocorreram em suas viagens, pois tiveram muitas aflições; sofreram muito, tanto física quanto mentalmente, de fome, sede e cansaço; e sofreram também muitas tribulações no espírito.
  6 Ora, estas foram as suas viagens: Despediram-se de seu pai, Mosias, no primeiro ano dos juízes; recusaram o reino que o pai desejava conferir-lhes; esta era também a vontade do povo;
  7 Não obstante, partiram da terra de Zaraenla com suas espadas e suas lanças e seus arcos e suas flechas e suas fundas; e isto fizeram para conseguir alimento enquanto estivessem no deserto.
  8 E assim partiram para o deserto com o grupo que haviam escolhido, a fim de subirem à terra de Néfi para pregar a palavra de Deus aos lamanitas.
  9 E aconteceu que viajaram muitos dias no deserto; e jejuaram e oraram muito para que o Senhor lhes concedesse que uma porção da sua paz os acompanhasse e permanecesse com eles, a fim de servirem de instrumento nas mãos de Deus, para, se possível, levarem seus irmãos, os lamanitas, a conhecerem a verdade, a conhecerem a iniquidade das tradições de seus pais, que não eram certas.
  10 E aconteceu que iam alegres no Senhor; e uns disseram entre os outros: Consolai-vos; e seguiam alegres e consolados da paz do Senhor.
  11 E o Senhor também lhes disse: Ide estabelecer minha palavra entre os lamanitas, vossos irmãos; contudo sereis pacientes nos sofrimentos e aflições, para dar-lhes bons exemplos em mim; e eu farei de vós instrumentos em minhas mãos para a salvação de muitas almas.
  12 E aconteceu que o coração dos filhos de Mosias, assim como aqueles que com eles estavam, encheram-se de coragem para dirigir-se aos lamanitas e pregar-lhes a palavra de Deus.
  13 E aconteceu que, tendo chegado às fronteiras da terra dos lamanitas, separaram-se, confiando no Senhor que voltariam a reunir-se no fim de sua colheita; porque acreditavam que grande era a obra que haviam empreendido.
  14 E certamente era grande, porque se haviam proposto a pregar a palavra de Deus a um povo selvagem, duro e feroz, um povo que se deleitava em matar os nefitas e roubá-los e despojá-los; e seu coração estava nas riquezas, ou seja, no ouro e na prata e nas pedras preciosas; mas procuravam obter essas coisas pelo assassínio e pilhagem, para não terem que trabalhar por elas com as próprias mãos.
  15 De modo que eram um povo bastante indolente; muitos deles adoravam ídolos e a maldição de Deus havia caído sobre eles por causa das tradições de seus pais; não obstante, as promessas do Senhor estendiam-se a eles, sob condição de arrependimento.
  16 Por conseguinte, esse era o motivo pelo qual os filhos de Mosias haviam empreendido esse trabalho, para que talvez pudessem levá-los ao arrependimento; para que talvez os levassem a conhecer o plano de redenção.
  17 Separaram-se, portanto, uns dos outros e foram para o meio deles, cada um por si, segundo a palavra e o poder de Deus que lhe fora concedido.
  18 Ora, Amon, sendo o principal entre eles, ou melhor, aquele que administrava entre eles, separou-se deles depois de os haver abençoado segundo suas várias posições, tendo-lhes transmitido a palavra de Deus, ou seja, tendo-os ensinado antes de sua partida; e assim eles começaram a viajar por toda a terra.
  19 E Amon dirigiu-se à terra de Ismael, assim denominada segundo os filhos de Ismael, que também se tornaram lamanitas.
  20 E quando Amon entrou na terra de Ismael, os lamanitas pegaram-no e amarraram-no, pois era seu costume amarrar todos os nefitas que caíam em suas mãos e levá-los à presença do rei; e assim ficava a critério do rei matá-los ou retê-los cativos ou mandá-los para a prisão ou desterrá-los, segundo sua vontade e prazer.
  21 E assim Amon foi levado à presença do rei que governava a terra de Ismael e cujo nome era Lamôni; e ele era descendente de Ismael.
  22 E o rei perguntou a Amon se era seu desejo morar na terra, entre os lamanitas, ou entre seu povo.
  23 E Amon respondeu-lhe: Sim, desejo habitar com este povo por algum tempo; sim, e talvez até o dia de minha morte.
  24 E aconteceu que o rei Lamôni ficou muito satisfeito com Amon e ordenou que lhe desatassem as cordas; e desejava que Amon tomasse uma de suas filhas para esposa.
  25 Amon, porém, disse-lhe: Não, mas serei teu servo. Amon tornou-se portanto servo do rei Lamôni. E aconteceu que ele foi colocado entre outros servos para guardar os rebanhos de Lamôni, segundo o costume dos lamanitas.
  26 E depois de haver estado três dias a serviço do rei, quando ia com os servos lamanitas levando os rebanhos para o bebedouro que era chamado águas de Sébus, onde todos os lamanitas levavam seus rebanhos para beber.
  27 Aconteceu que quando Amon e os servos do rei levavam os rebanhos a esse bebedouro, eis que um certo número de lamanitas, que haviam dado de beber a seus rebanhos, dispersaram os rebanhos de Amon e dos servos do rei; e dispersaram-nos de tal modo que fugiram em muitas direções.
  28 Ora, os servos do rei começaram a murmurar, dizendo: Agora o rei nos matará, como fez com nossos irmãos, porque seus rebanhos foram espalhados pela maldade destes homens. E começaram a chorar amargamente, dizendo: Eis que nossos rebanhos já estão espalhados.
  29 Ora, eles choravam por temor de serem mortos. E quando Amon viu isso, seu coração encheu-se de alegria, pelo que disse: Mostrarei a estes companheiros o meu poder, ou seja, o poder que está em mim, recuperando os rebanhos do rei a fim de conquistar-lhes o coração e induzi-los a acreditar em minhas palavras.
  30 E estes foram os pensamentos de Amon, quando viu as aflições daqueles a quem chamava seus irmãos.
  31 E aconteceu que os alentava com suas palavras, dizendo: Irmãos, tende bom ânimo e partamos em busca dos rebanhos; nós reuni-los-emos e trá-los-emos de volta ao bebedouro; e assim preservaremos os rebanhos para o rei, que não nos tirará a vida.
  32 E aconteceu que foram procurar os rebanhos, seguindo Amon; correndo com muita ligeireza conseguiram deter os rebanhos do rei e levá-los novamente ao bebedouro.
  33 E aqueles homens levantaram-se novamente para espalhar os rebanhos; mas Amon disse a seus irmãos: Cercai os rebanhos, para que não fujam; eu contenderei com os homens que dispersam nossos rebanhos.
  34 Portanto fizeram como lhes ordenou Amon e ele foi pelejar com aqueles que estavam junto às águas de Sébus; e não eram poucos.
  35 Não tinham, portanto, medo de Amon, pois supunham que um de seus homens poderia matá-lo segundo seu prazer, porque não sabiam que o Senhor havia prometido a Mosias livrar seus filhos das mãos deles; nem sabiam nada a respeito do Senhor; portanto se deleitavam em destruir seus irmãos e, por isso, espalhavam os rebanhos do rei.
  36 Amon, porém, adiantou-se e começou a apedrejá-los com sua funda; sim, arremessou-lhes pedras com muita força e matou assim alguns deles, de modo que ficaram espantados com sua força; não obstante, estavam irados com a morte de seus irmãos e decidiram derrubá-lo; vendo, pois, que não conseguiam atingi-lo com pedras, avançaram, armados de clavas, para matá-lo.
  37 Eis que Amon, porém, com sua espada cortava o braço de cada homem que levantava a clava para feri-lo; pois resistiu a seus golpes, cortando-lhes o braço com o fio de sua espada, tanto que começaram a ficar assombrados e a fugir dele; sim, e não eram poucos, mas ele, com a força de seu braço, fez com que fugissem.
  38 Ora, seis deles caíram pelo arremesso de sua funda, mas com a espada somente matou o chefe; cortou entretanto quantos braços se levantaram contra ele; e não foram poucos.
  39 E tendo feito com que fugissem para bem longe, voltou; e deram de beber aos rebanhos e depois os reconduziram às pastagens do rei; dirigiram-se todos então à presença do rei, carregando os braços daqueles que haviam procurado matá-lo e que haviam sido cortados pela espada de Amon; e foram levados ao rei como testemunho das coisas que haviam feito.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 18
O rei Lamôni supõe que Amon seja o Grande Espírito—Amon ensina o rei a respeito da criação, dos procedimentos de Deus para com os homens e da redenção recebida por meio de Cristo—Lamôni crê e cai por terra, como se estivesse morto. Aproximadamente 90 a.C.

  1 E aconteceu que o rei Lamôni fez com que seus servos se apresentassem e testificassem todas as coisas que haviam visto concernentes ao assunto.
  2 E quando todos haviam testificado as coisas que presenciaram e o rei inteirou-se da fidelidade de Amon em defender seus rebanhos e também de seu grande poder ao lutar contra os que haviam procurado matá-lo, ficou muito espantado e disse: Certamente este é mais do que um homem. Eis que não é este o Grande Espírito que envia tão grandes castigos a este povo por causa de seus homicídios?
  3 E responderam ao rei, dizendo: Se ele é o Grande Espírito ou um homem, não o sabemos; sabemos, porém, que ele não pode ser morto pelos inimigos do rei; nem podem eles dispersar os rebanhos do rei quando ele está conosco, graças a sua destreza e grande força; sabemos portanto que ele é amigo do rei. E agora, ó rei, não acreditamos que um homem tenha tão grande poder, porque sabemos que ele não pode ser morto.
  4 E então, quando o rei ouviu estas palavras, disse-lhes: Agora sei que é o Grande Espírito; e veio nesta ocasião para preservar vossa vida, a fim de que eu não vos mate como matei vossos irmãos. Ora, este é o Grande Espírito de quem falaram nossos pais.
  5 Ora, esta era a tradição de Lamôni, que ele havia recebido de seu pai, de que existia um Grande Espírito. Apesar de acreditarem num Grande Espírito, pensavam que tudo que fizessem estaria certo; não obstante, começou Lamôni a temer muito, com medo de haver procedido mal ao matar seus servos;
  6 Porque ele havia matado muitos deles por haverem seus irmãos dispersado os rebanhos junto às águas; e assim, por haverem seus rebanhos sido dispersados, foram mortos.
  7 Ora, era costume destes lamanitas postarem-se perto das águas de Sébus para dispersarem os rebanhos do povo e assim levarem para suas terras muitos dos que eram dispersos, pois entre eles esta era uma forma de furtar.
  8 E aconteceu que o rei Lamôni perguntou a seus servos: Onde está esse homem que tem tão grande poder?
  9 E responderam-lhe: Eis que está tratando de teus cavalos. Ora, o rei havia ordenado a seus servos, antes da hora de dar de beber aos rebanhos, que lhe preparassem os cavalos e carros para conduzirem-no à terra de Néfi, porque na terra de Néfi fora decretada uma grande festa pelo pai de Lamôni, que era o rei de toda a terra.
  10 Ora, quando o rei Lamôni soube que Amon estava preparando seus cavalos e carros, admirou-se ainda mais de sua fidelidade, dizendo: Certamente jamais houve alguém entre todos os meus servos que me tenha sido tão fiel como este homem; porque ele se lembra de executar todas as minhas ordens.
  11 Ora, estou certo de que este é o Grande Espírito e desejaria que viesse a mim; porém não me atrevo.
  12 E aconteceu que, tendo preparado os cavalos e os carros para o rei e seus servos, Amon se dirigiu ao rei e viu que o semblante do rei se havia modificado; portanto estava para retirar-se de sua presença.
  13 E um dos servos do rei disse-lhe: Rabana, que, interpretado, significa poderoso ou grande rei, pois consideravam seus reis poderosos; e por isso disse-lhe: Rabana, o rei deseja que fiques.
  14 E Amon, voltando-se para o rei, disse-lhe: Que desejas que eu faça por ti, ó rei? E o rei não lhe respondeu pelo espaço de uma hora, de acordo com a sua medida de tempo, porque não sabia o que lhe dizer.
  15 E aconteceu que Amon perguntou novamente: Que desejas de mim? Mas o rei não lhe respondeu.
  16 E aconteceu que, estando cheio do poder de Deus, Amon percebeu portanto os pensamentos do rei. E disse-lhe: Será que é por teres ouvido que defendi teus servos e teus rebanhos e matei sete de seus irmãos com a funda e com a espada e cortei o braço de outros, a fim de defender os teus rebanhos e teus servos? Eis que será esse o motivo de tua admiração?
  17 Digo-te: Por que te admiras tanto? Eis que sou um homem e sou teu servo; portanto tudo quanto desejares, sendo justo, eu o farei.
  18 Ora, quando o rei ouviu estas palavras tornou a maravilhar-se, porque percebeu que Amon podia adiscernir-lhe os pensamentos; não obstante, o rei Lamôni abriu a boca e perguntou-lhe: Quem és tu? És tu aquele Grande Espírito que conhece todas as coisas?
  19 Amon respondeu-lhe e disse: Não sou.
  20 E disse o rei: Como conheces os pensamentos de meu coração? Podes falar sem temor a respeito destas coisas; dize-me também com que poder mataste e cortaste o braço de meus irmãos que dispersaram os meus rebanhos.
  21 E então, se me explicares a respeito destas coisas, dar-te-ei o que desejares; e se fosse necessário, defender-te-ia com meus exércitos; sei, porém, que és mais poderoso que todos eles; não obstante, conceder-te-ei tudo que desejares de mim.
  22 Ora, Amon, sendo sábio embora inofensivo, disse a Lamôni: Escutarás minhas palavras, se eu te disser por que poder faço estas coisas? E isto é o que desejo de ti.
  23 E o rei respondeu-lhe, dizendo: Sim, acreditarei em todas as tuas palavras. E assim foi apanhado com astúcia.
  24 E Amon começou a falar-lhe com ousadia, dizendo: Crês tu que existe um Deus?
  25 E ele respondeu-lhe, dizendo: Não sei o que isso significa.
  26 E disse-lhe então Amon: Crês tu que existe um Grande Espírito?
  27 E ele respondeu: Sim.
  28 E disse-lhe Amon: Este é Deus. E disse-lhe mais: Crês tu que este Grande Espírito, que é Deus, criou todas as coisas que estão nos céus e na Terra?
  29 E ele disse: Sim, eu creio que ele criou todas as coisas que estão na Terra; mas não conheço os céus.
  30 E Amon disse-lhe: O céu é o lugar onde Deus habita com todos os seus anjos.
  31 E o rei Lamôni perguntou-lhe: Fica acima da Terra?
  32 E Amon disse: Sim, e ele observa todos os filhos dos homens e conhece todos os seus apensamentos e intenções; porque por sua mão foram todos eles criados desde o princípio.
  33 E o rei Lamôni disse: Creio em todas estas coisas que disseste. Foste enviado por Deus?
  34 Respondeu-lhe Amon: Eu sou um homem; e o homem, no princípio, foi criado segundo a imagem de Deus; e sua voz chamou-me para ensinar estas coisas a este povo, para que venha a conhecer aquilo que é justo;
  35 E uma porção desse amor em mim, dando-me conhecimento e também poder segundo minha fé e desejos que estão em Deus.
  36 Ora, após ter dito estas palavras, Amon principiou pela criação do mundo e também a criação de Adão; e contou-lhe todas as coisas concernentes à queda do homem, explicando e mostrando os registros e as sagradas escrituras do povo, as quais os profetas haviam declarado desde a época em que seu pai, Leí, deixara Jerusalém.
  37 E ele também lhes relatou (ao rei e a seus servos) todas as viagens de seus pais no deserto e todos os seus sofrimentos, causados pela fome e pela sede, bem como suas labutas e assim por diante.
  38 E ele também lhes falou sobre as rebeliões de Lamã e Lemuel e dos filhos de Ismael, sim, relatou-lhes todas as rebeliões; e explicou-lhes todos os registros e escrituras, desde o tempo em que Leí deixara Jerusalém até aquela época.
  39 Isto, porém, não é tudo; pois explicou-lhes o plano de redenção, que foi preparado desde a fundação do mundo; e também fez que soubessem a respeito da vinda de Cristo e deu-lhes a conhecer todas as obras do Senhor.
  40 E aconteceu que após ter dito todas essas coisas e tê-las explicado ao rei, o rei acreditou em todas as suas palavras.
  41 E começou a clamar ao Senhor, dizendo: Ó Senhor, tem misericórdia; a mesma abundante misericórdia que tiveste para com o povo de Néfi, tem para comigo e meu povo.
  42 E então, quando disse isto, caiu por terra como se estivesse morto.
  43 E aconteceu que seus servos o pegaram e carregaram-no para junto de sua esposa e deitaram-no na cama; e ele ficou como morto pelo espaço de dois dias e duas noites; e sua mulher e seus filhos e suas filhas choraram por ele segundo o costume dos lamanitas, lamentando grandemente a sua perda.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 19
Lamôni recebe a luz da vida eterna e vê o Redentor—Os de sua casa caem por terra, dominados pelo assombro, e alguns vêem anjos—Amon é preservado milagrosamente—Ele batiza muitos e estabelece uma igreja entre eles. Aproximadamente 90 a.C.
  
1 E aconteceu que, passados dois dias e duas noites, estavam a ponto de levar seu corpo e depositá-lo em um sepulcro que haviam feito com o propósito de enterrar seus mortos.
  2 Ora, a rainha, tendo ouvido falar sobre a fama de Amon, mandou portanto chamá-lo a sua presença.
  3 E aconteceu que Amon fez o que lhe foi ordenado e procurou a rainha e perguntou-lhe o que desejava que ele fizesse.
  4 E ela disse-lhe: Os servos de meu marido informaram-me que és profeta de um santo Deus e que tens o poder de realizar grandes obras em seu nome;
  5 Portanto, se assim é, desejo que entres e vejas meu marido, porque ele já está deitado em seu leito pelo espaço de dois dias e duas noites; e alguns dizem que ele não está morto, porém outros dizem que morreu e cheira mal e que deveria ser sepultado; mas para mim ele não cheira mal.
  6 Ora, isso era o que Amon desejava, porque sabia que o rei Lamôni estava sob o poder de Deus; sabia que o escuro véu da incredulidade lhe estava sendo tirado da mente e que a luz que lhe iluminava a mente, que era a luz da glória de Deus, que era uma luz maravilhosa de sua bondade; sim, essa luz havia-lhe infundido tanta alegria na alma, tendo-se dissipado a nuvem de escuridão, que a luz da vida eterna se lhe havia acendido na alma; sim, sabia que isto havia dominado o corpo natural do rei e que ele fora arrebatado em Deus;
  7 Portanto o que a rainha lhe pediu era unicamente o que ele desejava. Assim, entrou para ver o rei, como lhe havia pedido a rainha; e vendo o rei, soube que ele não estava morto.
  8 Disse então à rainha: Ele não está morto, mas dorme em Deus e amanhã se levantará outra vez; portanto não o sepultes.
  9 E disse-lhe Amon: Crês tu nisso? E ela disse-lhe: Não tive prova alguma, a não ser a tua palavra e a palavra de nossos servos; não obstante, acredito que será como dizes.
  10 E disse-lhe Amon: Abençoada sejas por causa de tua grande ; digo-te, mulher, que nunca houve tão grande fé entre todo o povo nefita.
  11 E aconteceu que ela velou junto à cama do marido daquele momento até o dia seguinte, na hora estabelecida por Amon para que se levantasse.
  12 E aconteceu que ele se levantou, conforme as palavras de Amon; e, ao levantar-se, estendeu a mão à mulher e disse-lhe: Abençoado seja o nome de Deus e bendita és tu.
  13 Porque tão certo como tu vives, eis que vi meu Redentor; e ele virá e nascerá de uma mulher e redimirá toda a humanidade que crê em seu nome. Ora, tendo dito estas palavras, transbordou-se-lhe o coração e outra vez ele caiu por terra, de alegria; e a rainha também caiu por terra.
  14 Ora, Amon, vendo que a força do Senhor se havia derramado de acordo com suas orações, sobre os lamanitas, seus irmãos, que haviam sido a causa de tanta dor entre os nefitas, ou melhor, entre todo o povo de Deus, devido a suas iniquidades e suas tradições, caiu de joelhos e começou a extravasar a alma em oração e agradecimento a Deus pelo que havia feito por seus irmãos; e foi também dominado pela alegria; e assim, todos os três caíram por terra.
  15 Ora, quando os servos do rei viram que eles haviam caído por terra, também começaram a clamar a Deus, porque o temor do Senhor também se havia apoderado deles, pois foram eles que se haviam apresentado perante o rei e testificado a ele o grande poder de Amon.
  16 E aconteceu que invocaram o nome do Senhor com toda a força, até caírem todos por terra, exceto uma das mulheres lamanitas, por nome Abis, que muitos anos antes se convertera ao Senhor graças a uma notável visão de seu pai.
  17 Assim, tendo sido convertida ao Senhor e jamais o tendo divulgado, quando viu que todos os servos de Lamôni haviam caído por terra e que também se achavam prostrados por terra sua ama, a rainha, e o rei e Amon, soube que era o poder de Deus; e acreditando que esta oportunidade, informando ao povo o que se passara entre eles, que, contemplando esta cena, seriam levados a acreditar no poder de Deus, ela correu, portanto, de casa em casa, comunicando o sucedido ao povo.
  18 E começaram a reunir-se na casa do rei. E juntou-se uma multidão que, admirada, viu que o rei e a rainha e seus servos estavam prostrados por terra e ali jaziam como mortos; e também viram Amon e eis que era um nefita.
  19 E então começaram a murmurar entre si; alguns diziam que era um grande mal que havia caído sobre eles, ou seja, sobre o rei e sua casa, porque ele havia permitido que o nefita permanecesse na terra.
  20 Outros, porém, os repreendiam, dizendo: O rei trouxe este mal sobre sua casa porque ele matou seus servos, cujos rebanhos haviam sido dispersos nas águas de Sébus.
  21 E eles também foram repreendidos por aqueles homens que, junto às águas de Sébus, haviam dispersado os rebanhos que pertenciam ao rei; porque estavam indignados com Amon, por causa do número de seus irmãos que ele havia matado junto às águas de Sébus enquanto defendia os rebanhos do rei.
  22 Ora, um deles, cujo irmão havia sido morto pela espada de Amon, estando muito irado contra Amon, desembainhou a espada e adiantou-se para fazê-la cair sobre Amon e matá-lo; e ao levantar a espada para golpeá-lo, eis que caiu morto.
  23 Ora, vemos que Amon não podia ser morto, porque o Senhor dissera a Mosias, seu pai: Poupá-lo-ei e acontecerá com ele segundo a tua fé; portanto, Mosias confiara-o ao Senhor.
  24 E aconteceu que quando a multidão viu que o homem que levantara a espada para matar Amon havia caído morto, todos foram tomados pelo medo e não ousaram estender a mão para tocá-lo nem a qualquer dos que haviam caído; e começaram novamente a maravilhar-se, imaginando qual seria a causa desse grande poder ou o que poderiam significar todas essas coisas.
  25 E aconteceu que muitos dentre eles diziam que Amon era o Grande Espírito; e outros diziam que ele havia sido enviado pelo Grande Espírito;
  26 Mas outros repreendiam a todos, dizendo que ele era um monstro enviado pelos nefitas para atormentá-los.
  27 E havia alguns que diziam ter sido Amon enviado pelo Grande Espírito para afligi-los por causa de suas iniquidades; e que era o Grande Espírito que sempre auxiliara os nefitas, que sempre os livrara de suas mãos; e diziam que fora esse Grande Espírito que havia destruído tantos de seus irmãos, os lamanitas.
  28 E assim a disputa entre eles tornou-se muito acalorada. E enquanto estavam deste modo discutindo, a serva que fizera com que a multidão se reunisse, vendo as disputas que havia entre o povo, entristeceu-se muito, até as lágrimas.
  29 E aconteceu que, tendo-se adiantado, tomou a mão da rainha para ver se conseguia levantá-la do chão; e assim que lhe tocou a mão, ela levantou-se e clamou em alta voz, dizendo: Oh! Abençoado Jesus, que me salvou de um inferno horrível! Ó Deus bendito, tem misericórdia deste povo!
  30 E tendo dito isso, juntou as mãos, cheia de alegria, dizendo muitas palavras que não foram compreendidas; e tendo feito isso, tomou o rei Lamôni pela mão e eis que ele se levantou e pôs-se de pé.
  31 E ele, vendo a contenda entre seu povo, imediatamente se adiantou e começou a repreendê-los e a ensinar-lhes as palavras que ouvira da boca de Amon; e todos os que deram ouvidos a suas palavras creram e foram convertidos ao Senhor.
  32 Mas houve muitos entre eles que não deram ouvidos a suas palavras; portanto seguiram seu caminho.
  33 E aconteceu que quando se levantou, Amon também pregou a eles e assim também fizeram todos os servos de Lamôni; e todos disseram ao povo a mesma coisa, que seu coração havia sido transformado; que não desejavam mais praticar o mal.
  34 E eis que muitos declararam ao povo que haviam visto anjos e que com eles haviam conversado; e, assim, relataram-lhes coisas de Deus e de sua justiça.
  35 E aconteceu que muitos deles acreditaram em suas palavras; e todos os que acreditaram foram batizados; e tornaram-se um povo justo e organizaram uma igreja entre eles.
  36 E assim começou a obra do Senhor entre os lamanitas; deste modo o Senhor começou a derramar-lhes o seu amor; e vemos que o seu braço está estendido a todos os povos que se arrependem e crêem em seu nome.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 20
O Senhor envia Amon a Midôni para libertar seus irmãos aprisionados—Amon e Lamôni encontram o pai de Lamôni, que é rei de toda aquela terra—Amon compele o velho rei a aprovar a libertação de seus irmãos. Aproximadamente 90 a.C.

  1 E aconteceu que depois de haverem eles organizado uma igreja naquela terra, o rei Lamôni desejou que Amon fosse com ele à terra de Néfi para apresentá-lo a seu pai.
  2 E Amon ouviu a voz do Senhor, dizendo: Não subirás à terra de Néfi, porque eis que o rei procurará tirar-te a vida; irás porém à terra de Midôni; porque eis que teu irmão Aarão e também Mulóqui e Amá se acham na prisão.
  3 Ora, aconteceu que quando ouviu isto, Amon disse a Lamôni: Eis que meu irmão e meus companheiros estão na prisão em Midôni e eu para lá irei a fim de libertá-los.
  4 Então Lamôni disse a Amon: Sei que com o poder do Senhor podes realizar todas as coisas. Irei porém contigo à terra de Midôni, porque o rei da terra de Midôni, cujo nome é Antiono, é meu amigo; portanto irei à terra de Midôni, a fim de agradar ao rei da terra e ele soltará teus irmãos da prisão. Então lhe perguntou Lamôni: Quem te informou que teus irmãos estavam na prisão?
  5 E respondeu-lhe Amon: Ninguém me contou, a não ser Deus; e ele disse-me: Vai libertar teus irmãos, porque se acham na prisão, na terra de Midôni.
  6 Ora, quando Lamôni ouviu isso, fez com que os servos aprontassem seus cavalos e seus carros.
  7 E disse a Amon: Vem, descerei contigo à terra de Midôni e lá suplicarei ao rei que liberte teus irmãos da prisão.
  8 E aconteceu que Amon e Lamôni, quando para lá se dirigiam, encontraram o pai de Lamôni, que era rei de toda a terra.
  9 E eis que o pai de Lamôni lhe perguntou: Por que não vieste à festa naquele grande dia em que dei uma festa a meus filhos e a meu povo?
  10 E também lhe perguntou: Para onde vais com esse nefita, que é um dos filhos de um mentiroso?
  11 E aconteceu que Lamôni, temendo ofendê-lo, explicou-lhe para onde ia.
  12 E contou-lhe também todos os motivos de haver permanecido em seu próprio reino, não tendo ido à festa que seu pai havia preparado.
  13 E então, quando Lamôni explicou-lhe todas essas coisas, eis que, para seu espanto, indignou-se o pai contra ele, dizendo: Lamôni, tu vais libertar esses nefitas, que são filhos de um mentiroso. Eis que ele roubou nossos pais; e agora seus filhos estão entre nós, a fim de enganar-nos com suas astúcias e mentiras, para novamente nos despojar de nossas propriedades.
  14 Ora, o pai de Lamôni ordenou-lhe que matasse Amon com a espada. E ordenou-lhe também que não fosse à terra de Midôni, mas que voltasse com ele à terra de Ismael.
  15 Lamôni, porém, disse-lhe: Não matarei Amon nem voltarei contigo à terra de Ismael, mas irei à terra de Midôni libertar os irmãos de Amon, porque sei que são homens justos e profetas do verdadeiro Deus.
  16 Ora, quando seu pai ouviu estas palavras, irou-se contra ele e desembainhou a espada para derrubá-lo por terra.
  17 Mas Amon adiantou-se e disse-lhe: Eis que tu não matarás teu filho; não obstante, melhor seria que ele morresse do que tu, porque eis que ele se arrependeu de seus pecados; mas se tu caísses agora, com tua ira, tua alma não poderia ser salva.
  18 E também é conveniente que te reprimas, porque, se matasses teu filho, sendo ele um homem inocente, o seu sangue clamaria da terra ao Senhor seu Deus, para que a vingança caísse sobre ti; e talvez perdesses tua alma.
  19 Ora, tendo dito Amon essas palavras, ele respondeu-lhe, dizendo: Eu sei que, se matasse meu filho, derramaria sangue inocente; porque foste tu que procuraste destruí-lo.
  20 E estendeu a mão para matar Amon. Mas Amon resistiu a seus golpes e feriu-lhe também o braço, de modo que não pôde mais usá-lo.
  21 Então o rei, vendo que Amon podia matá-lo, começou a suplicar-lhe que lhe poupasse a vida.
  22 Amon, porém, levantou a espada e disse-lhe: Eis que te matarei, a menos que permitas que meus irmãos sejam tirados da prisão.
  23 Então o rei, temendo perder a vida, disse: Se me poupares, conceder-te-ei tudo que pedires, até metade de meu reino.
  24 Ora, quando Amon viu que havia impressionado o velho rei como desejava, disse-lhe: Se permitires que meus irmãos sejam libertados da prisão e também que Lamôni conserve seu reino; e se não ficares aborrecido com ele, mas permitires que ele aja segundo sua própria vontade em tudo quanto determinar, então te pouparei; do contrário ferir-te-ei até caíres por terra.
  25 Ora, quando Amon disse essas palavras, o rei começou a regozijar-se por causa de sua vida.
  26 E quando viu que Amon não desejava matá-lo e quando viu também o grande amor que ele tinha por seu filho Lamôni, ficou muito admirado e disse: Por teres tu desejado somente que eu libertasse teus irmãos e permitisse que meu filho Lamôni conservasse o reino, eis que te concederei que meu filho conserve o reino, de hoje em diante e para sempre; e eu não mais o governarei.
  27 E também te concederei que teus irmãos sejam libertados da prisão e tu e teus irmãos podereis vir a mim em meu reino, porque desejarei muito ver-te. Pois o rei estava grandemente admirado com as palavras que ele proferira e também com as palavras de seu filho Lamôni; e desejava, portanto, aprendê-las.
  28 E aconteceu que Amon e Lamôni continuaram sua viagem para a terra de Midôni. E Lamôni achou graça aos olhos do rei da terra; portanto os irmãos de Amon foram tirados da prisão.
  29 E quando encontrou seus irmãos, Amon ficou muito triste porque eis que estavam nus e sua pele muito marcada, devido às fortes cordas com que estavam atados. E também haviam sofrido fome, sede e toda espécie de aflições; não obstante, haviam sido pacientes em todos os seus sofrimentos.
  30 E aconteceu que haviam tido a infelicidade de cair nas mãos de um povo mais duro e obstinado; portanto não quiseram escutar-lhes as palavras, tendo-os expulsado e batido neles, tendo-os enxotado de casa em casa e de lugar em lugar, até chegarem à terra de Midôni; e ali foram capturados e postos na prisão e amarrados com fortes cordas; e ficaram encarcerados por muitos dias, sendo libertados por Lamôni e Amon.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA
Relato da prédica de Aarão e Mulóqui e seus irmãos aos lamanitas.
Abrange os capítulos 21 a 26.

CAPÍTULO 21
Aarão ensina os amalequitas a respeito de Cristo e sua expiação—Aarão e seus irmãos são aprisionados em Midôni—Após sua libertação, eles ensinam nas sinagogas e fazem muitos conversos—Lamôni concede liberdade religiosa ao povo, na terra de Ismael. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 Ora, quando Amon e seus irmãos se separaram nas fronteiras da terra dos lamanitas, eis que Aarão seguiu viagem para a terra que os lamanitas denominavam Jerusalém, em memória da terra natal de seus pais; e ficava distante e confinava com as fronteiras de Mórmon.
  2 Ora, os lamanitas e os amalequitas e o povo de Amulon haviam construído uma grande cidade, que se chamava Jerusalém.
  3 Ora, os lamanitas já eram, por si mesmos, bastante obstinados; porém os amalequitas e os amulonitas eram-no ainda mais; conseguiram, portanto, fazer com que os lamanitas endurecessem o coração, com que aumentassem suas iniquidades e abominações.
  4 E aconteceu que Aarão foi à cidade de Jerusalém e começou primeiro a pregar aos amalequitas. E começou a pregar-lhes em suas sinagogas, porque haviam construído sinagogas segundo a ordem dos neores; porque muitos dos amalequitas e amulonitas pertenciam à ordem dos neores.
  5 Assim, quando Aarão entrou em uma das suas sinagogas para pregar ao povo e enquanto lhes falava, eis que se levantou um amalequita e começou a discutir com ele, dizendo: O que é que testificaste? Viste tu um anjo? Por que é que os anjos não nos aparecem? Eis que este povo não é tão bom quanto teu povo?
  6 Tu também dizes que, a menos que nos arrependamos, pereceremos. Como conheces o pensamento e o intento de nosso coração? Como sabes que temos motivos para nos arrependermos? Como sabes que não somos um povo justo? Eis que construímos santuários e reunimo-nos para adorar a Deus. Nós cremos que Deus salvará todos os homens.
  7 E aí Aarão lhe disse: Crês tu que o Filho de Deus virá redimir a humanidade de seus pecados?
  8 E o homem respondeu-lhe: Não acreditamos que saibas de tais coisas. Não acreditamos nessas tradições tolas. Não acreditamos que saibas de coisas futuras nem tampouco cremos que teus pais ou nossos pais tivessem conhecimento das coisas de que falaram, daquilo que está para vir.
  9 E Aarão começou a explicar-lhes as escrituras a respeito da vinda de Cristo, como também sobre a ressurreição dos mortos; e que não poderia haver redenção para a humanidade a não ser pela morte e sofrimentos de Cristo e a expiação de seu sangue.
  10 E aconteceu que quando começou a expor-lhes essas coisas, ficaram zangados com ele e começaram a zombar dele; e não quiseram dar ouvidos às palavras que ele proferia.
  11 Portanto, quando ele viu que não dariam ouvidos a suas palavras, saiu da sinagoga e foi a uma aldeia que se chamava Ani-Ânti e aí encontrou Mulóqui pregando-lhes a palavra; e também Amá e seus irmãos. E discutiam com muitos sobre a palavra.
  12 E aconteceu que viram que o povo ia endurecer o coração; portanto partiram e chegaram à terra de Midôni. E pregaram a palavra a muitos; e poucos acreditaram nas palavras que lhes foram ensinadas.
  13 No entanto, Aarão e alguns de seus irmãos foram apanhados e encarcerados. Os restantes fugiram da terra de Midôni para as regiões circunvizinhas.
  14 E os que foram postos na prisão sofreram muito e foram libertados pela mão de Lamôni e Amon; e foram alimentados e vestidos.
  15 E saíram novamente para pregar a palavra; e assim foram libertados da prisão pela primeira vez; e assim haviam sofrido.
  16 E iam, assim, para onde os guiava o Senhor, pregando a palavra de Deus em todas as sinagogas dos amalequitas ou em todas as assembléias dos lamanitas onde lhes era permitido entrar.
  17 E aconteceu que o Senhor começou a abençoá-los de tal modo que levaram muitos ao conhecimento da verdade; sim, e convenceram muitos de seus pecados e de que as tradições de seus pais não eram corretas.
  18 E aconteceu que Amon e Lamôni voltaram da terra de Midôni para a terra de Ismael, que era a terra de sua herança.
  19 E o rei Lamôni não permitiu que Amon o servisse ou fosse seu servo.
  20 Mas fez com que se construíssem sinagogas na terra de Ismael e fez com que seu povo, ou seja, o povo governado por ele, se reunisse.
  21 E regozijou-se neles e ensinou-lhes muitas coisas. E declarou-lhes também que eram um povo que se achava sob sua autoridade e que eram um povo livre; livre da opressão do rei, seu pai, porque seu pai lhe havia permitido governar o povo que estava na terra de Ismael e em toda a terra circunvizinha.
  22 E declarou-lhes também que tinham liberdade para adorar o Senhor seu Deus segundo seus desejos, onde quer que estivessem, se a região ficasse sob a autoridade do rei Lamôni.
  23 E Amon pregou ao povo do rei Lamôni; e aconteceu que lhes ensinou todas as coisas concernentes à retidão. E exortava-os diariamente, com toda a diligência; e eles deram ouvidos a sua palavra e eram zelosos no cumprimento dos mandamentos do Senhor.

LIVRO DE ALMA
FILHO DE ALMA

CAPÍTULO 22
Aarão ensina o pai de Lamôni a respeito da Criação, da queda de Adão e do plano de redenção, por meio de Cristo—O rei e toda a sua casa são convertidos—Explica-se a divisão da terra entre os nefitas e os lamanitas. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 Ora, como Amon estava continuamente ensinando o povo de Lamôni, voltaremos à história de Aarão e seus irmãos; porque, tendo partido da terra de Midôni, ele foi guiado à terra de Néfi, até a casa do rei que governava toda a terra, exceto a terra de Ismael; e era o pai de Lamôni.
  2 E aconteceu que, tendo entrado no palácio do rei com os seus irmãos e tendo-se inclinado diante do rei, disse-lhe: Eis, ó rei, que somos os irmãos de Amon, que livraste da prisão.
  3 E agora, ó rei, se nos poupares a vida, seremos teus servos. E disse-lhes o rei: Levantai-vos, porque vos concederei a vida e não permitirei que sejais meus servos; insistirei, porém, em que me ensineis, porque minha mente ficou um tanto perturbada pela generosidade e grandeza das palavras de vosso irmão Amon; e desejo saber por que motivo não subiu ele de Midôni convosco.
  4 E Aarão disse ao rei: Eis que a força do Senhor o chamou para outro lugar; ele foi para a terra de Ismael a fim de ensinar o povo de Lamôni.
  5 Disse-lhes então o rei: O que é isso que disseste sobre a força do Senhor? Eis que é isso que me perturba.
  6 E, também, o que é isso que disse Amon: Se vos arrependerdes, sereis salvos; e se não vos arrependerdes, sereis afastados no último dia?
  7 E Aarão, respondendo-lhe, disse: Crês tu que existe um Deus? E o rei respondeu: Sei que os amalequitas dizem existir um Deus e permiti-lhes construir santuários a fim de que se reunissem para adorá-lo. E se agora dizes que existe um Deus, eis que acreditarei.
  8 E então, quando Aarão ouviu isso, alegrou-se-lhe o coração e ele disse: Eis que, tão certo como tu vives, ó rei, existe um Deus.
  9 E disse o rei: É Deus aquele Grande Espírito que tirou nossos pais da terra de Jerusalém?
  10 E disse-lhe Aarão: Sim, ele é aquele Grande Espírito e criou todas as coisas, tanto no céu como na Terra. Acreditas nisso?
  11 E ele disse: Sim, acredito que o Grande Espírito criou todas as coisas e desejo que me ensines a respeito de todas essas coisas; e eu acreditarei em tuas palavras.
  12 E aconteceu que Aarão, quando viu que o rei acreditaria em suas palavras, começou a ler-lhe as escrituras, desde a criação de Adão: como criou Deus o homem a sua própria imagem e que Deus lhe deu mandamentos; e que, por causa da transgressão, o homem caiu.
  13 E Aarão explicou-lhe as escrituras, desde a criação de Adão, expondo-lhe a queda do homem e seu estado carnal; e também o plano de redenção que havia sido preparado desde a fundação do mundo, por meio de Cristo, para todos os que acreditassem em seu nome.
  14 E tendo o homem caído, por si mesmo nada podia merecer; mas os sofrimentos e a morte de Cristo expiam seus pecados por meio da fé e do arrependimento e assim por diante; e ele rompe as ligaduras da morte, para que a sepultura não seja vitoriosa e para que o aguilhão da morte seja consumido na esperança de glória; e Aarão explicou todas essas coisas ao rei.
  15 E aconteceu que, tendo Aarão explicado estas coisas ao rei, o rei disse: Que deverei fazer para conseguir essa vida eterna da qual falaste? Sim, que deverei fazer para nascer de Deus, arrancar este espírito iníquo de meu peito e receber o amor de Deus, a fim de encher-me de júbilo e não ser afastado no último dia? Eis que, disse ele, renunciarei a tudo quanto possuo; sim, abandonarei o meu reino para poder receber essa grande alegria.
  16 Mas disse-lhe Aarão: Se desejas isto, se te curvares diante de Deus, sim, se te arrependeres de todos os teus pecados e te curvares diante de Deus e invocares o seu nome com fé, acreditando que receberás, então obterás a esperança que desejas.
  17 E aconteceu que quando Aarão proferiu estas palavras, o rei curvou-se diante do Senhor, de joelhos; sim, prostrou-se por terra e clamou de todo o coração, dizendo:
  18 Ó Deus, Aarão disse-me que existe um Deus e, se existe um Deus e se tu és Deus, faze-mo saber; e abandonarei todos os meus pecados para conhecer-te, para que eu possa ser levantado dentre os mortos e salvo no último dia. E quando o rei disse essas palavras, caiu como que ferido de morte.
  19 E aconteceu que seus servos correram para contar à rainha tudo o que sucedera ao rei. E ela dirigiu-se para onde estava o rei; e quando o viu caído como se estivesse morto e também Aarão e seus irmãos ali parados como se fossem os causadores de sua queda, irou-se contra eles e ordenou que seus servos, ou seja, os servos do rei, os prendessem e matassem.
  20 Ora, os servos haviam presenciado o motivo da queda do rei; portanto não se atreviam a deitar as mãos em Aarão e seus irmãos; e intercederam à rainha, dizendo: Por que ordenas que matemos esses homens, quando eis que um deles é mais poderoso que nós todos? Cairemos, portanto, diante deles.
  21 Ora, quando a rainha viu o temor de seus servos, começou também a sentir grande temor de que algum mal lhe acontecesse. E ordenou aos servos que fossem chamar o povo, para que matassem Aarão e seus irmãos.
  22 Ora, quando Aarão viu a determinação da rainha, ele, conhecendo também a dureza de coração do povo, temeu que se reunisse uma multidão e daí resultassem grandes contendas e distúrbios entre eles; estendeu portanto a mão e levantou o rei, dizendo-lhe: Levanta-te. E ele pôs-se em pé, recuperando as forças.
  23 Ora, isso foi feito na presença da rainha e de muitos dos servos. E quando viram isso, ficaram muito admirados e começaram a temer. E o rei adiantou-se e começou a ensiná-los. E ensinou-os de tal modo que toda a sua casa se converteu ao Senhor.
  24 Ora, reunira-se uma multidão, por causa das ordens da rainha; e começou a haver grandes murmurações entre eles, por causa de Aarão e seus irmãos.
  25 Mas o rei adiantou-se e pregou-lhes. E tranqüilizaram-se em relação a Aarão e aos que com ele estavam.
  26 E aconteceu que o rei, vendo que o povo se tranqüilizara, fez com que Aarão e seus irmãos fossem para o meio da multidão e pregassem-lhes a palavra.
  27 E aconteceu que o rei enviou uma proclamação por toda a terra, a todo o seu povo que vivia em toda a sua terra, que vivia em todas as regiões circunvizinhas, terra que confinava com o mar a leste e a oeste e que era dividida da terra de Zaraenla por uma estreita faixa de deserto que se estendia do mar do leste ao mar do oeste e contornava a costa e as fronteiras do deserto que ficava ao norte, perto da terra de Zaraenla, através das fronteiras de Mânti, à cabeceira do rio Sidon, correndo de leste para oeste, e assim estavam os lamanitas separados dos nefitas.
  28 Ora, os mais indolentes dos lamanitas viviam no deserto e habitavam em tendas; e estavam espalhados pelo deserto a oeste, na terra de Néfi; sim, como também a oeste da terra de Zaraenla, beirando a costa; e a oeste, na terra de Néfi, no local da primeira herança de seus pais; e assim ao longo da costa.
  29 E também havia muitos lamanitas no leste, junto à costa, para onde os nefitas os haviam impelido. Desse modo os nefitas estavam quase rodeados pelos lamanitas; não obstante, os nefitas haviam-se apoderado de todas as regiões do norte da terra, que beiravam o deserto, na cabeceira do rio Sidon, de leste a oeste do lado do deserto; no norte, até chegar à terra a que deram o nome de Abundância.
  30 E confinava com a terra a que chamavam Desolação, a qual estava tão ao norte que adentrava a terra que havia sido povoada e destruída, de cujos ossos já falamos, que fora descoberta pelo povo de Zaraenla, tendo sido o local de seu primeiro desembarque.
  31 E daí subiram até o deserto do sul. E assim foi que a terra do norte se chamou Desolação e a terra do sul se chamou Abundância, sendo ela o deserto que é cheio de todo tipo de animais selvagens de toda espécie, uma parte dos quais havia vindo da terra do norte à procura de alimento.
  32 E assim, a distância entre o mar do leste e o mar do oeste, pela fronteira entre Abundância e a terra de Desolação, era o equivalente a um dia e meio de viagem para um nefita. E assim, a terra de Néfi e a terra de Zaraenla estavam quase que rodeadas por água, havendo uma pequena faixa de terra entre a terra do norte e a terra do sul.
  33 E aconteceu que os nefitas haviam povoado a terra de Abundância, desde o mar do leste até o mar do oeste; e assim os nefitas, em sua sabedoria, com seus guardas e seus exércitos, haviam confinado os lamanitas no sul, para que desse modo não mais ocupassem as terras ao norte e não invadissem a terra do norte.
  34 Portanto os lamanitas não podiam mais ter terras, a não ser na terra de Néfi e nos desertos a sua volta. Ora, nisto os nefitas foram prudentes, como os lamanitas eram seus inimigos, não sofreriam ataques por todos os lados e teriam também um país onde se refugiar, segundo seus desejos.
  35 E agora eu, depois de haver relatado isto, volto à história de Amon e Aarão, Ômner e Hímni e seus irmãos.

LIVRO DE ALMA
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CAPÍTULO 23
Proclamada a liberdade religiosa—Convertidos os lamanitas de sete terras e cidades—Eles autodenominam-se ânti-néfi-leítas e ficam livres da maldição—Os amalequitas e os amulonitas rejeitam a verdade. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 Eis que aconteceu que o rei dos lamanitas enviou uma proclamação a todo o seu povo, para que não tocassem em Amon nem em Aarão nem em Ômner nem em Hímni ou em qualquer de seus irmãos que iriam pregar a palavra de Deus, não importando onde estivessem, em qualquer parte de sua terra.
  2 Sim, enviou um decreto a seu povo, que não deveriam deitar-lhes as mãos para amarrá-los nem colocá-los na prisão; nem deveriam cuspir neles nem espancá-los nem expulsá-los de suas sinagogas nem açoitá-los; nem tampouco apedrejá-los, mas que eles tivessem livre acesso a suas casas e também a seus templos e seus santuários.
  3 Para que assim pudessem ir pregar a palavra segundo seus desejos, pois o rei havia-se convertido ao Senhor, assim como toda a sua casa; enviou portanto uma proclamação ao povo, por toda a terra, a fim de que a palavra de Deus não encontrasse obstrução, mas fosse levada a toda a terra, para que o povo se convencesse das iníquas tradições de seus pais e se convencesse de que todos eram irmãos e que não deveriam matar nem pilhar nem roubar nem cometer adultério nem cometer qualquer tipo de iniquidade.
  4 E então aconteceu que, tendo o rei enviado essa proclamação, Aarão e seus irmãos foram de cidade em cidade, de uma casa de adoração a outra, organizando igrejas e consagrando sacerdotes e mestres entre os lamanitas, por toda a terra, a fim de pregarem e ensinarem a palavra de Deus entre eles; e assim começaram a lograr muito êxito.
  5 E milhares foram levados a conhecer o Senhor, sim, milhares foram levados a acreditar nas tradições dos nefitas; e foram-lhes ensinados os registros e as profecias que haviam sido transmitidos até o presente.
  6 E tão certo quanto o Senhor vive, assim também quantos acreditaram, ou seja, quantos foram levados a conhecer a verdade pelas pregações de Amon e seus irmãos, segundo o espírito de profecia e o poder de Deus que fazia milagres por meio deles; sim, digo-vos que, assim como o Senhor vive, todos os lamanitas que acreditaram em suas pregações e foram convertidos ao Senhor nunca apostataram.
  7 Pois tornaram-se um povo justo e depuseram as armas de sua rebelião, para não mais lutarem contra Deus nem contra qualquer de seus irmãos.
  8 Ora, estes são os que se converteram ao Senhor:
  9 Os lamanitas que estavam na terra de Ismael;
  10 E também os lamanitas que estavam na terra de Midôni;
  11 E também os lamanitas que estavam na cidade de Néfi;
  12 E também os lamanitas que se achavam na terra de Silom e que se achavam na terra de Senlon e na cidade de Lemuel e na cidade de Simnilom.
  13 E são esses os nomes das cidades dos lamanitas que foram convertidos ao Senhor; e são esses os que depuseram as armas de sua rebelião, sim, todas as suas armas de guerra; e todos eram lamanitas.
  14 E os amalequitas não foram convertidos, exceto um; e nenhum dos amulonitas se converteu, mas endureceram o coração e também o coração dos lamanitas daquela parte da terra em que moravam; sim, e em todas as suas aldeias e cidades.
  15 Portanto citamos todas as cidades dos lamanitas nas quais eles se arrependeram, vieram a conhecer a verdade e foram convertidos.
  16 E aconteceu então que o rei e os que foram convertidos desejavam adotar um nome pelo qual se distinguissem de seus irmãos; o rei portanto consultou Aarão e muitos de seus sacerdotes no tocante ao nome que deveriam escolher para distinguirem-se dos outros.
  17 E aconteceu que escolheram o nome de ânti-néfi-leítas; e foram chamados por esse nome e não mais foram chamados de lamanitas.
  18 E começaram a ser um povo muito industrioso; sim, e fizeram-se amigos dos nefitas; portanto estabeleceram relações com eles e a maldição de Deus não mais os acompanhou.

LIVRO DE ALMA
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CAPÍTULO 24
Os lamanitas avançam contra o povo de Deus—Os ânti-néfi-leítas regozijam-se em Cristo e são visitados por anjos—Eles preferem morrer a defenderem-se—Mais lamanitas são convertidos. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 E aconteceu que os amalequitas e os amulonitas e os lamanitas que estavam na terra de Amulon e também na terra de Helã; e os que estavam na terra de Jerusalém e, resumindo, em todas as terras circunvizinhas, que não se haviam convertido nem adotado o nome de Ânti-Néfi-Leí, foram instigados pelos amalequitas e pelos amulonitas a irarem-se contra seus irmãos.
  2 E seu ódio contra eles tornou-se muito intenso, a ponto de começarem a rebelar-se contra seu rei e a não mais quererem que ele fosse seu rei; portanto pegaram em armas contra o povo de Ânti-Néfi-Leí.
  3 Ora, o rei passou o reino a seu filho, a quem deu o nome de Ânti-Néfi-Leí.
  4 E morreu o rei no mesmo ano em que os lamanitas começaram os preparativos para guerrear o povo de Deus.
  5 Ora, quando Amon e seus irmãos e todos os que haviam vindo com ele viram os preparativos dos lamanitas para destruírem seus irmãos, dirigiram-se à terra de Midiã e lá Amon encontrou todos os seus irmãos; e de lá se dirigiram à terra de Ismael, para reunirem-se em conselho com Lamôni e também com seu irmão, Ânti-Néfi-Leí, a fim de decidirem o que deveriam fazer para defender-se dos lamanitas.
  6 Ora, não havia uma só alma, entre todo o povo que se convertera ao Senhor, que quisesse pegar em armas contra seus irmãos; não, não queriam nem mesmo fazer qualquer preparativo de guerra; sim, e também seu rei lhes ordenou que não o fizessem.
  7 Ora, estas são as palavras que ele disse ao povo sobre o assunto: Agradeço a meu Deus, meu amado povo, que o nosso grande Deus em sua bondade tenha mandado estes nossos irmãos, os nefitas, pregarem a nós e convencerem-nos a respeito das tradições de nossos iníquos pais.
  8 E eis que agradeço a meu grande Deus por ter-nos dado uma porção de seu amor, a fim de abrandar-nos o coração; assim, estabelecemos relações com estes irmãos, os nefitas.
  9 E eis que também agradeço a meu Deus que, por iniciarmos essas relações, nos tenhamos convencido de nossos pecados e dos muitos homicídios que temos cometido.
  10 E agradeço também a meu Deus, sim, meu grande Deus, por haver-nos permitido que nos arrependêssemos dessas coisas e também por haver-nos perdoado nossos inúmeros pecados e os assassinatos que temos cometido; e por ter-nos aliviado o coração da culpa, pelos méritos de seu Filho.
  11 E agora eis que, meus irmãos, visto que tudo o que pudemos fazer (pois éramos os mais perdidos de todos os homens) foi arrependermo-nos de todos os nossos pecados e dos muitos assassinatos que tínhamos cometido e conseguir que Deus os tirasse de nosso coração, porque isto foi tudo que pudemos fazer para arrependermo-nos o suficiente perante Deus, a fim de que ele nos tirasse nossa mancha.
  12 Ora, meus amados irmãos, já que Deus nos tirou nossas manchas e nossas espadas tornaram-se brilhantes, não as manchemos mais com o sangue de nossos irmãos.
  13 Eis que eu vos digo: Guardemos nossas espadas, para que não se manchem com o sangue de nossos irmãos; porque, se novamente as mancharmos, talvez não possam mais ser lavadas pelo sangue do Filho de nosso grande Deus, que será derramado para a expiação de nossos pecados.
  14 E o grande Deus teve misericórdia de nós e deu-nos a conhecer estas coisas, a fim de não perecermos; sim, deu-nos a conhecer de antemão essas coisas porque ama nossa alma, bem como ama nossos filhos; portanto, em sua misericórdia ele nos visita por meio de seus anjos, para que o plano de salvação nos seja divulgado, assim como às gerações futuras.
  15 Oh! Quão misericordioso é nosso Deus! E agora, desde que isso foi tudo o que pudemos fazer para que nossas manchas nos fossem tiradas e nossas espadas tornadas brilhantes, eis que vamos escondê-las, para que conservem seu brilho como testemunha a nosso Deus no último dia, ou seja, no dia em que formos levados a sua presença a fim de sermos julgados, de que não manchamos nossas espadas com o sangue de nossos irmãos, desde que ele nos fez ver sua palavra e por ela purificou-nos.
  16 E agora, meus irmãos, se nossos irmãos procurarem destruir-nos, eis que esconderemos nossas espadas, sim, enterrá-las-emos nas profundidades da terra, para que se conservem brilhantes, como testemunho, no último dia, de que nunca as usamos; e se nossos irmãos nos destruírem, eis que iremos para nosso Deus e seremos salvos.
  17 E então aconteceu que quando o rei acabou de dizer essas coisas, estando todo o povo reunido, tomaram as espadas e todas as armas que eram usadas para derramar sangue humano e enterraram-nas profundamente na terra.
  18 E isso fizeram porque, a seu ver, era como testemunha a Deus e também aos homens de que nunca mais usariam armas para derramar sangue humano; e assim fizeram, prometendo e fazendo convênio com Deus de que, antes de derramar o sangue de seus irmãos, sacrificariam a própria vida; de que, ao invés de tirar de um irmão, lhe dariam; de que, ao invés de passar os dias em ociosidade, trabalhariam muito com as próprias mãos.
  19 E assim vemos que quando esses lamanitas foram levados a conhecer a verdade e nela acreditar, mantiveram-se firmes e preferiam sofrer até a morte a pecar; e assim vemos que enterraram suas armas de paz, ou melhor, enterraram as armas de guerra em favor da paz.
  20 E aconteceu que seus irmãos, os lamanitas, fizeram preparativos para a guerra e subiram à terra de Néfi com o propósito de destruir o rei e substituí-lo por outro; e também de destruir o povo de Ânti-Néfi-Leí.
  21 Ora, quando o povo viu que os lamanitas vinham atacá-los, saíram-lhes ao encontro e prostraram-se por terra diante deles e começaram a invocar o nome do Senhor; e estavam nessa atitude quando os lamanitas começaram a atacá-los e a matá-los com a espada.
  22 E assim, sem encontrarem resistência alguma, mataram mil e cinco deles; e sabemos que eles são abençoados, porque foram morar com seu Deus.
  23 Ora, quando os lamanitas viram que seus irmãos não fugiam da espada nem se voltavam para a direita nem para a esquerda, mas que se deitavam e morriam e louvavam a Deus até mesmo no momento de serem abatidos pela espada.
  24 Ora, quando os lamanitas viram isso, abstiveram-se de matá-los; e muitos houve que se sentiram condoídos pelos seus irmãos que haviam caído pela espada, porque se arrependeram do que haviam feito.
  25 E aconteceu que arremessaram ao chão suas armas de guerra e não as quiseram mais pegar, porque estavam compungidos pelos assassinatos que haviam cometido; e ajoelharam-se, assim como seus irmãos, confiando na clemência dos que tinham os braços levantados para matá-los.
  26 E aconteceu que, naquele dia, ao povo de Deus juntaram-se mais do que os que haviam sido mortos; e os que foram mortos eram justos; não temos, portanto, razão para duvidar de que foram salvos.
  27 E não havia um homem iníquo entre os que foram mortos; mais de mil, porém, chegaram ao conhecimento da verdade; e assim vemos que o Senhor trabalha de vários modos para salvar seu povo.
  28 Ora, a maior parte dos lamanitas que mataram tantos de seus irmãos era composta de amalequitas e amulonitas, pertencendo em sua maioria à ordem dos neores.
  29 Ora, entre os que se juntaram ao povo do Senhor, nenhum havia que fosse amalequita nem amulonita nem que fosse da ordem de Neor, mas eram todos descendentes de Lamã e Lemuel.
  30 E assim podemos compreender claramente que, se depois de haver sido iluminado uma vez pela sabedoria de Deus e ter tido grande conhecimento das coisas referentes à retidão, um povo cai em pecado e transgressão, torna-se ainda mais endurecido e assim seu estado se torna pior do que se nunca tivesse conhecido essas coisas.

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CAPÍTULO 25
Aumentam as agressões lamanitas—A semente dos sacerdotes de Noé perece, conforme Abinádi profetizara—Muitos lamanitas são convertidos e juntam-se ao povo de Ânti-Néfi-Leí—Eles crêem em Cristo e guardam a lei de Moisés. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 E eis que então aconteceu que aqueles lamanitas ficaram mais zangados porque haviam matado seus irmãos; portanto juraram vingança contra os nefitas e não mais tentaram matar o povo de Ânti-Néfi-Leí naquela ocasião.
  2 Mas tomaram seus exércitos e atravessaram as fronteiras da terra de Zaraenla e atacaram o povo que estava na terra de Amonia e destruíram-no.
  3 E depois disso tiveram muitas batalhas contra os nefitas, nas quais foram rechaçados e mortos.
  4 E entre os lamanitas que foram mortos estava quase toda a descendência de Amulon e seus irmãos, que eram os sacerdotes de Noé; e foram mortos pelas mãos dos nefitas.
  5 E os remanescentes, tendo fugido para o deserto do leste e usurpado o poder e a autoridade dos lamanitas, fizeram com que muitos dos lamanitas perecessem pelo fogo, devido a sua crença.
  6 Porque muitos deles, depois de haverem sofrido grandes perdas e tantas aflições, começaram a lembrar-se das palavras que Aarão e seus irmãos lhes haviam pregado em sua terra; portanto começaram a descrer das tradições de seus pais e a acreditar no Senhor e em que ele dera grande poder aos nefitas; e assim muitos deles foram convertidos no deserto.
  7 E aconteceu que os governantes que eram remanescentes dos filhos de Amulon fizeram com que fossem mortos, sim, todos os que acreditavam nessas coisas.
  8 Ora, esse martírio provocou a ira de muitos de seus irmãos e começou a haver contendas no deserto; e os lamanitas começaram a perseguir os descendentes de Amulon e seus irmãos e começaram a matá-los; e eles fugiram para o deserto do leste.
  9 E eis que até hoje são perseguidos pelos lamanitas. Cumpriram-se, assim, as palavras de Abinádi a respeito dos descendentes dos sacerdotes que o haviam feito morrer pelo fogo.
  10 Porque ele lhes dissera: O que me fizerdes será um símbolo de coisas que irão acontecer.
  11 E Abinádi foi o primeiro a sofrer a morte pelo fogo, por causa de sua crença em Deus; ora, isto foi o que quis dizer: que muitos sofreriam morte pelo fogo, assim como ele sofrera.
  12 E ele dissera aos sacerdotes de Noé que seus descendentes fariam com que muitos fossem mortos do mesmo modo que ele; e que eles seriam dispersos e mortos, assim como uma ovelha que não tem pastor é perseguida e morta por animais ferozes; e agora, eis que essas palavras se cumpriram, porque eles foram rechaçados pelos lamanitas e foram perseguidos e foram mortos.
  13 E aconteceu que quando os lamanitas viram que não conseguiam sobrepujar os nefitas, voltaram para sua própria terra; e muitos deles foram morar na terra de Ismael e na terra de Néfi, unindo-se ao povo de Deus, que era o povo de Ânti-Néfi-Leí.
  14 E eles também enterraram suas armas de guerra, segundo haviam feito seus irmãos; e começaram a ser um povo justo; e trilharam os caminhos do Senhor e procuraram guardar seus mandamentos e seus estatutos.
  15 Sim, e guardaram a lei de Moisés; pois era necessário que ainda guardassem a lei de Moisés, porque não estava toda cumprida. Mas, não obstante a lei de Moisés, aguardavam ansiosamente a vinda de Cristo, considerando a lei mosaica um símbolo de sua vinda e acreditando que deviam praticar aquelas cerimônias exteriores até o tempo em que ele lhes fosse divulgado.
  16 Ora, eles não acreditavam que a salvação lhes viesse por meio da lei de Moisés; a lei de Moisés, porém, serviu para fortalecer-lhes a fé em Cristo; e assim, por meio da fé, mantinham a esperança da salvação eterna, confiando no espírito de profecia que falava dessas coisas futuras.
  17 E então eis que Amon e Aarão e Ômner e Hímni e seus irmãos se regozijaram imensamente pelo êxito obtido entre os lamanitas, vendo que o Senhor lhes havia concedido conforme as suas orações e que ele havia também cumprido sua palavra em cada pormenor.

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CAPÍTULO 26
Amon gloria-se no Senhor—Os fiéis são fortalecidos pelo Senhor e recebem conhecimento—Pela fé os homens podem trazer milhares de almas ao arrependimento—Deus tem todo o poder e compreende todas as coisas. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 Ora, estas são as palavras que Amon disse a seus irmãos: Meus irmãos e meus irmãos na fé, eis que vos digo que temos grandes razões para nos regozijarmos; porque poderíamos nós supor, quando partimos da terra de Zaraenla, que Deus nos concederia tão grandes bênçãos?
  2 E agora pergunto: Quais as grandes bênçãos que ele nos concedeu? Podeis dizer?
  3 Eis que respondo por vós; pois nossos irmãos, os lamanitas, estavam em trevas, sim, no mais tenebroso abismo; quantos deles, porém, foram levados a ver a maravilhosa luz de Deus! E esta é a bênção que nos foi concedida: que fomos transformados em instrumentos nas mãos de Deus, para realizar esta grande obra.
  4 Eis que milhares deles se regozijam e foram trazidos ao rebanho de Deus.
  5 Eis que o campo estava maduro e abençoados sois por haverdes usado a foice e segado com vigor; sim, haveis trabalhado o dia todo e eis o número de vossos feixes! E serão recolhidos aos celeiros, para que não sejam desperdiçados.
  6 Sim, não serão abatidos pela tempestade no último dia; sim, nem perturbados pelos furacões; mas quando vier a tempestade, serão reunidos em seu lugar para que a tempestade não os possa atingir; sim, nem serão impelidos pelos ventos fortes para onde o inimigo queira levá-los.
  7 Mas eis que estão nas mãos do Senhor da colheita e pertencem-lhe; e ele levantá-los-á no último dia.
  8 Bendito seja o nome de nosso Deus! Cantemos em seu louvor, sim, demos graças a seu santo nome, porque ele pratica a justiça eternamente!
  9 Pois se não tivéssemos saído da terra de Zaraenla, estes nossos irmãos muito amados, que tanto nos têm amado, achar-se-iam ainda atormentados pelo ódio que nos tinham, sim, e teriam sido também estranhos a Deus.
  10 E aconteceu que tendo Amon pronunciado essas palavras, seu irmão Aarão censurou-o, dizendo: Temo, Amon, que tua alegria te leve à vanglória.
  11 Amon, porém, disse-lhe: Não me vanglorio de minha própria força nem de minha própria sabedoria; mas eis que minha alegria é completa, sim, meu coração transborda de alegria e regozijar-me-ei em meu Deus.
  12 Sim, sei que nada sou; quanto a minha força, sou débil; portanto não me vangloriarei de mim mesmo, mas gloriar-me-ei em meu Deus, porque com sua força posso fazer todas as coisas; sim, eis que fizemos muitos milagres nesta terra, pelo que louvaremos o seu nome para sempre.
  13 Eis que quantos milhares de nossos irmãos ele livrou das penas do inferno! E eles foram levados a cantar o amor que redime e isto graças ao poder de sua palavra que está em nós; não temos, portanto, motivo para regozijar-nos?
  14 Sim, temos motivos para louvá-lo para sempre, porque ele é o Deus Altíssimo e livrou nossos irmãos dos grilhões do inferno.
  15 Sim, estavam envolvidos por trevas eternas e destruição, mas eis que ele os trouxe a sua luz eterna, sim, à salvação eterna; e estão envolvidos pela incomparável generosidade de seu amor; sim, e fomos instrumentos em suas mãos para realizar esta grande e maravilhosa obra.
  16 Gloriemo-nos, portanto, sim, gloriar-nos-emos no Senhor; sim, rejubilar-nos-emos, pois nossa alegria é completa; sim, louvaremos nosso Deus para sempre. Quem poderá gloriar-se demasiadamente no Senhor? Sim, quem poderá falar em demasia de seu grande poder e de sua misericórdia e de sua longanimidade para com os filhos dos homens? Eis que vos digo que não posso expressar nem a mínima parte do que sinto.
  17 Quem havia de supor que nosso Deus seria tão misericordioso a ponto de resgatar-nos de nosso estado terrível, pecador e corrompido?
  18 Eis que saímos com ira e muitas ameaças para destruir a sua igreja.
  19 Oh! Então por que não nos entregou a uma terrível destruição? Sim, por que não deixou que a espada de sua justiça caísse sobre nós e nos condenasse ao desespero eterno?
  20 Oh! A minha alma quase se esvaece a este pensamento. Eis que ele não exerceu sua justiça sobre nós, mas em sua grande misericórdia fez-nos saltar esse sempiterno abismo da morte e miséria, para a salvação de nossa alma.
  21 E agora, meus irmãos, que homem natural existe que conheça essas coisas? Digo-vos que não existe quem conheça essas coisas, a não ser o penitente.
  22 Sim, aquele que se arrepende e exercita a e faz boas obras e ora continuamente sem cessar, a esse é permitido conhecer os mistérios de Deus; sim, a esse será permitido levar milhares de almas ao arrependimento, assim como a nós nos foi permitido levar estes nossos irmãos ao arrependimento.
  23 E agora vos lembrais, meus irmãos, de que dissemos aos nossos irmãos na terra de Zaraenla que subiríamos à terra de Néfi, a fim de pregar a nossos irmãos, os lamanitas, e eles com desprezo zombaram de nós?
  24 Pois disseram-nos: Supondes que podeis levar os lamanitas a conhecerem a verdade? Supondes que podereis convencer os lamanitas da incorreção das tradições de seus pais, quando são um povo obstinado, cujo coração se deleita no derramamento de sangue, cujos dias foram passados na mais vil iniquidade, cujas sendas têm sido as sendas do transgressor desde o início? Agora, lembrai-vos, meus irmãos, de que foi deste modo que falaram.
  25 E disseram mais: Peguemos em armas contra eles para exterminá-los da terra juntamente com suas iniquidades, para que não nos invadam e exterminem.
  26 Eis, porém, meus amados irmãos, que não viemos ao deserto com o propósito de destruir nossos irmãos, mas com o propósito de talvez salvar a alma de alguns deles.
  27 Ora, quando nosso coração se achava deprimido e estávamos para voltar, eis que o Senhor nos confortou e disse: Ide para o meio de vossos irmãos, os lamanitas, e suportai com paciência vossas aflições; e eu farei com que tenhais êxito.
  28 E agora, eis que viemos e permanecemos entre eles; e temos sido pacientes em nossos sofrimentos e padecido toda sorte de privações; sim, viajamos de casa em casa, contando com a misericórdia do mundo; não somente com a misericórdia do mundo, mas com a misericórdia de Deus.
  29 E entramos em suas casas e ensinamo-los; e ensinamo-los nas ruas; sim, e ensinamo-los sobre os montes; e também entramos em seus templos e suas sinagogas e ensinamo-los; e fomos rechaçados e escarnecidos e cuspidos e esbofeteados; e fomos apedrejados e amarrados com fortes cordas e lançados na prisão; e pelo poder e sabedoria de Deus, fomos novamente postos em liberdade.
  30 E padecemos toda espécie de sofrimentos; e tudo isso para que talvez pudéssemos ser o instrumento da salvação de alguma alma; e supúnhamos que nossa alegria seria completa, se porventura conseguíssemos ser instrumento da salvação de alguns.
  31 Agora, eis que podemos olhar e ver os frutos de nosso trabalho; e são eles poucos? Eu vos digo: Não, são muitos; sim, e podemos testemunhar a sinceridade deles por causa de seu amor a seus irmãos e também a nós.
  32 Pois eis que preferiram sacrificar a própria vida a tirar a vida de seus inimigos; e enterraram suas armas de guerra profundamente no solo, por causa de seu amor aos irmãos.
  33 E agora, eis que vos digo: Houve já tão grande amor em toda a terra? Eis que vos digo: Não, não houve, nem mesmo entre os nefitas.
  34 Porque eis que pegariam em armas contra seus irmãos; não se deixariam matar. Quantos destes, porém, sacrificaram a vida! E sabemos que foram ter com Deus por causa de seu amor e de seu ódio ao pecado.
  35 Ora, não temos razão para regozijar-nos? Sim, eu vos digo que, desde o começo do mundo, nunca existiu alguém que tivesse tão grandes razões para regozijar-se, como nós; sim, e minha alegria transborda, a ponto de gloriar-me em meu Deus; porque ele tem todo o poder, toda a sabedoria e todo o entendimento; ele compreende todas as coisas e é um Ser misericordioso, que salva aqueles que se arrependem e acreditam em seu nome.
  36 Ora, se isso é vangloriar-se, eu então me vanglorio; porque isso é minha vida e minha luz, meu júbilo, minha salvação e minha redenção da eterna angústia. Sim, bendito é o nome de meu Deus que se lembrou deste povo, que é um ramo da árvore de Israel e que se havia perdido de seu tronco numa terra estranha; sim, digo eu, bendito seja o nome de meu Deus que se lembrou de nós, peregrinos numa terra estranha.
  37 Agora, meus irmãos, vemos que Deus se lembra de todos os povos, estejam na terra em que estiverem; sim, ele conta o seu povo e suas entranhas de misericórdia cobrem toda a Terra. Ora, esta é minha alegria e minha grande gratidão; sim, darei graças a meu Deus para sempre. Amém.

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CAPÍTULO 27
O Senhor manda Amon levar o povo de Ânti-Néfi-Leí a um lugar seguro—Ao encontrar Alma, a alegria de Amon exaure-lhe as forças—Os nefitas dão aos ânti-néfi-leítas a terra de Jérson —Eles são chamados povo de Amon. Aproximadamente 90–77 a.C.

  1 Ora, aconteceu que quando os lamanitas que haviam ido guerrear os nefitas descobriram, depois de haverem empregado muitos esforços para destruí-los, que era inútil procurar destruí-los, retornaram à terra de Néfi.
  2 E aconteceu que os amalequitas, devido a suas perdas, ficaram muito irados. E quando viram que não conseguiam vingar-se dos nefitas, começaram a incitar o povo contra seus irmãos, o povo de Ânti-Néfi-Leí; portanto começaram novamente a destruí-los.
  3 Ora, este povo outra vez se recusou a pegar em armas e deixou-se matar, segundo o desejo dos seus inimigos.
  4 Ora, quando Amon e seus irmãos viram essa obra de destruição dos que eles tanto amavam e daqueles que tanto os haviam amado; portanto, quando Amon e seus irmãos viram essa grande obra de destruição, foram tomados de compaixão e disseram ao rei:
  5 Reunamos este povo do Senhor e desçamos à terra de Zaraenla, onde estão nossos irmãos, os nefitas, e fujamos das mãos de nossos inimigos a fim de não sermos destruídos.
  6 Mas disse-lhes o rei: Eis que os nefitas nos destruirão, por causa dos muitos assassinatos e pecados que contra eles cometemos.
  7 E Amon disse: Irei e consultarei o Senhor; e se ele nos disser que desçamos até nossos irmãos, ireis?
  8 E disse-lhe o rei: Sim, se o Senhor nos disser que devemos ir, desceremos até nossos irmãos e seremos seus escravos até repararmos os muitos homicídios e pecados que cometemos contra eles.
  9 Mas Amon disse-lhe: É contra a lei de nossos irmãos, que foi estabelecida por meu pai, que haja escravos entre eles; desçamos, portanto, e confiemos na misericórdia de nossos irmãos.
  10 Disse-lhe, porém, o rei: Perguntai ao Senhor e, se ele disser que devemos ir, iremos; do contrário, pereceremos na terra.
  11 E aconteceu que Amon foi e perguntou ao Senhor; e o Senhor disse-lhe:
  12 Tira este povo desta terra, para que não pereça; porque Satanás tem grande poder sobre o coração dos amalequitas, que incitam os lamanitas à ira contra seus irmãos para matá-los. Sai, portanto, desta terra; e abençoado é este povo nesta geração, porque o preservarei.
  13 E então aconteceu que Amon foi e contou ao rei tudo o que o Senhor lhe dissera.
  14 E reuniram todo o seu povo, sim, todo o povo do Senhor, e reuniram todos os seus rebanhos e manadas e partiram da terra, entrando no deserto que dividia a terra de Néfi da terra de Zaraenla; e chegaram perto das fronteiras da terra.
  15 E aconteceu que Amon lhes disse: Eis que eu e meus irmãos iremos à terra de Zaraenla e vós permanecereis aqui até voltarmos; e sondaremos o coração de nossos irmãos, para vermos se desejam que entreis em sua terra.
  16 E aconteceu que quando Amon se dirigia àquela terra, ele e seus irmãos encontraram Alma no lugar já mencionado; e eis que foi um encontro muito alegre.
  17 Ora, a alegria de Amon foi tão grande que transbordou; sim, ele ficou tão enlevado na alegria de seu Deus, que se lhe exauriram as forças e caiu por terra novamente.
  18 Ora, não foi isso alegria extrema? Eis que essa é a alegria que ninguém recebe, senão o verdadeiro penitente e o que humildemente busca a felicidade.
  19 Ora, a alegria de Alma por ter encontrado seus irmãos foi realmente grande, como também a alegria de Aarão, de Ômner e Hímni; mas eis que sua alegria não chegou ao ponto de superar-lhes as forças.
  20 E então aconteceu que Alma conduziu seus irmãos de volta à terra de Zaraenla, para sua própria casa. E foram contar ao juiz supremo tudo o que lhes havia acontecido na terra de Néfi entre seus irmãos, os lamanitas.
  21 E aconteceu que o juiz supremo enviou uma proclamação por toda a terra, desejando saber a voz do povo sobre a entrada de seus irmãos, que eram o povo de Ânti-Néfi-Leí.
  22 E aconteceu que a voz do povo se manifestou, dizendo: Eis que cederemos a terra de Jérson, que fica a leste, perto do mar, e que confina com a terra de Abundância e fica ao sul da terra de Abundância; e essa terra de Jérson é a terra que daremos a nossos irmãos por herança.
  23 E eis que localizaremos nossos exércitos entre a terra de Jérson e a terra de Néfi, a fim de protegermos nossos irmãos na terra de Jérson; e isso fazemos por nossos irmãos por causa de seu temor de empunhar armas contra seus irmãos, para que não aconteça que cometam pecado; e este grande temor resultou do profundo arrependimento que sentiam por causa de seus inúmeros homicídios e de sua terrível iniquidade.
  24 E agora, eis que faremos isso por nossos irmãos, para que possam herdar a terra de Jérson; e protegê-los-emos de seus inimigos com nossos exércitos, com a condição de nos entregarem uma parte de seus bens, auxiliando-nos a manter nossos exércitos.
  25 Ora, aconteceu que Amon, quando ouviu isso, voltou, acompanhado de Alma, ao deserto onde havia acampado o povo de Ânti-Néfi-Leí; e informou-os de todas essas coisas. E Alma também lhes relatou a sua conversão, com Amon e Aarão e seus irmãos.
  26 E aconteceu que isso foi motivo de grande alegria para eles. E desceram à terra de Jérson e tomaram posse da terra de Jérson e foram chamados, pelos nefitas, povo de Amon; portanto, por esse nome distinguiram-se dos outros para sempre.
  27 E eles estavam com o povo de Néfi e foram também contados com o povo que era da igreja de Deus. E também se distinguiram por seu zelo para com Deus, assim como para com os homens, porque eram perfeitamente honestos e justos em todas as coisas; e conservaram-se firmes na sua fé em Cristo até o fim.
  28 E consideravam com grande horror o derramamento do sangue de seus irmãos; e nunca mais puderam ser persuadidos a pegar em armas contra seus irmãos; e nunca consideraram a morte com qualquer grau de terror, graças a sua esperança e compreensão de Cristo e da ressurreição; portanto, para eles a morte foi tragada pela vitória de Cristo sobre ela.
  29 Portanto preferiam a mais terrível e afrontosa morte que seus irmãos pudessem infligir-lhes, a levantar sua espada ou cimitarra para feri-los.
  30 E assim eram um povo zeloso e amado, um povo altamente favorecido pelo Senhor.

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CAPÍTULO 28
Os lamanitas são derrotados numa tremenda batalha—Dezenas de milhares são mortos—Os iníquos são condenados a um estado de miséria interminável; os justos obtêm uma felicidade sem fim. Aproximadamente 77–76 a.C.

  1 E então aconteceu que depois que o povo de Amon se estabeleceu na terra de Jérson e uma igreja foi também organizada na terra de Jérson e os exércitos dos nefitas foram colocados em vários lugares da terra de Jérson, sim, em todas as fronteiras da terra de Zaraenla; eis que os exércitos dos lamanitas haviam seguido seus irmãos ao deserto.
  2 E assim houve uma tremenda batalha; sim, uma batalha como ainda não se tinha visto entre todo o povo daquela terra, desde o tempo em que Leí havia deixado Jerusalém; sim, e dezenas de milhares de lamanitas foram mortos e dispersos.
  3 Sim, e também houve uma terrível matança entre o povo de Néfi; não obstante, os lamanitas foram rechaçados e dispersos e o povo de Néfi retornou a sua terra.
  4 E eis que esse foi um tempo em que se ouviu grande pranto e lamentações entre todo o povo de Néfi em toda a terra.
  5 Sim, o clamor de viúvas chorando pelos maridos e também de pais chorando pelos filhos e da filha pelo irmão, sim, do irmão pelo pai; e assim o grito de lamentação foi ouvido entre todos eles, lamentando a perda de seus parentes que haviam sido mortos.
  6 E seguramente esse foi um dia tristíssimo; sim, um tempo de sobriedade e um tempo de muito jejum e oração.
  7 E assim terminou o décimo quinto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi.
  8 E este é o relato de Amon e seus irmãos, de suas viagens na terra de Néfi, seus sofrimentos na terra, suas dores e suas aflições e sua incomensurável alegria; e a acolhida e segurança dos irmãos na terra de Jérson. E agora possa o Senhor, o Redentor de todos os homens, abençoar-lhes a alma para sempre.
  9 E este é o relato das guerras e contendas entre os nefitas e também das guerras entre nefitas e lamanitas; e terminou o décimo quinto ano do governo dos juízes.
  10 E do primeiro ao décimo quinto ano houve a destruição de muitos milhares de vidas; sim, houve um terrível derramamento de sangue.
  11 E os corpos de muitos milhares jazem debaixo da terra, enquanto outros milhares se estão putrefazendo, amontoados sobre a face da Terra; sim, e muitos milhares choram a perda de seus parentes, porque têm motivos para temer que estejam condenados a um estado de miséria sem fim, segundo as promessas do Senhor.
  12 Enquanto muitos milhares de outros, ainda que chorem sinceramente a perda de seus parentes, alegram-se e exultam na esperança e até sabem, segundo as promessas do Senhor, que eles serão elevados para habitar à mão direita de Deus, num estado de felicidade sem fim.
  13 Vemos, assim, quão grande é a desigualdade entre os homens por causa do pecado e da transgressão e do poder do diabo, que provém dos astutos planos por ele engendrados para enredar o coração dos homens.
  14 E assim vemos a grande necessidade que o homem tem de trabalhar com diligência nas vinhas do Senhor; e assim vemos a grande causa da tristeza, como também da alegria; tristeza devido à morte e destruição dos homens; e alegria por causa da luz vivificante de Cristo.

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CAPÍTULO 29
Alma deseja proclamar arrependimento com zelo angélico—O Senhor concede mestres a todas as nações—Alma gloria-se na obra do Senhor e no sucesso de Amon e seus irmãos. Aproximadamente 76 a.C.

  1 Oh! eu quisera ser um anjo e poder realizar o desejo de meu coração de ir e falar com a trombeta de Deus a anunciar o evangelho simples do amor, e iria com uma voz que estremecesse a terra, a proclamar amor a Deus e ao próximo, e arrependimento a todos os povos!
  2 Sim, declararia a todas as almas, com voz como a do trovão, o arrependimento e o plano de redenção, para que se arrependessem e viessem ao nosso Deus, a fim de não haver mais tristeza em toda a face da Terra.
  3 Mas eis que sou um homem e peco em meu desejo; porque deveria contentar-me com as coisas que o Senhor me concedeu.
  4 Não deveria perturbar com os meus desejos o firme decreto de um Deus justo, porque sei que ele concede aos homens segundo os seus desejos, sejam estes para a morte ou para a vida; sim, sei que ele concede aos homens, sim, dá-lhes decretos inalteráveis segundo seus desejos, sejam eles para salvação ou para destruição.
  5 Sim, e que o bem e o mal se apresentam a todos os homens; e aquele que não distingue o bem do mal não é culpado, mas aquele que distingue o bem do mal, a ele será dado segundo seus desejos, deseje ele o bem ou o mal, a vida ou a morte, a alegria ou o remorso de consciência.
  6 Ora, uma vez que sei estas coisas, por que desejaria executar mais do que o trabalho para o qual fui chamado?
  7 Por que desejaria eu ser um anjo, para poder falar a todos os confins da Terra?
  8 Porque eis que o Senhor concede a todas as nações que ensinem a sua palavra em sua própria nação e língua, sim, em sabedoria, tudo o que ele acha que devem receber; vemos, portanto, que o Senhor aconselha com sabedoria, segundo o que é justo.
  9 Sei o que o Senhor me ordenou e nisso me glorio. Não me glorio de mim mesmo, mas glorio-me naquilo que o Senhor me ordenou; sim, e esta é a minha glória, que talvez possa ser um instrumento nas mãos de Deus para trazer alguma alma ao arrependimento; e esta é a minha alegria.
  10 E eis que quando vejo muitos de meus irmãos verdadeiramente penitentes e vindo ao Senhor seu Deus, minha alma enche-se de alegria; lembro-me então do que o Senhor fez por mim, sim, ouviu minha oração; sim, então me lembro de seu misericordioso braço, que se estendeu para mim.
  11 Sim, e lembro-me também do cativeiro de meus pais; porque sei seguramente que o Senhor os livrou do cativeiro e assim estabeleceu a sua igreja; sim, o Senhor Deus, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó livrou-os do cativeiro.
  12 Sim, lembro-me sempre do cativeiro de meus pais; e o mesmo Deus que os livrou das mãos dos egípcios livrou-os do cativeiro.
  13 Sim, e aquele mesmo Deus estabeleceu sua igreja entre eles; sim, e aquele mesmo Deus chamou-me com um chamado para pregar a palavra a este povo; e permitiu que eu alcançasse grande êxito, com o que muito me regozijo.
  14 Mas não me regozijo somente com o meu sucesso, porém minha alegria é maior por causa do sucesso de meus irmãos que subiram à terra de Néfi.
  15 Eis que trabalharam muito e colheram muitos frutos; e quão grande será a sua recompensa!
  16 Ora, quando penso no êxito desses meus irmãos, minha alma enleva-se tanto que parece separar-se do corpo, tão grande é minha alegria.
  17 E agora possa Deus conceder a esses meus irmãos que se assentem no reino de Deus; sim, e também todos os que são os frutos de seus trabalhos, para que não saiam mais e louvem-no para sempre. E conceda Deus que aconteça segundo minhas palavras, de acordo com o que disse. Amém.

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CAPÍTULO 30
Corior, o anticristo, ridiculariza Cristo, a expiação e o espírito de profecia—Ele ensina que não existe Deus nem queda do homem nem penalidade para o pecado nem Cristo—Alma testifica que Cristo virá e que todas as coisas indicam que existe um Deus—Corior exige um sinal e fica mudo—O diabo havia aparecido a Corior como um anjo e ensinara-lhe o que dizer—Corior é pisado e morre. Aproximadamente 76–74 a.C.

  1 Eis então que aconteceu que após o povo de Amon se estabelecer na terra de Jérson, sim, e também depois que os lamanitas foram expulsos da terra e seus mortos enterrados pelo povo da terra.
  2 Ora, seus mortos não foram contados, devido ao grande número deles; nem foram contados os mortos dos nefitas, mas aconteceu que depois de haverem enterrado seus mortos e também depois de alguns dias de jejum e pranto e oração (e foi durante o décimo sexto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi), começou a haver paz contínua em toda a terra.
  3 Sim, e o povo empenhava-se em guardar os mandamentos do Senhor; e observavam estritamente as ordenanças de Deus, segundo a lei de Moisés, porque haviam sido ensinados a guardar a lei de Moisés, até que fosse cumprida.
  4 E assim não houve distúrbios entre o povo durante todo o décimo sexto ano em que os juízes governaram o povo de Néfi.
  5 E aconteceu que no princípio do décimo sétimo ano do governo dos juízes houve paz contínua.
  6 Aconteceu, porém, que no final do décimo sétimo ano apareceu um homem na terra de Zaraenla; e ele era um anticristo, pois começou a pregar ao povo contra as profecias que haviam sido proferidas pelos profetas, relativas à vinda de Cristo.
  7 Ora, não havia lei alguma contra a crença de um homem, porque era expressamente contrário aos mandamentos de Deus que se decretasse uma lei que deixasse os homens em desigualdade de condições.
  8 Pois assim dizem as escrituras: Escolhei hoje a quem servireis.
  9 Ora, se um homem desejasse servir a Deus, era seu privilégio, ou melhor, se ele acreditasse em Deus, era seu privilégio servi-lo; se nele não acreditasse, porém, não havia lei que o punisse.
  10 Se cometesse um assassínio, entretanto, era castigado com a morte; e se roubasse, também era castigado; e se furtasse, também era castigado; e se cometesse adultério, também era castigado; sim, por todas essas iniquidades eles eram punidos.
  11 Porque havia uma lei que os homens deveriam ser julgados segundo seus crimes. Não obstante, nenhuma lei havia contra a crença de um homem; portanto o homem somente era castigado pelos crimes que cometia; portanto todos se achavam em igualdade de condições.
  12 E esse anticristo, cujo nome era Corior (sobre quem a lei não tinha poder algum), começou a pregar ao povo que nenhum Cristo haveria; e pregava da seguinte maneira, dizendo:
  13 Ó vós, que estais presos a uma louca e vã esperança, por que vos submeteis a semelhantes loucuras? Por que esperais por um Cristo? Porque nenhum homem pode saber de qualquer coisa que esteja por acontecer.
  14 Eis que essas coisas a que chamais profecias, que dizeis haverem sido transmitidas por profetas, eis que não passam de tradições tolas de vossos pais.
  15 Como podeis ter certeza delas? Eis que não podeis saber de coisas que não vedes; não podeis, portanto, saber que haverá um Cristo.
  16 Olhais adiante e dizeis que vedes a remissão de vossos pecados. Mas eis que isso é efeito de uma mente desvairada; e esse transtorno de vossa mente é resultado das tradições de vossos pais, que vos induzem a acreditar em coisas que não são verdadeiras.
  17 E disse-lhes muitas outras coisas semelhantes, afirmando-lhes que não poderia haver expiação para os pecados dos homens, mas que o quinhão de cada um nesta vida dependia de sua conduta; portanto cada homem prosperava segundo sua aptidão e cada homem conquistava segundo sua força; e nada que o homem fizesse seria crime.
  18 E assim lhes pregava, desviando o coração de muitos, fazendo com que levantassem a cabeça em sua iniquidade; sim, induzindo muitas mulheres e também homens a cometerem devassidão, dizendo-lhes que quando o homem morria, tudo se acabava.
  19 Ora, esse homem também foi à terra de Jérson a fim de pregar essas coisas no meio do povo de Amon, que antes havia sido o povo dos lamanitas.
  20 Mas eis que eles eram mais prudentes que muitos dos nefitas, porque o prenderam e amarraram-no e levaram-no à presença de Amon, que era sumo sacerdote daquele povo.
  21 E aconteceu que ele fez com que o levassem para fora da terra. E ele foi para a terra de Gideão e começou também a pregar-lhes; e não obteve muito sucesso, pois foi preso e amarrado e levado à presença do sumo sacerdote e também do juiz supremo da terra.
  22 E aconteceu que o sumo sacerdote lhe disse: Por que andas pervertendo os caminhos do Senhor? Por que ensinas a este povo que não haverá Cristo e interrompes seu regozijo? Por que falas contra todas as profecias dos profetas?
  23 Ora, o nome desse sumo sacerdote era Gidona. E Corior respondeu-lhe: Porque eu não ensino as tolas tradições de vossos pais e porque não ensino este povo a submeter-se às tolas ordenanças e cerimônias impostas por sacerdotes antigos para usurparem o poder e exercerem autoridade sobre eles, a fim de conservá-los em ignorância, para que não levantem a cabeça mas submetam-se a vossas palavras.
  24 Dizeis que este povo é um povo livre. Eis que eu digo que estão no cativeiro. Dizeis que essas antigas profecias são verdadeiras. Eis que vos digo que não sabeis se são verdadeiras.
  25 Dizeis que este povo é culpado e decaído, por causa da transgressão de um pai. Eis que digo que um filho não é culpado por causa de seus pais.
  26 E dizeis também que Cristo virá. Mas eis que vos digo que não sabeis se haverá um Cristo. E dizeis também que ele será morto pelos pecados do mundo.
  27 E assim induzis este povo a acreditar nas tolas tradições de vossos pais e segundo vossos próprios desejos, conservando-os submissos, como se estivessem no cativeiro, para assim vos saciardes com o trabalho de suas mãos, de modo que não se atrevem a levantar a vista destemidamente nem a usufruir seus direitos e privilégios.
  28 Sim, não se atrevem a fazer uso do que lhes pertence, a fim de não ofenderem seus sacerdotes que os subjugam segundo seus desejos e fizeram-nos acreditar, pelas suas tradições e seus sonhos e seus caprichos e suas visões e seus pretensos mistérios que, se não procederem de acordo com suas palavras, ofenderão algum ser desconhecido que dizem ser Deus, um ser que nunca foi visto nem conhecido, que nunca existiu nem existirá.
  29 Ora, quando o sumo sacerdote e o juiz supremo viram a dureza de seu coração, sim, quando viram que ele insultaria até mesmo Deus, não quiseram responder a suas palavras, mas mandaram amarrá-lo; e entregaram-no nas mãos dos oficiais e enviaram-no à terra de Zaraenla, para ser levado à presença de Alma e do juiz supremo, que era governador de toda a terra.
  30 E aconteceu que quando foi levado à presença de Alma e do juiz supremo, ele continuou a portar-se do mesmo modo que na terra de Gideão; sim, continuou a blasfemar.
  31 E falou, usando palavras cada vez mais exaltadas diante de Alma; e insultou os sacerdotes e mestres, acusando-os de desviarem o povo, segundo as tolas tradições de seus pais, para saciarem-se com o trabalho do povo.
  32 Disse-lhe então Alma: Tu sabes que não nos saciamos com o trabalho deste povo; porque eis que tenho trabalhado desde o começo do governo dos juízes até agora com minhas próprias mãos para o meu sustento, apesar de minhas inúmeras viagens por toda a terra, a fim de pregar a palavra de Deus a meu povo.
  33 E não obstante os muitos trabalhos que fiz na igreja, nunca recebi um senine que fosse por meu trabalho; nem tampouco qualquer de meus irmãos, a não ser na cadeira de juiz; e então recebemos apenas o estipulado por lei pelo nosso tempo.
  34 E agora, se nada recebemos pelos nossos trabalhos na igreja, que proveito temos em trabalhar na igreja, a não ser divulgar a verdade, a fim de nos regozijarmos com a alegria de nossos irmãos?
  35 Por que dizes tu, então, que pregamos a este povo para obter lucro, quando tu próprio sabes que nada recebemos? E agora, acreditas que é porque enganamos este povo que há tanta alegria em seu coração?
  36 E Corior respondeu-lhe: Sim.
  37 Perguntou-lhe então Alma: Acreditas que exista um Deus?
  38 E ele respondeu: Não.
  39 Disse-lhe então Alma: Negarás outra vez que exista um Deus e negarás também o Cristo? Pois eis que te digo que sei que existe um Deus e também que o Cristo virá.
  40 E agora, que provas tens de que Deus não existe ou de que o Cristo não virá? Afirmo-te que nenhuma tens, a não ser a tua própria palavra.
  41 Eis, porém, que tenho todas as coisas como testemunho de que estas coisas são verdadeiras; e tu também tens todas as coisas como testemunho de que são verdadeiras; e irás negá-las? Acreditas que essas coisas sejam verdadeiras?
  42 Eis que eu sei que tu acreditas, mas estás possuído por um espírito mentiroso e afastaste o amor de Deus, de maneira que não tem lugar em ti; mas o diabo tem poder sobre ti e te conduz, inventando subterfúgios para destruir os filhos de Deus.
  43 E então disse Corior a Alma: Se me mostrares um sinal que me convença de que existe um Deus, sim, se me mostrares que ele tem poder, eu então me convencerei da veracidade de tuas palavras.
  44 Mas disse-lhe Alma: Tu já tiveste muitos sinais; queres ainda tentar a teu Deus? Queres ainda que te mostre um sinal, quando tens o testemunho de todos estes irmãos, assim como o dos profetas? As escrituras estão diante de ti, sim, e todas as coisas mostram que existe um Deus; sim, até mesmo a Terra e tudo que existe sobre a sua face, sim, e seu movimento, sim, e também todos os planetas que se movem em sua ordem regular testemunham que existe um Criador Supremo.
  45 E, contudo, andas desviando o coração deste povo, testificando-lhe que Deus não existe? E queres ainda negar todos estes factos? E ele disse: Sim, eu negarei, a menos que tu me mostres um sinal.
  46 E aconteceu que Alma lhe disse: Eis que estou aflito pela dureza de teu coração; sim, por ainda resistires ao espírito da verdade, o que poderá destruir-te a alma.
  47 Mas eis que é melhor perderes tua alma do que seres o instrumento da destruição de muitas almas, por tuas mentiras e por tuas palavras lisonjeiras; portanto, se negares novamente, eis que Deus te ferirá, de modo que ficarás mudo, para que nunca mais abras a boca nem enganes este povo.
  48 Disse-lhe então Corior: Não nego a existência de um Deus, mas não acredito que exista um Deus; e digo também que não sabes que existe um Deus e, a menos que me mostres um sinal, não acreditarei.
  49 Disse-lhe então Alma: Isto te darei por sinal: tu ficarás mudo, de acordo com minhas palavras; e afirmo que em nome de Deus ficarás mudo, de modo que não mais falarás.
  50 Ora, quando Alma pronunciou estas palavras, Corior ficou mudo, não podendo mais falar, conforme as palavras de Alma.
  51 E então, quando viu isso, o juiz supremo estendeu a mão e escreveu a Corior: Estás convencido do poder de Deus? Em quem desejavas que Alma mostrasse seu sinal? Quiseras que tivesse afligido a outros para dar-te um sinal? Eis que ele te deu um sinal; e agora continuarás a duvidar?
  52 E Corior, estendendo a mão, escreveu: Sei que estou mudo, porque não posso falar; e sei que nada, a não ser o poder de Deus, poderia fazer-me isto; sim, e eu sempre soube que existia um Deus.
  53 Mas eis que o diabo me enganou, porque me fez entender que o povo estava enganado, e disse-me: Vai e regenera este povo, porque todos se perderam, seguindo um Deus que faz acepção de pessoas, e destingue-os de suas cores; sim, e ensinou-me o que eu deveria dizer. E eu ensinei as suas palavras; e ensinei-as porque eram agradáveis ao coração e à mente carnal; e ensinei-as até obter muito êxito, tanto assim que eu realmente acreditei que eram verdadeiras; e por essa razão opus-me à verdade, até trazer sobre mim esta grande maldição.
  54 Ora, tendo dito isso, suplicou a Alma que orasse a Deus, pedindo que a maldição lhe fosse tirada.
  55 Alma, porém, disse-lhe: Se esta maldição te fosse tirada, tu novamente perverterias o coração deste povo; portanto, faça-se contigo de acordo com a vontade do Senhor.
  56 E aconteceu que a maldição não foi tirada de Corior; mas ele foi expulso e ia de casa em casa, mendigando alimento.
  57 Ora, a notícia do que havia sucedido a Corior foi imediatamente anunciada em toda a terra; sim, o juiz supremo enviou uma proclamação a todo o povo da terra, declarando aos que haviam acreditado nas palavras de Corior que deveriam arrepender-se rapidamente, para que o mesmo castigo não lhes sobreviesse.
  58 E aconteceu que todos se convenceram da iniquidade de Corior; portanto todos se converteram novamente ao Senhor e isso pôs fim à iniquidade pregada por Corior. E Corior ia de casa em casa mendigando comida para seu sustento.
  59 E aconteceu que, ao andar no meio do povo, sim, um povo que se havia separado dos nefitas e tomado o nome de zoramitas, sendo guiados por um homem cujo nome era Zorã; e ao andar no meio deles, eis que foi atropelado e pisoteado até a morte.
  60 E assim vemos o fim daquele que perverte os caminhos do Senhor; e assim vemos também que o diabo não amparará seus filhos no último dia, mas arrasta-os rapidamente para o inferno.

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